david emanuel coelho
NO GOVERNO BOLSONARO, BRASIL SERÁ BUCHA DE CANHÃO DOS INTERESSES DOS EUA
De fato, deve ter sido tarefa difícil encontrar um indivíduo tão tosco, ridículo e cafona quanto o novo ministro das relações exteriores. Afinal, o Itamaraty é reconhecido por seu alto nível intelectual e profunda conexão com o espírito cultural do tempo, enquanto o novo chanceler brasileiro mais parece um personagem caricatural de Charles Dickens, Cervantes ou Voltaire.
Shakespeare já dizia, no entanto, haver método na loucura. Ernesto Araújo pode ser o exemplo mais acabado do irracionalismo reacionário que toma conta do mundo, mas tem lá sua linha de ação, a qual, inclusive, vai pari passu com os ideais do resto do governo neofascista.
O nacionalismo bufão de Bolsonaro não resiste a uma continência à bandeira estadunidense. Em realidade, o novo governo tem tudo para ser o mais subserviente aos interesses dos EUA em toda nossa história, não apenas continuando a secular política de subordinação ao grande irmão do Norte, mas também levando tal subordinação ao grau de paroxismo.
Na verdade, o nacionalismo bufão de Bolsonaro pode conviver tranquilamente com seu vira-latismo pró-EUA porque – assim como em outros domínios – trata-se de uma performance do presidente neofascista, não tendo qualquer tipo de efetividade concreta.
Tal encenação caí bem ao gosto da nossa classe média Miami, a qual odeia o país, mas defende a nacionalidade abstrata enquanto meio imagético de controle e combate aos trabalhadores sublevados.
"Bolsonaro não resiste a uma continência à bandeira dos EUA" |
Na prática, no entanto, dita classe média almeja apenas mudar-se para os EUA, mantendo seus negócios por aqui. É viver no centro, sugando a periferia.
Porém, o horizonte diplomático traçado por Bolsonaro vai muito além das exigências desta classe média. Entra aí um aspecto geopolítico que toca em interesses muito mais profundos. Trata-se de uma tentativa de rearranjo das zonas de influência ao redor do globo, um rearranjo comandado a partir dos EUA e no qual o Brasil, com o novo governo neofascista, entra abrindo mão de seus interesses e de modo radicalmente subordinado.
A perda de poder dos EUA ao longo do começo do século XXI é determinada pela titânica industrialização da China, a re-ascensão da Rússia e a tentativa de protagonismo de atores regionais, como o Brasil, a Índia e a Austrália, tudo acompanhado pelo aumento do poder da burguesia rentista na terra de Benjamin Franklin.
Embora ainda controladores do fluxo de capital no mundo, os estadunidenses possuem hoje um domínio enfraquecido sob a produção mundial, sobretudo no ramo da tecnologia, cujos grandes polos tecnológicos de Mumbai e Xangai competem em primeira linha com o Vale do Silício.
O deslocamento industrial para fora dos Estados Unidos pode ter mesmo o efeito de enfraquecimento do capital financeiro acumulado por lá, visto que o capital hoje é transnacional e sua mobilidade pode leva-lo a procurar paragem em outros países. Ou seja, a perda de poder dos EUA pode também adentrar o terreno financeiro.
"avanço da China é uma grande dor de cabeça para os EUA" |
Neste aspecto, o avanço de China e Rússia sobre a América Latina, África, Europa oriental e Oriente médio é uma grande dor de cabeça para os estadunidenses, pois pode quebrar, no longo prazo, o fluxo de capital hoje concentrado em seu país.
A guerra comercial de Trump – embora mal feita – não é outra coisa senão uma tentativa de frear este processo. Mas, para ter sucesso, é preciso contar com aliados ao redor do globo que aceitem participar da cruzada, decisão não muito fácil, pois implica abandonar uma série de interesses próprios.
Assim, o Brasil entra enquanto soldado raso na guerra comercial estadunidense, com a incumbência de enfraquecer seus laços com parceiros chineses e árabes, em benefício dos EUA e de seu Estado-Protetorado de Israel.
A eleição de Bolsonaro caiu em boa hora justamente porque tal presidente não possui qualquer projeto autônomo para o Brasil, contentando-se em expressar os interesses da fração ultra-financista de nossa burguesia, representante acabada do espirito classe média Miami e que possui laços profundos com a plutocracia militar, política e financeira dos EUA.
Ou, dito de outro modo, o presidente neofascista está sacrificando o Brasil em prol dos interesses geopolíticos e econômicos estadunidenses, os quais encontraram em Trump um canalizador. Por isto, Bolsonaro e seu séquito mostram-se vassalos particularmente de Trump, muito mais do que do poder político dos EUA em geral. Pois a estratégia geopolítica ora executada é obra do atual ocupante da Casa Branca.
"difícil encontrar um indivíduo tão tosco, ridículo e cafona" |
Dois, no entanto, são os riscos de tal projeto: o primeiro diz respeito a possíveis mudanças políticas nos EUA, com um potencial impeachment de Trump ou sua futura derrota em 2020; outra é a oposição interna no Brasil, pois nem toda burguesia nacional comunga de uma visão classe média Miami, sendo notória a dependência de setores agrícolas e industriais do país com relação ao dinheiro chinês, árabe e mesmo russo.
No que dará isso? No momento é difícil prever, mas uma certeza existe: a de que o nacionalismo bolsonarista é tão autêntico quanto o eruditismo cafona do atual chefe do Itamaraty. (por David Emanuel de Souza Coelho)
2 comentários:
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O David é inteligente e sabe concatenar os pensamentos, mas o viés ideológico o cega nesta crítica à subordinação do fantasioso país chamado Brasil aos interesses dos USA.
Veja que o discurso dele não se sustenta, pois, no penúltimo parágrafo, admite que os USA são uma democracia e lá as coisas mudam, ao passo que os aliados por ele propostos são ditaduras, onde a tirania está solidamente implantada.
É triste ver o que o fanatismo faz com os cérebros mais brilhantes.
No arrodeio argumentativo de Emanuel é ruim aliar-se a democracias e o bom é estar subjugado a tiranias.
Chore.
Desculpe amigo mas vc não entendeu nada do que leu. Parece que a ideologia mencionada de forma pejorativa está impregnada em sua crítica e não no texto do autor.
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