IOF, IR E O PRESIDENTE FANTASMA
A primeira semana do governo de extrema-direita não poderia ter sido pior. Embora recém empossado, a impressão dada é de um governo já envelhecido, talvez pelo próprio clima reacionário que envolve a nova presidência.
A promessa de ataques aos trabalhadores, índios, LGBTs, mulheres e negros estão sendo conduzidas sem perda de tempo, seja esvaziando a Funai, extinguindo secretarias pró-minorias ou encolhendo o reajuste do salário mínimo.
Neste campo, não era de se esperar coisa diferente e os tenentes do Apocalipse de Bolsonaro estão cumprindo fielmente as ordens anti-humanistas do capitão.
No entanto, é de notar o ambiente caótico do novo governo. Conforme já detalhei neste post, o governo Bolsonaro é formado por quatro grupos diversos de interesses, os quais aproveitaram a oportunidade de um presidente vazio de programa para ascender ao controle do Estado.
Não tendo, porém, uma liderança orgânica capaz de articular efetivamente o novo regime, cada grupo sente-se à vontade para proceder como achar melhor, usando o presidente apenas enquanto um relações públicas.
O dr. Frankenstein criou um candidato vencedor, mas não um presidente apto |
Neste sentido, patético foi o conflito sobre o IOF e o Imposto de Renda na última 6ª feira (4). Tendo anunciado um aumento do IOF e uma redução do IR, Bolsonaro passou pelo ridículo de ser desmentido por seus subordinados, os quais alegaram equívoco do presidente. Isto mesmo após uma suposta reunião ministerial, a qual teria servido justamente para colocar o chefe a par das iniciativas e decisões dos seus ministros.
Pior: segundo fontes de bastidores, o neofascista já teria assinado um decreto determinando justamente o que foi negado depois, daí haver sido forçado a, logo após, assinar novo decreto anulando o anterior. Ou seja, o presidente mostra não estar no comando de absolutamente nada, assinando e desassinando decretos de acordo com os caprichos de seus subordinados.
Tal acontecimento mostra profundo desencontro da equipe do novo governo e também falta de perspectiva. Na realidade, é o prosseguimento do vício de origem de uma candidatura sem programa articulado, criado no puro negativismo. A irracionalidade e amadorismo do programa político do então candidato Bolsonaro cobra agora seu preço na falta de rumo e horizonte do presidente.
Qualquer governo normal, em sua primeira semana, estaria aproveitando a boa vontade inicial para reforçar sua popularidade, com o presidente projetando a imagem de que está firmemente no controle do timão, proativo e presente.
O governo neofascista de Bolsonaro, porém, passa a impressão de ser capitaneado por um presidente fantasma que, quando se materializa, só causa confusão. (por David Emanuel de Souza Coelho)
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