quarta-feira, 7 de novembro de 2018

NAS ÚLTIMAS 6 DÉCADAS, A CADA 29 ANOS, NOSSA ALIENADA SOCIEDADE DEMONSTRA A INCONSCIÊNCIA SOBRE SI MESMA

dalton rosado
A LÓGICA DA ALIENAÇÃO E O FUTURO GOVERNO
Entre a eleição do paladino do combate à corrupção, populista, falso renovador e demagogo salvador da pátria Jânio Quadros (em 1960) e a do paladino do combate à corrupção, populista, falso renovador e demagogo salvador da pátria Fernando Color de Mello, (1989) transcorreram 29 anos. 

Já entre a eleição de Color de Mello e a de mais um paladino do combate à corrupção, populista, falso renovador e demagogo salvador da pátria, o messias Jair Boçalnaro, o ignaro, transcorreram 29 anos. 

Conclusão: cá no Brasil, nas últimas seis décadas, a cada 29 anos, nossa alienada sociedade demonstra a inconsciência sobre si mesma. Infelizmente, Marx estava certo Marx quando escreveu, n'O 18 Brumário de Napoleão Bonaparte (1852), que “a história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”.

Quando nada dá certo (e nem poderia ser diferente, pois a lógica da alienação comanda abstratamente toda a mediação social atual) lança-se mão da força, expressa nos governos militares que se sucederam entre 1964 e 1985 ou no voto resultante da manipulação das consciências, como se verificou na eleição de Boçalnaro, o ignaro.
"a lógica da alienação comanda a tudo e a todos"

A lógica da alienação comanda a tudo e a todos, quer estejam trajando ternos elegantes ou rústicas fardas. A alternância de governantes dentro de uma mesma lógica funcional social alienada representa um movimento no qual tudo é mudado nas minudências para que nada mude em essência. 

Vivemos socialmente sob o jugo da alienação. Coisas inanimadas, os objetos sensíveis, com valor de uso, tornam-se concomitantemente coisas abstratas (com valor de troca); e é essa abstração que se torna real (contida num modo de produção abstrato, alienante), aquilo que comanda subjetivamente as ações sociais. 

O cidadão comum sujeita-se a dito comando, tal qual um esquizofrênico que obedece a vozes fora de si que lhe determinam o agir e o pensar. 

É uma engrenagem personificada num governante e numa estrutura institucional subjugados a uma lógica abstrata, alienada, da qual as pessoas se tornam reféns obedientes, conscientes ou inconscientes do que fazem; agindo de modo irrefletido ou de modo refletido apenas a partir dessa lógica que apreende o seu pensar.  

Essa lógica social alienada se consubstancia num modo de produção social a partir das mercadorias, as quais, com sua dupla personalidade, simultaneamente concreta e abstrata (valor de uso e valor de troca), viabiliza a segregação social.
"riscos cada vez maiores de extinção da nossa espécie"
Assim, o modo de mediação social imposto pela forma-valor (dinheiro e mercadorias) embute uma negatividade intrínseca à sua natureza funcional, tendendo à destruição social e à sua autodestruição inevitável. 

A iminência de uma situação irreversível na relação do ser alienado com a natureza tem como exemplo o impasse ecológico hoje existente. Os augúrios alarmantes são desmentido mesmo diante das evidências irrefutáveis de que são cada vez maiores os riscos de extinção da nossa espécie e de que tais riscos decorrem da ação humana. Trata-se de um testemunho da irracionalidade de um modo de produção alienado (possibilidade de uma hecatombe nuclear aí incluída). 

Não é por menos que, apesar de todo o saber tecnológico adquirido pela humanidade (saber que foi impulsionado por essa mesma lógica alienada, a qual funciona como um suicida que formata as próprias condições para o suicídio), assistamos a tragédias sociais nos países da periferia do capitalismo como nunca antes se verificou. 

São muitos os exemplos noticiados tão repetidamente pela mídia que já não nos causam estupefação. É cruel a capacidade humana de conviver e se adaptar de modo indiferente às tragédia antinaturais, que passam a ser encaradas como corriqueiras, quase naturais. 
Crianças famintas do Iêmen: sobreviverão?

