domingo, 24 de fevereiro de 2019

A VENEZUELA, SOB O CRIVO DO OLHAR EMANCIPACIONISTA DE DALTON ROSADO

"A Venezuela, com todo o seu ferro e todo o seu petróleo, nunca valerá mais do que os seus habitantes" (Renny Ottolina, político e 
apresentador de rádio e TV)
Mais uma vez se coloca diante da visão emancipacionista da humanidade uma falsa dicotomia entre dois projetos políticos capitalistas na base, de forma que a diferenciação entre ambos é meramente política.

Nessa briga de posturas eminentemente políticas, cabe-nos meter a colher para evitar que esses dois projetos sejam tidos como os únicos possíveis. Há outra opção, que se impõe para toda a humanidade e que deverá surgir de modo global, como forma de se viabilizar socialmente.  

De um lado está o autoproclamado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, um parlamentar apoiado pelos governos liberais capitalistas ditos democráticos, alinhados aos Estados Unidos; do outro, um governo que se agora se afirma claramente como marxista tradicional, ainda que sob a insígnia de um bolivarianismo latino-americano. 

Afirmamos enfaticamente que ambos são capitalistas pelos simples fato de que se regem na economia pelas categorias capitalistas que estão presentes em seus projetos políticos, independentemente de se proclamarem como de direita ou de esquerda.
A melhor escolha entre esses dois é... nenhum deles!

Afinal, dinheiro e mercadoria como expressões materializadas do valor, mercado, Estado, parlamento burguês, controle monetário, trabalho abstrato e trabalhador, Constituição que sacramenta o direito de propriedade, são categorias presentes em ambos os projetos políticos.

A democracia liberal é sempre uma farsa de escolha popular. Escolhe-se entre o que já foi previamente escolhido, ou seja, as candidaturas se processam sob a égide de regras previamente estabelecidas de cumprimento dos cânones burgueses constitucionalmente constituídos, a partir dos quais se deve governar, tudo sob a influência avassaladores dos poderes econômico e midiático que tudo comandam. 

Assim, quando se fala em governos democráticos como os que apoiam Guaidó (cujos interesses são os do capitalismo liberal mundial em fim de feira) há que se considerar a impropriedade da alusão – pelo menos se tivermos em mente uma verdadeira democracia, com participação popular livre de pressões econômicas e de manipulação das consciências.

As democracias burguesas fogem como o diabo da cruz da hipótese de mediação social sem a participação escravista indireta da forma-valor, pois isto significaria o desmascaramento da sub-reptícia escravidão indireta patrocinada pelo trabalho abstrato, que produz a acumulação da riqueza abstrata e suprime o acesso da maioria da população à riqueza socialmente produzida. 
O obtuso Maduro não encontrou uma boa resposta para isto 

Por sua vez o projeto de governo de Nicolás Maduro, que se por ele intitulado de proletário, esquece-se de dizer ao povo que a existência mesma do proletariado é uma forma de mediação social escravizada pela lógica do capital, que tem provocado a miséria do povo venezuelano em meio a tanta riqueza material existente naquele país. 

Dói em mim a contraditória hipocrisia de governos ditos democráticos, regidos pelo capital, que garroteiam economicamente a Venezuela por esta não se submeter aos seus caprichos político-econômicos, e ao mesmo tempo querem posar de beneméritos fornecedores de comida e remédios a um povo que está perdendo peso por subnutrição e morrendo por falta de assistência medicamentosa e hospitalar. 

Estabelece-se, assim, uma falsa dicotomia de projetos similares na sua base econômica e diferenciados na sua concepção de acesso ao poder político e de governabilidade do Estado.

Neste quadro ressurgem sintomas da não ultrapassada guerra fria do pós-guerra, com a Rússia e a China, grandes credores internacionais da Venezuela, a se posicionarem contra o bloco capitalista burguês, tudo dentro de um mesmo interesse mesquinho: a detenção da hegemonia econômica, que é nefasta para o povo qualquer que seja o seu tutor político (os venezuelanos estão sendo induzidos e escolherem entre a cruz e a caldeirinha...).
Marcarão os caminhões mais uma derrubada de presidente?

É melancólico ver aquele povo desesperado se digladiando na defesa de projetos políticos que lhe são antagônicos na essência, tudo por pura inconsciência sobre o que está a lhe infelicitar.   
Tanto o bloco democrático burguês liderado pela arrogante Donald Trump e seus seguidores latino-americanos, quanto a Rússia de Vladimir Putin ou a China de Ji-Xiaoping, nenhum deles está interessado na soberania do povo da Venezuela; quer é estabelecer sua hegemonia econômica sobre o país mais rico da América latina em petróleo, gás natural, ferro e outros minerais valiosos. 

Ressalte-se que a Venezuela detém reservas de petróleo maiores que as da despótica Arábia Saudita, cujo príncipe herdeiro (Mohammed bin Salman) manda matar seus adversários políticos na própria embaixada, como ocorreu com o jornalista saudita Jamal Khashoggi, nem por isto deixando de ser aliada dos Estados Unidos. Continua deles recebendo reconhecimento político e sendo sua parceira econômica.  

Mas, algo está a evidenciar-se nessa disputa hegemônica de poder político-econômico que se trava em torno da Venezuela:
Quem merece nossa solidariedade é o povo, e só ele
— a hipocrisia de uma ajuda humanitária cujo objetivo claro é desestabilizar o governo Maduro e entronizar o aliado Guaidó; e 
— a incapacidade de sustentação de governos despóticos, militarizados, que se mantém fieis à lógica capitalista ainda que se digam anticapitalistas, e que querem manter Nicolás Maduro no poder a qualquer preço.
Nesta falsa dicotomia entre projetos políticos idênticos na sua base econômica, os emancipacionista dizem fora tudo, fora todos, clamando ao povo para que se organize em estruturas administrativas horizontalizadas, abandonando a lógica produtora do lucro e assumindo a produção social unicamente voltada para a satisfação das necessidades de consumo. 

A riqueza material mundial deve ser usada para a grandeza da espécie humana como um todo, sem fronteiras, de modo ecologicamente sustentável e corporificando uma nova concepção ético-moral de comportamento. (por Dalton Rosado) 

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