segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

O RETROCESSO SEM FIM CHEGA AO ESTÁDIO: ATÉ A DEMAGOGIA FUTEBOLÍSTICA DO DITADOR MÉDICI ESTÁ DE VOLTA!

O presidente eleito fez lembrar o Médici de 1970...
Ver o presidente eleito dividindo o palco com jogadores e dirigentes do Palmeiras na festa de entrega da taça ao campeão do Brasileirão 2018 me trouxe logo à lembrança um antecessor que também usava o futebol para melhorar sua imagem política: o ditador Emílio Garrastazu Médici, responsável pelo pior terrorismo de estado que este país já conheceu.

Gaúcho, ele costumava presenciar os clássicos dominicais no Maracanã, como se tivesse algum apreço pelos times do Rio de Janeiro. Naquele tempo o futebol carioca era muito curtido em cidades do Norte, Centro-Oeste e Nordeste (por ser aquele que as tevês mostravam lá), mas não no orgulhoso Rio Grande do Sul, cioso dos seus próprios valores.

E Médici geralmente assistia às partidas com um radiozinho de pilha colado ao ouvido, para imitar o estilo geraldino (torcedor das gerais, que tinham o ingresso mais barato). Uma figura patética, forçando a barra para parecer o que não era e com aquela multidão de seguranças ao redor, atrapalhando a visão dos verdadeiros torcedores.

Descendente de italianos, Bolsonaro morou em São Paulo tempo suficiente para ser mesmo torcedor do Palmeiras (quem sabe?). Mas, não parece os italianos e os filhos/netos de imigrantes que conheci no bairro da Mooca, onde morei até que, mal acabava de completar 18 anos, dei outro rumo à minha vida. Eram muitos e, mesmo nos momentos de alegria, não se portavam de maneira tão histriônica. Quem mais ele me lembrou foi Silvio Berlusconi...
...e Sílvio Berlusconi em passado recente...

E Felipão? Tinha o elenco mais caro do campeonato e se beneficiou do desinteresse de adversários fortes como o Grêmio e o Cruzeiro, que priorizaram outras competições, várias vezes escalando reservas para poupar seus melhores titulares.

O futebol brasileiro, sob o capitalismo, virou isso: times envolvidos em até três certames ao mesmo tempo, mas encarando a sério apenas um ou dois deles e fingindo que compete no(s) outro(s). Chegam ao cúmulo de visivelmente entregarem jogos para ser eliminados, evitando assim o desgaste dos seus elencos quando a decisão de duas competições ocorre nas mesmas semanas.

E Felipão sempre representou o que eu mais detesto no futebol: a obsessão pela vitória a qualquer preço, reduzindo o esquema de jogo à quintessência do pragmatismo tosco. Desde os tempos do Grêmio, ele montava defesas bem fechadas e que marcavam duro (violência inclusa, para intimidar craques adversários), contando fazer gols graças ao jogo aéreo e às bolas paradas. Ora perdia, ora vencia, mas nunca deslumbrava. 

Era o paizão severo tratando os atletas como se fossem se fossem seus filhos e não hesitando em esbofetear outro técnico (Vanderlei Luxemburgo) nem em mandar os jogadores do Palmeiras agredir o capetinha Adilson num Corinthians x Palmeiras (seus furiosos gritos de "pega!", "pega!", "pega!" são uma baixaria inesquecível, que a TV mostrou ao Brasil inteiro).

Com a chamada revolução catalã, que Felipão foi incapaz de assimilar (claro!), até porque contrariava toda sua visão de futebol e de mundo, tornou-se obsoleto e até mesmo sua capacidade de liderança sofreu abalo. 
...com seu patético populismo retrô.
Foi demitido do Palmeiras em 2012 porque, não conseguindo disciplinar o elenco, terceirizou a missão, soprando às hordas uniformizadas o nome de jogadores que passavam as noites na gandaia, para serem devidamente hostilizados. 

Deu azar. Seu jogo sujo vazou e ele passou a ser encarado pelos delatados como traíra. Isto dividiu o elenco a tal ponto que ele teve de sair, deixando o Palmeiras na rota do rebaixamento para a série B, que acabaria se consumando.

E, no Mundial de 2014, são inesquecíveis as imagens do seu aturdimento no banco, perplexo e sem ação, enquanto a Alemanha fazia quatro gols consecutivos em apenas sete minutos (entre os 22' e os 28' do 1º tempo). O líder não foi capaz de liderar no momento em que mais a seleção necessitava, deixando que um placar possível de reverter (0x1) se tornasse uma goleada acachapante (0x5).