Tal comportamento é a confirmação do alheamento denunciado por Marx na sua tese sobre a teoria da alienação e poeticamente demonstrado por Maiakovski num dos seus poemas. Pois:
— assistimos impotentes à tragédia humanitária do Iêmen (ameaça de morte por fome de 12 milhões de pessoas, a maioria crianças) causada pelas guerra civil e pelo bloqueio e bombardeios da Arábia Saudita;
— vemos a extensa duração da guerra civil da Síria, que vitima ano a ano milhares de pessoas e provoca o êxodo de tantas outras, tudo com a participação dos países que se digladiam na disputa pela hegemonia político-econômica naquela região;  
— vemos a caminhada dos centro-americanos em busca de sobrevivência, dirigindo-se, sob a ameaça de serem recebidos a bala, à meca do capitalismo, em face da desintegração dos seus países graças à miséria causada pela lógica alienada da segregação capitalista que cria ilhas de riqueza e oceanos de pobreza; 
— sofremos com os fenômenos climáticos que provocam tsunamis, furacões, enchentes e secas, a partir da elevação da temperatura planetária;
— somos vítimas da violência urbana comum a muitos países e cada vez mais abrangente, com o crime amiúde se tornando o verdadeiro poder em parte do território dessas nações (no Brasil registram-se 60 mil assassinatos anuais, cifra que corresponde ao número de mortes de países conflagrados pelas guerras);
"crescimento da barbárie por parte de grupos fundamentalistas"
— deveria causar repulsa e motivar reações eficazes o crescimento da barbárie por parte de grupos fundamentalistas no Oriente Médio e na África que têm como fermento de suas existências a inviabilidade da lógica social alienada, praticada em detrimento de suas regiões economicamente e politicamente desintegradas.

Vamos ficar por aqui, pois caberia num livro-documentário o registro de todas as tragédias humanas hoje existentes, inclusive o aumento da fome mundial denunciada por nada menos do que a FAO, organismo da ONU. 

O que está por trás da insistência num modo de produção social que sempre foi segregacionista e que agora atinge o seu ponto de saturação é a obediência cega e irrefletida a um comando alienado, abstrato, mas que se torna real e que atingiu o momento no qual destrói a realidade a ele submissa.    

Tal comando abstrato e tornado real para a vida humana corporifica-se na obediência a determinados cânones legais e sociais tidos como cláusulas pétreas do comportamento social perante os quais não se admitem contestações, mas apenas a busca do aperfeiçoamento do que é impossível de ser aperfeiçoado. 

Agora, a consciência teórica e a ação social a ser discutida não se trata de expurgar aspectos pontuais da negatividade social contida num modo de produção social que se tornou anacrônico, mas de negarmos a própria negação social nele contida, somente possível com a superação do seu modo de ser e da implementação de um modo social de ser objetivo, desalienado. 
"o guru Paulo Guedes, misto de banqueiro e pensador neoliberal"

Não tenho dúvidas de que no médio prazo (quiçá já no curto prazo) evidenciar-se-ão as incapacidades de solução dos nossos problemas a partir de um governo com as características enunciadas e anunciadas por Boçalnaro, o ignaro, bem como do pensamento histórico pessoal dos que o cercam (que o diga o guru da economia Paulo Guedes, misto de banqueiro e pensador neoliberal, alinhado com a Escola de Chicago). 

O povo, mais uma vez, deverá pagar o ônus da debacle capitalista com o ajuste fiscal, justificado pela equipe econômica iniciante no governo como forma de salvação das finanças públicas combalidas pela depressão econômica. 

A esquizofrenia da lógica abstrata, alienada, incorporada pelos que a obedecem, está evidenciada mundo afora; e no Brasil, país que já sofre as suas consequências, está fadada a um fracasso ainda maior, sob a orientação de quem busca na intensificação do mal a cura do mal.

É que não há como se resolver problemas estruturais advindos de uma lógica alienada que dá ordens aos seus súditos obedientes como se ela fosse a tábua sagrada da salvação.

Por Dalton Rosado
Somente com a superação dessa lógica alienada, implementando em seu lugar uma lógica objetiva, natural, na qual o ser humano não seja alienado de si mesmo e possa com isso caminhar no sentido da sua emancipação, é que vamos começar a construir o futuro radioso contido no devir real, ontológico, desalienado da humanidade, que nos é factível.   

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