terça-feira, 11 de dezembro de 2018

A APARENTE PROSPERIDADE CHINESA EMBUTE UMA TRAGÉDIA ANUNCIADA – 1

dalton rosado
CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DA GUERRA COMERCIAL ENTRE EUA E CHINA
A reprodução em escala crescente do valor abstrato (dinheiro e mercadorias), que é a única forma de mantê-lo vivo e acreditado, tende ao infinito, enquanto a capacidade de consumo de mercadorias tem seu limite ditado por dois fatores:
 —as necessidades de consumo de cada ser humano, ainda que estimulado pela mídia a comprar supérfluos; e 
— o baixo nível de poder aquisitivo social como um todo, pois a população pobre, em torno de 80% da população mundial, tem capacidade de compra de mercadorias limitada pelos parcos salários (e parte dela agora por salário nenhum, graças ao desemprego estrutural).   
São dimensões contraditórias estabelecidas pela lógica do capital, o qual ora atinge um limite insuperável, prenunciando um impasse econômico financeiro mundial. Eis a causa primária da guerra de vida e morte mercantil travada entre Estados Unidos e China, com reflexos em toda a economia mundial globalizada.  

Como Marx nos ensinou, o trabalho abstrato, única fonte produtora de valor, tende a valer cada vez menos e à sua extinção em maior parte. O que está ocorrendo na China é a confirmação mais explícita das teses marxianas esotéricas. 

Com uma população de cerca de 1,4 bilhão de habitantes, outrora em sua maioria vivendo nas áreas rurais, a China descobriu que poderia produzir mercadorias com custos baixíssimos pagando salários miseráveis a seu povo e, assim, conquistar o mercado mundial. 

Tal como a água que, em razão da lei da gravidade, procura um lugar onde possa se alojar, o capital busca onde possa se reproduzir. Assim, a abertura chinesa ao capitalismo mundial de mercado levou à recepção de empresas detentoras de alta tecnologia e poder financeiro, que passaram a produzir mercadorias em seu solo para conseguirem reproduzir o lucro (condição vital para as suas sobrevivências). 

Este fenômeno mercantil demonstra que o capital e seu imperialismo não é nacional estatal, mas internacional e privado, ainda que o Estado e sua política existam para protegê-lo.  

Em razão do traslado dos meios de produção para os locais de mão-de-obra barata, e não mais da exportação de mercadorias produzidas nos países tradicionalmente produtores, houve um redimensionamento do capitalismo internacional. 

Os países outrora produtores e exportadores de mercadorias para nações que não conseguiam ter níveis de produtividade competitivos, passaram a ter suas empresas transferidas para os locais de consumo, objetivando fazer frente à nova e aguerrida competitividade de mercado. 

Ou seja, os altos salários dos trabalhadores no chamado 1º mundo tornaram proibitiva a produção de mercadorias em seus solos patrióticos e o resultado  foi a transferência da dita cuja para os países pobres, pois a busca da redução dos salários acaba sempre ditando o comportamento empresarial capitalista (Marx). 

Este fenômeno, que conspira contra o Estado burguês e seus interesses políticos, é mais uma contradição que se explicita no itinerário autofágico do capital com relação às suas instituições estatais de apoio; como consequência, as economias estatais tendem ao colapso financeiro por endividamento. 

A China, passado o período inicial de produção de mercadorias que envolviam consideráveis contingentes de trabalhadores, e passando por cima das leis de patentes e tarifas alfandegárias, passou a produzir, também, itens de alta tecnologia que agregam valor; isto tem sido um golpe mortal para a economia nacional estatal dos países do 1º mundo, bem como para o nível salarial de seus trabalhadores. 

Nas nações opulentas já não é mais possível produzirem-se mercadorias com os níveis de salários de outrora, daí, p. ex., Detroit, berço do automobilismo mundial e da terceira revolução industrial fordista, ter-se tornado uma cidade de industrias fantasmas. 
Trump amuado e Jinping sorridente. É preciso dizer mais?

A recente prisão no Canadá (a pedido dos Estados Unidos) da executiva da empresa gigante Huawei, Wanzhou Meng dá uma boa noção do incômodo que tal companhia está causando aos empresários estadunidenses.

Os aparelhos tecnológicos eletrônicos de última geração chineses estão tomando o mercado das empresas sediadas nos EUA, como a gigante Apple; e, dado o alto valor agregado (e geração de impostos) da exportação de tecnologia, os políticos correram em auxílio dos interesses econômicos nacionais,  mediante medidas protecionistas:
— tarifas de importação de mercadorias; e 
— restrições comerciais aos países não alinhados (parafraseando o grasnado celebre de Jarbas Passarinho ao assinar o AI-5, com isto eles mandam às favas qualquer escrúpulo de consciência comercial). 
O capitalismo é a lógica ditatorial, reificada, da exploração pelo capital (que somente pode se reproduzir a partir da segregação social). Agora, atingido o limite de sua expansão territorial e explicitadas as suas contradições internas inconciliáveis, ele tira a máscara de caráter e expõe toda a sua carantonha comercial belicista. 

Mas, como tudo no capitalismo, a aparente prosperidade chinesa embute um tragédia anunciada, em decorrência de suas leis contraditórias. (por Dalton Rosado)
           (continua neste post)

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