sexta-feira, 10 de agosto de 2018

O DEBATE DA BAND SÓ TEVE 2'53'' QUE PRESTARAM. REVEJA-OS NO BLOG.

Boulos bateu em bêbado; Bolsonaro bateu em retirada
Debates eleitorais são a quintessência da chatice, principalmente depois que os candidatos passaram a ser miquinhos amestrados dos marqueteiros, postando-se na frente das câmaras para, com a aparência e os trejeitos recomendados, repetir a lengalenga que lhes martelaram na cabeça durante dias e dias de ensaios.

Como profissional de comunicação, participei de muitos media trainings para grandes empresários burros e antipáticos parecerem inteligentes e simpáticos quando davam entrevistas. Envergonhava-me de ter de ensiná-los a ludibriarem a opinião pública. 

A maratona do tédio durava umas duas horas. Alternávamo-nos fazendo ora perguntas amistosas, ora aparentemente inofensivas mas que embutiam uma casca de banana para eles escorregarem, ora interpelando-os agressivamente, e por aí vai. 

Se vacilavam, explicávamos qual havia sido seu erro, trocávamos ideias sobre como poderiam ter respondido melhor àquela questão e repetíamos a pergunta para responderem de novo e, assim, certificarmo-nos de que tinham aprendido direitinho a lição.

Suponho que, para o debate desta 4ª feira (9) na Band, nenhum dos protagonistas (Alckmin, Bolsonaro, Boulos, Ciro, Marina e Meirelles) tenha suportado menos do que umas dez horas dessa tortura. Alvaro Dias e o cabo Daciolo provavelmente bem menos, talvez nada, pois correm sabendo que não vão chegar.
Ninguém colocou Alckmin nas cordas; Ciro estava manso demais 
Como ninguém quis ou soube encostar o Alckmin na parede, ele pôde passar a imagem de bom administrador, que conheceria a fundo os problemas. Pelo menos mostrou caráter ao defender as impopulares reformas previdenciária e trabalhista, embora estando careca de saber que a grande maioria dos telespectadores discordava da sua posição.

Bolsonaro era um ogro fingindo de bonzinho, mas foi nocauteado por Boulos, que atirou o nepotismo na sua cara e lhe grudou o rótulo de farinha do mesmo saco (acusação simplesmente irrefutável no caso de quem vive da política há 30 anos, já está no seu nono partido e cumpre seu sétimo mandato legislativo), desfazendo a ilusão de que ele seria uma alternativa à podridão do sistema político brasileiro brasileira. 

Foi risível a saída pela tangente de que seria exceção por não ter ocupado posições no Executivo; simplesmente nunca o convidaram para ministro ou coisa que o valha por ser insignificante e truculento demais.

Quando percebeu nada tinha a dizer capaz de reduzir o impacto das acusações, o ex-militar bateu vergonhosamente em retirada, certamente aconselhado pelos marqueteiros (não insista com assuntos desfavoráveis porque, quanto mais falar, maior quilometragem eles terão depois). Fez mais ou menos o que ensinávamos aos clientes empresários: quando sua culpa for evidente, mais vale reconhecê-la em poucas palavras para liquidar logo o assunto.
Não minha senhora, não quero comprar A Sentinela, lamento

Boulos teve seu grande momento batendo em bêbado (desconstruir Bolsonaro é a coisa mais fácil do mundo) e seu pior momento quando iniciou o debate prestando vassalagem ao Lula. Parece não lhe ter ainda caído a ficha de que, apesar de todo puxa-saquismo explícito, o dono do PT não o ajudará de nenhuma maneira a tornar-se o candidato de união das forças de esquerda, muito pelo contrário.

Ciro contido foi um erro estratégico e um desperdício de talento; acabou não dizendo a que veio. Como já foi abatido em pleno voo pelo jogo sujo de bastidores do PT, sua única chance agora é chutar o pau da barraca, cuspindo fogo contra tudo e contra todos. Dos que estavam lá, era, para começo de conversa, o mais habilitado para detonar de vez Bolsonaro, o herdeiro assumido do torturador Brilhante Ustra.  Deixou de marcar o gol com o goleiro caído no chão e nenhum zagueiro para impedir...

Marina cada vez me lembra mais aquelas austeras senhoras, testemunhas de Jeová, que tocavam a campainha de manhã cedinho e me tiravam do sono para oferecer A Sentinela
O circo era o mesmo, mas exibia palhaços bem melhores
.
Meirelles cada vez me lembra mais certos professores intragáveis do meu ginásio, que até sabiam do que estavam falando mas, ou não conseguiam fazer-se entender, ou não conseguiam tornar interessante o que diziam.

De resto, o que afinal esses shows televisivos têm a ver com o real exercício do cargo que está em disputa (principalmente hoje em dia, quando presidentes da República têm autonomia apenas para decidirem sobre ninharias e as decisões importantes são ditadas pelo poder econômico)? 

Então, a única coisa que compensa o tempo perdido na frente da TV são as situações que, apesar da camisa-de-força das regras dos debates, revelam o que realmente são os canastrões da política profissional. 

Neste sentido, noves fora, o aproveitável no debate foram os 2'53'' do embate entre Boulos e Bolsonaro. 

3 comentários:

Unknown disse...

Senti-me atemorizado com a vacuidade de ideias, ausência absoluta de propostas viáveis e com a overdose de cinismo apresentado pelos postulantes ao cargo de presidente.
Tenho a impressão de que o caos chegará antes do combinado.
Ainda bem que o país não será governado pelo eleito, pois, se fosse, estaríamos perdidos.

Alessandro Alcântara disse...

Perdoe a fuga de assunto Celso, até agora eu não vi nenhum esquerdista preocupado com o fato de um candidato a presidência ter falado em cadeia nacional as teoria da conspiração vindas do esgoto da Internet, tratando comunismo como "ameaça". Vi foi muito esquerdista comemorando isso, achando que isso é fogo amigo, não entendo o que se passa na cabeça da Esquerda hoje em dia! Pessoas crédulas acreditando em "ameaça comunista" é tudo que os milicos fascistas precisam pra darem novo golpe militar. E brasileiro tem talento pra acreditar em qualquer coisa, é só se lembrar que a praga da fake news chegou pra ficar.

celsolungaretti disse...

Alessandro,

é claro que recaídas na retórica anticomunista do tempo da guerra fria devem ser sempre denunciadas e repudiadas.

Mas, golpes de Estado no Brasil acontecem quando o poder econômico quer, não quando pessoas crédulas querem.

Em 1961 a burguesia não quis e a tentativa fracassou.

Em 1964 a burguesia quis e o golpe aconteceu.

Nas duas tentativas de derrubada do Temer e na paralisação selvagem dos caminhoneiros, a burguesia achou desnecessário, então deu chabu.

Golpes são prejudiciais aos negócios e a burguesia quer G-R-A-N-A, como dizia um economista conservador de outrora. Então, quem realmente manda só dá sinal verde para golpes quando não consegue fazer seus interesses prevalecerem de forma mais sutil.

E, quando se trata de um governo medíocre como era o da Dilma, a burguesia manda os militares ficarem quietinhos nos quartéis e obtêm a mesma coisa via Legislativo e Judiciário.

Hoje, para eles, está tudo dominado. Não precisam de golpe. Os fascistas dos grotões e das periferias podem tirar o cavalo da chuva.

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