Quanto mais o futebol brasileiro se tornar medíocre como espetáculo, mais perderá terreno para a Champions e as grandes competições europeias, que agora podemos ver pela TV. E mais nossas revelações baterão asas antes mesmo de conquistarem um título aqui no Brasil. 

Felipão voltou prometendo muito mas ficou devendo a Libertadores, tomou um nó tático do Meno Menezes na Copa do Brasil e acabou entregando apenas o Brasileirão, que tinha obrigação de ganhar (o elenco mais caro e melhor lhe permitia substituir titulares por reservas de desempenho quase equivalente, enquanto Flamengo e Grêmio se ressentiam muito quando não atuavam completos).
Sem Libertadores, o Brasileirão virou prêmio de consolação

E o pior é que suas vitórias só fazem alargar o fosso no qual o futebol brasileiro se afunda. Vencer a qualquer preço, nem que seja jogando feio e com gol roubado nos acréscimos, não passa de uma mentalidade anacrônica e contraproducente ao extremo na atualidade. 

Temos é de aprender a vencer ou perder oferecendo belos espetáculos, pois só assim voltaremos a atrair mais público e patrocínios, que deem sustentação financeira para nossas equipes. 

É do que dependemos para sair da melancólica condição de exportadores de pé-de-obra.

6 comentários:

Anônimo disse...

Boa tarde, Celso, aqui é o Hebert do Rio.

Sobre o futebol, o fato de Felipão, não só o protagonista não só do 7 X 1, mas do "banho de cultura" imposto pelos seus comandados europeus no Chelsea ( tratado como xenofobia, por parte da nossa imprensa, que tenta apagar o placar alemão até hoje ), ter sido campeão, só nos mostra a o nível de pobreza do futebol que já foi de excelência, como diria o Jornalista do Linha de Passe, Mauro Cesar Pereira.

Abraço e boa semana.

celsolungaretti disse...

Infelizmente, os brasileiros capazes de apreciar a beleza de uma partida entre grandes times da Champions já se desiludiram do futebol jogado aqui faz tempo.

E quem insiste em ver as peladas do Brasileirão e as rinhas da Libertadores são os pobres de espírito que se contentam com vitória do seu time por 1x0 após 90 minutos de muita transpiração e nenhuma inspiração.

Quem te viu, quem te vê. Lembro-me de um sábado de 1964 em que fui no Pacaembu assistir à decisão do campeonato de aspirantes (Corinthians 6x3 Santos, na última partida que Rivelino disputou no time de baixo) e ao clássico em que o Corinthians jogava suas últimas esperanças de ser campeão, mas perdeu do Santos por 7x4.

Em 180 minutos, 20 gols marcados e um montão de outros lances de perigo. Hoje há rodadas completas do Brasileirão (10 jogos) em que não acontecem 20 gols.

Marcelo de Almeida Martins disse...

Por favor, cite um presidente(a) que não seja demagogo

celsolungaretti disse...

Um que sabia respeitar a liturgia do cargo era o FHC. Nunca o vi fazendo o papelão de ir roubar a glória de quem a conquistou com seu suor e seu talento.

Já o presidente eleito, que foi um zero à esquerda durante a vida inteira, ultrapassa todos os limites da compostura e do decoro presidencial para desfrutar o seu tardio momento de glória.

O palmeirense Mauro Beting (vide o post https://maurobeting.blogosfera.uol.com.br/2018/12/03/carta-ao-presidente-do-brasileirao/) disse tudo:

"Vossa Excelência tinha todo o direito de estar na tribuna como o nosso clube tinha motivos para o convidar pro deca. Mas Vossa Excelência tinha o dever de não entregar a taça ao campeão brasileiro. O nosso time.

A não ser que em outros anos o presidente já empossado faça o mesmo com outros clubes (o que sabemos que não será problema para quem nisso é tão tolerante em vestir outras camisas). Mas se Vossa Excelência fizer algo que nenhum presidente fez antes, ao menos não repita a volta olímpica. Nem Mussolini fez isso".

Marcelo de Almeida Martins disse...

FHC padece do mesmo problema de Lula, a soberba. Minaram toda e qualquer liderança de seus partidos, para ficarem com o beija mãos de seus aliados. FHC ajudou em 2002 eleger Lula. Minando a candidatura de Serra. Farinha do mesmo saco.

celsolungaretti disse...

Você pediu para citar um presidente não-demagogo e isto o FHC foi. Perto de gente como o Sarney, o Collor, o Itamar, o Lula, a Dilma e o Bolsonaro, pelo menos o FHC PARECIA um presidente. Quanto a avaliá-lo em termos políticos, seria história longa, deixemos pra outra hora...

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