clóvis rossi
QUANDO LULA E TRUMP (quase) COINCIDEM
Incomodado com o fato de um prisioneiro, condenado por corrupção, liderar com folga o cenário para as eleições presidenciais brasileiras? Tem todo o direito, desde que não ache que se trate de fenômeno típico de país tropical.
Nos Estados Unidos, com mais de 200 anos de democracia, há um certo Donald Trump cujo caso roça levemente o de Lula no Brasil.
Primeiro os fatos: na 3ª feira (21), Michael Cohen, advogado de Trump por muito tempo, declarou-se culpado em oito casos de delitos graves.
Primeiro os fatos: na 3ª feira (21), Michael Cohen, advogado de Trump por muito tempo, declarou-se culpado em oito casos de delitos graves.
Conclusão de editorial de The Washington Post, republicado por The Miami Herald: “Trump não pode alegar que esses crimes não ocorreram ou que ele não tem nada a ver com eles”.
Emenda com uma espécie de apelo sub-reptício ao impeachment, ao dizer que “o Congresso tampouco pode” [aceitar que o presidente nada tem a ver com os crimes assumidos por seu ex-advogado].
À confissão de Cohen seguiu-se, no mesmo dia, a condenação de Paul Manafort, ex-chefe de campanha de Trump, também por oito delitos graves.
Não dá, pois, para discordar do editorial do Miami Herald/Washington Post, quando diz que “foi um dia histórico, e não é um daqueles de que os americanos possam se orgulhar”.
Trump encontra-se, de certa forma, num estágio semelhante ao de Lula antes de ser condenado: sob forte suspeita e com auxiliares importantes (de Trump como de Lula) já na cadeia ou a caminho dela (como Cohen e Manafort).
Caiu, então, o prestígio de Trump? Como não há eleição presidencial nos EUA, não há pesquisa que possa medi-lo agora, ao contrário do que ocorre com Lula.
Caiu, então, o prestígio de Trump? Como não há eleição presidencial nos EUA, não há pesquisa que possa medi-lo agora, ao contrário do que ocorre com Lula.
Mas a revista The Economist já antecipa a posição do partido de Trump: “o Partido Republicano está mais empenhado em respaldar Trump do que com a ideia de que ninguém está acima da lei” (o PT pensa do mesmo jeito).
Outra boa indicação de que os simpatizantes do presidente americano têm a mesma condescendência demonstrada pelos admiradores de Lula aparece na newsletter de Opinião do New York Times.
O titular, David Leonhardt, está de férias e passou a incumbência, nesta 4ª feira (22), para Christopher Buskirk, colunista e editor de American Greatness (Grandeza Americana), publicação conservadora.
Escreve ele: “esse foco voyeuristico numa insignificante corrupção pessoal é uma distração danosa”. Alusão ao fato de que Cohen confessou ter pagado duas mulheres, “orientado por Trump”, para que silenciassem sobre seus casos com o então cidadão Trump.
Seria um crime federal orientar um subordinado a fraudar as leis de financiamento eleitoral, pagando pessoas para evitar que o eleitorado tomasse conhecimento de informações potencialmente relevantes.
O argumento de Chris Buskirk guarda alguma remota semelhança com a defesa de Lula, no sentido de desprezar ou minimizar a corrupção. No caso de Lula, o argumento subjacente é o que ele próprio usou no episódio do mensalão: o PT fez o que todo o mundo faz (caixa 2).
É crime? É. Mas, se todo mundo faz, por que só o Lula vai preso e fica impedido de concorrer? Daí a pretender votar nele é um passo.
Moral da história: nem Brasil nem EUA têm hoje muito a ensinar em matéria de comportamento republicano. Nada animador, mas é o que temos para hoje. (por Clóvis Rossi)
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