domingo, 7 de outubro de 2018

UM FILME ASSUSTADOR DE FELLINI E A DICA QUE ELE DÁ SOBRE COMO VENCER A ELEIÇÃO

Ensaio de orquestra –que vocês ver na janelinha abaixo, completo e legendado  é, seguramente, o filme mais amargo do mestre Federico Fellini, um dos maiores diretores de todos os tempos, cujo Oito e Meio (1963) está entre os monumentos da sétima arte.

Realizado em 1978, é inusualmente curto (só tem 69 minutos), não conta com grandes nomes no elenco, nem eles fazem falta. Basta a força da história, a criatividade delirante de Fellini e a genialidade musical de Nino Rota.

Expressa magnificamente um dos piores momentos da vida italiana, quando a esquerda tradicional se avacalhou e os agrupamentos mais autênticos embarcaram na desastrosa aventura da luta armada.

Não sobrou nada. Os partidos de direita emporcalhados até a medula, envolvidos com a máfia, as negociatas do Vaticano, a corrupção desenfreada. O PCI que jogara seus ideais e sua história no lixo para dividir o poder com a putrefata Democracia Cristã. A extrema-esquerda que facilitava sua própria destruição ao tomar decisões insensatas como a de executar Aldo Moro.

O sensível Fellini respondeu a este quadro desolador com uma parábola desoladora. Mostra uma orquestra que se rebela contra o diretor tirânico mas, depois de o expulsar, não sabe o que fazer com a liberdade conquistada. 

Direciona-se cada vez mais para a irracionalidade e o caos, até que o diretor escorraçado volta para evitar o pior: um buraco negro que ameaça a todos tragar. Mas, sua liderança logo deixa de ser comedida e conciliatória; mal restabelece a ordem, vai se tornando cada vez mais autoritário e odioso. É a volta ao ponto de partida.

Aparentemente, Fellini concluiu que a sociedade não tinha mais jeito, oscilando entre o chicote e o esfarelamento.

Qualquer semelhança com o Brasil de hoje não é mera coincidência. Se o Brasil sair da eleição  como entrou, cindido em duas metades irreconciliáveis, a etapa seguinte será o confronto aberto e depois o vencedor terá de implantar alguma forma de ditadura, mesmo que não queira, pois vai estar sob ameaça de uma revanche do vencido.

É isto que queremos, a autofagia? Não? Então, temos de mandar um firme recado aos antagonistas: chega de ódio! Precisamos do diálogo e do entendimento entre as partes para escaparmos do buraco negro que  poderá nos destruir a todos.

Quem conseguir passar esta mensagem à sociedade de forma convincente, vencerá o 2º turno. 

E a campanha do Haddad é a que tem melhores condições para trocar a beligerância pelo apelo à sensatez, pois a de Bolsonaro foi alavancada desde sempre pelo ódio e dele se nutre. 

Se não puder apontar inimigos aos seus seguidores, unindo-os na rejeição ao outro lado e pregando a destruição de seres humanos, esvaziará com um balão ao ser furado. 

2 comentários:

Unknown disse...

Se tem uma coisa que os recém chegados não entendem é o que seja o Brasil.
Não há nem base para comparar a riqueza e imensidão daqui com qualquer coisa que o estrangeiro conheça.
Eles não sabem o que é um clima ameno, solo fértil e água boa e abundante.
Mais de mil tipos de alimentos e a complexa biodiversidade local.
Ainda está para nascer quem consiga expressar a ubíqua e generosa Terra Brasília.

SMaracajá disse...

Quando Federico Fellini usou a metáfora de um naufrágio em La Nave Va e ao final mostrou que tudo não se tratava senão de uma encenação cinematográfica deixou claro que naufrágios e encenações são parte de um mesmo filme. No fundo, no fundo, é tudo uma grande caricatura.
In casu, por conta de uma parte dos personagens que sucumbem, mais apropriadamente, uma ópera bufa.
Mais ainda, deixou como sobreviventes do naufrágio o narrador e um rinoceronte. A metáfora dentro da metáfora.
Com Ensaio de Orquestra Fellini produziu uma outra obre metafórica e mais amarga e contundente diante da avacalhação da esquerda e da esculhambação generalizada,
Celso Lungaretti bem o diz ao fazer uma apreciação excelente, dizendo que Ensaio de Orquestra retrata um dos piores momentos da vida italiana, quando a esquerda tradicional se avacalhou e os agrupamentos mais autênticos embarcaram na desastrosa aventura da luta armada. Não sobrou nada. Os partidos de direita se emporcalhavam até a medula, envolvidos com a máfia, as negociatas do Vaticano, a corrupção desenfreada. O PCI jogara seus ideais e sua história no lixo para dividir o poder com a putrefata Democracia Cristã. A extrema-esquerda que facilitava sua própria destruição ao tomar decisões insensatas como a de executar Aldo Moro.
Fellini se referiu a este quadro desolador com uma parábola igualmente desoladora. Mostra uma orquestra que se rebela contra o diretor tirânico mas, depois de o expulsar, não sabe o que fazer com a liberdade conquistada.
Direciona-se cada vez mais para a irracionalidade e o caos, até que o diretor escorraçado volta para evitar o pior: um buraco negro que ameaça a todos tragar. Mas, sua liderança logo deixa de ser comedida e conciliatória; mal restabelece a ordem, vai se tornando cada vez mais autoritário e odioso. É a volta ao ponto de partida.
Qualquer semelhança NÃO É mera coincidência.
Exceto por assemelhar-se a uma ópera bufa de má qualidade em que arruaceiros de uma parte e de outra se digladiam como adolescentes bombados em pleno recreio, no pátio de uma nação estarrecida.
Arre.

Related Posts with Thumbnails