quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

SE MADURO SEGUISSE O CONSELHO DE MUJICA, EVITARIA O PIOR: A VOLTA DO INTERVENCIONISMO DO 1º MUNDO.

Toque do editor
Há internautas de esquerda que preferem ler apenas textos que reiteram e reforçam suas convicções; ou seja, pessoas em busca de espelhos e não de aprofundar seu conhecimento daquilo  que está ocorrendo.

Este blog sempre seguiu outra linha, a de publicar escritos que tragam informações novas, para que seus leitores possam, eles mesmos, refletir e chegar às suas conclusões.

É o caso do artigo abaixo, do cientista político Ian Bremmer, colunista da revista Time. Ele tem um óbvio viés anti-Maduro, mas seria primarismo rejeitá-lo in totum, enfiando a cabeça na areia como avestruz.

Temos, p. ex., de olhar com muita atenção essa frente de nações poderosas que se formou sob a batuta de Trump para defenestrar Maduro. Será que, no caso de um presidente menos detestado, a coisa iria pelo mesmo caminho? Ou foi algo excepcional, por tratar-se de um dos governos mais malvistos do planeta?

Recomendo que também leiam atentamente o que Brenner escreve sobre Marco Rubio, tendo em mente o pacote no qual tal senador estaria pretendendo enfiar o Brasil, segundo este artigo aqui publicado três dias atrás.

O mundo está mudando e, se continuarmos sendo tão lerdos para captar as mudanças, ficaremos cada vez mais para trás. 

Então, deixemos de lado os preconceitos e vamos priorizar o que nos ajuda a interpretar as novidades, ao invés de perdermos tempo com aquele mais do mesmo habitual nos espaços da esquerda populista-eleitoreira (muitas vezes apenas tentativas retóricas de se justificarem erros crassos cometidos em passado recente).

As lutas que realmente importam são sempre as que travaremos adiante. E, para quem vem de derrotas tão acachapantes como as que sofremos nos últimos anos, conhecer melhor o inimigo é condição essencial para que não sejam repetidas as lambanças que nos conduziram à atual correlação de forças, extremamente desfavorável ao nosso lado.

Por último, eis minha posição: considero praticamente inevitável a queda de Maduro e deplorável ao extremo que ela possa ressuscitar um intervencionismo do 1º mundo nos países do 3º que parecia ter ficado lá para trás. 

Infelizmente, não há na Venezuela um líder com discernimento para perceber quão certo está José Mujica ao pregar, como alternativa à inevitável intervenção estrangeira, a convocação de eleições gerais sob a supervisão da ONU. O tacanho Maduro irá para o tudo ou nada e vai sofrer derrota total, além de dar pretexto à abertura de um precedente que poderá ser péssimo para outras nações! (por Celso Lungaretti) 
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 ian bremmer
ALINHAMENTO INTERNACIONAL É A MAIOR
 SURPRESA NA CRISE VENEZUELANA
Quase 90% dos venezuelanos hoje vivem na pobreza. 

A inflação está projetada para chegar a 10.000.000%  em 2020, segundo o FMI; para comprar produtos de primeira necessidade como leite e pão, quando têm a sorte de encontrá-los nos supermercados, os cidadãos já precisam levar dinheiro literalmente em carrinhos de mão. 

Mais de 3 milhões de pessoas abandonaram o país desde 2015.

O mundo assiste com consternação à queda da Venezuela –uma economia no passado reforçada pelas maiores reservas petrolíferas comprovadas do mundo, que de nação antes próspera tornou-se uma catástrofe humanitária em menos de uma década.

No entanto, pela primeira vez desde que o presidente Nicolás Maduro chegou ao poder, em 2013, a situação política no país parece finalmente ter começado a mudar... (e) parece que também estamos testemunhando algo inesperado e afortunado. É algo que vai muito além de pessoas se rebelando contra condições de vida miseráveis ou um regime repressor.

Essa história já se desenrolou muitas outras vezes e em muitos outros lugares. O que é excepcional na situação atual da Venezuela é que a oposição no país hoje tem o respaldo de um alinhamento genuíno de potências estrangeiras unidas em torno de uma questão que não representa um interesse nacional fundamental de nenhuma delas.

Um movimento oposicionista dominado e fragmentado pelos inúmeros problemas do país e pelo resoluto apoio militar a um governo inepto uniu-se em torno de Juan Guaidó, engenheiro de 35 anos e presidente da Assembleia Nacional. (...) Seu esforço para revitalizar o sistema político rompido do país também é respaldado pelo apoio amplo e profundo de boa parte da comunidade internacional.

No momento em que este artigo foi escrito, mais de 20 países já haviam reconhecido Guaidó como o líder venezuelano de direito, entre eles os EUA, Canadá, Reino Unido, França, Alemanha e os principais países latino-americanos, exceto o México.

Já houve outros líderes opositores antes de Guaidó, mas Maduro se impôs sobre eles. Não será igualmente fácil empurrar Guaidó de lado, agora que tantos outros países se comprometeram a apoiá-lo. E, num mundo onde tantos países vêm cada vez mais adotando uma política externa baseada na premissa de cada país por si, isso é no mínimo espantoso.

Ainda mais surpreendente é o fato de que foi uma administração americana liderada por Donald Trump que liderou o esforço por uma resposta internacional ao impasse político da Venezuela. 

A decisão inesperada de Trump de adotar uma linha dura contra o regime de Maduro (com sanções contra a estatal petrolífera PDVSA e a entrega direta a Guaidó do controle de alguns dos bens da Venezuela nos EUA) parece contradizer sua política externa de a América em primeiro lugar.
"Antes eleições gerais do que intervenção estrangeira". Mas...
Mas o novo engajamento de Trump com a democracia na Venezuela é fruto do engajamento do senador Marco Rubio (aliado republicano chave, para quem o que acontece na Venezuela é crucial para sua base eleitoral na Flórida) e a linha dura dos assessores de Trump na Casa Branca, incluindo o assessor de Segurança Nacional John Bolton.

Não está claro que Trump esteja preocupado com a situação desesperadora dos venezuelanos, assim como não está preocupado com a situação desesperadora dos sírios ou dos muçulmanos rohingyas no sudeste asiático, mas ele quer ser visto como figura poderosa e que impulsiona mudanças geopolíticas, e as medidas sobre a Venezuela tomadas até agora por sua administração encerram risco mínimo para os interesses dos EUA.

Um fato que ajuda, com certeza, é que o petróleo venezuelano hoje é muito menos importante para o misto energético dos EUA do que foi no passado, deixando a Washington mais margem para agir agressivamente no front diplomático. 

Igualmente importante sãos os fatos de Maduro ser muito menos importante para as maquinações geopolíticas de potências estrangeiras do que é Bashar al Assad, na Síria, para países como a Rússia e o Irã –e de que seu país ganhou a fama de não saldar suas dívidas no exterior.

A preocupação humanitária nunca é o bastante, por si só, para levar a intervenções externas, mas a crise venezuelana e o profundo cinismo do governo de Maduro fizeram exatamente isso. Não há garantias de que transformações reais sejam iminentes.
...perceberá Maduro a gravidade da situação?

Maduro já mostrou muitas vezes que consegue se manter no poder, principalmente porque as forças armadas do país ainda não decidiram que conservá-lo terá custo mais alto e encerrará mais riscos do que enviá-lo ao exílio.

Além disso, quando a Venezuela finalmente tiver uma nova liderança, o país enfrentará problemas incontáveis, sendo alguns dos principais sua dívida gigantesca e as consequências da fuga de profissionais qualificados, que ocorre há uma década. Mas o alinhamento de tantos governos estrangeiros agora traz a esperança de que a população venezuelana finalmente tenha dias melhores pela frente. (por Ian Bremmer)

3 comentários:

Valmir disse...

a esquerda cada dia mais se convence que sua unica base social é o crime e os criminosos...
por isso tanto empenho em defende-los. Nenhum outro setor fora esses... talvez o lumpen midiático e estudantil, outra especie de delinquência light, está disposto a embarcar em sua canoa furada.

Anônimo disse...

***
Grande Celso!

Você leu muito Marx, Lenin e Marcuse e outros pensadores libertários.
São ótimos, mas não criaram uma teoria política capaz de prever os acontecimentos na exata sequência em que se darão.

Acredito que não leu, ou se leu não deu o devido valor, ao velho Platão e sua teoria política.

"Depois do demagogo o tirano e depois do tirano o caos".

Agora a Venezuela se aproxima do caos, tanto que um usurpador é apoiado internacionalmente.

O tirano (Maduro) não quer saber de eleições, como é característica de todos eles.
E se houverem eleições promovidas por ele serão fraudadas, como foram todas as anteriores.

É típico dos tiranos dizer que o povo não sabe votar, ainda mais quando, ainda existindo democracia, a patota do poder não é reeleita.

Esse tempo de caos que se aproxima do povo venezuelano tem duração indefinida até que, devido aos sofrimentos, voltem a buscar o que é certo e aclamem um novo governo legítimo.

Até lá serão intervenções, usurpadores e criminalidade.


Henrique Nascimento disse...

As pessoas têm o péssimo costume de só olhar para o umbigo dos outros. Olhar para o próprio umbigo doi muito. Essa característica humana quem explicou muito bem não é o Freud, mas o Jung. A argumentação que o Celso nos apresenta, assim como o último texto que o Dalton publicou ontem nada mais são do que análises críticas à qualquer forma de ditadura. Os dois não defenderam, em momento nenhum, a ditadura de Maduro. No entanto, a fixação é tanta que a alienação vem junto. Não sei qual é pior: um petista religioso ou um bolsomonion religioso. Ambos os lados têm medo de algo.....

Se vocês adoram malhar ditaduras que, nas suas concepções são ditaduras de esquerda, o que vocês acham da nossa ditadura mais recente que durou 21 anos e o último general saiu com o rabinho entre as pernas pela porta do fundo do palácio? Foi maravilhosa: nós estudávamos "educação moral e cívica" para o bom costume da família tradicional brasileira.

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