terça-feira, 17 de julho de 2018

DALTON ROSADO ACUSA: O CAPITALISMO TRANSFORMA O ELEITOR NUM INOCENTE ÚTIL – 1

O que define o caráter de uma sociedade é o seu modo de produção. A metafísica da economia política nos explica o modo de ser da política, e não o contrário. Assim, a debacle capitalista determina o fim da política. 

O que se observa hoje no mundo inteiro é o fenômeno previsto por Marx há 160 anos nos Grundrisse: quando a tecnologia aplicada à produção atingisse o estágio de dispensar, em sua maior parte, o trabalho abstrato produtor de valor, todo o modo de produção capitalista voaria pelos ares; e isto tem implicação direta na razão de ser da política.   

Ora, se a política é serviçal de uma ordem econômica, evidentemente a sua vontade deixa de ser soberana, pois somente obedece a uma determinada ordem de mediação social pré-estabelecida, com variações apenas periféricas (de forma, nunca de conteúdo). 

No estágio da ascensão capitalista, quando o desaparecimento de cada nicho de emprego correspondia à criação de outro, havia o equilíbrio da sustentabilidade política graças ao crescimento econômico, ainda que isto causasse desequilíbrio social entre os países que eram grandes produtores de mercadorias e as nações de economia predominantemente rurícola e meramente importadores de manufaturados e exportadores de matéria prima. 

Naquele estágio de desenvolvimento do capitalismo toda discussão se cingia ao debate político, ou seja, buscavam-se maneiras de amenizar ou superar a miséria social da periferia do capitalismo por meio de formas políticas de organização social.

A questão de fundo, qual fosse a mediação social pela forma-valor, tida como ganho civilizatório, era algo tão inquestionável como a correta conclusão científica de que a luz da lua advinha do sol. 

As revoluções marxistas-leninistas-maoístas, tidas como anticapitalistas, fixaram-se na estatização dos meios de produção, como se fosse possível fazer-se a justa distribuição do dinheiro e mercadorias (expressões materializadas da forma-valor) a partir da expropriação do capital privado, mas conservando-se o capital estatal. 

Tal pensamento conservou todas as categorias do capital (inclusive concorrência de mercado interna) sem as quais não existe capitalismo. Seus adeptos, apesar de se pretenderem marxistas, demonstraram desconhecer (propositadamente ou não) o conceito de Marx segundo a qual o modo de mediação social pela forma-valor exige reinvestimentos constantes numa escala que jamais permite a distribuição aos trabalhadores do capital que eles mesmos produziram (teoria da queda tendencial da taxa de lucro).

Tal teoria explica que é constantemente necessário o reinvestimento em capital fixo (máquinas e infraestrutura) como forma de manutenção do volume de lucro, e menos em capital variável (salários), imposição que termina por matar a galinha dos ovos de ouro.   

O marxismo tradicional passa batido pelo fato de que somente existe valor se o dito cujo for acumulado constantemente e crescentemente por força da extração de mais-valia, que agora seria praticada por um único patrão – o estado dito proletário. 

Como dizia Delfim Neto, o marxismo tradicional acreditava que, crescendo o bolo do capital, sobrariam fatias para quem o fabricou (os trabalhadores). 

A verdade é que apenas uma parte do bolo do capital pode ser apropriado para servir à casta social que o administra (capitalistas privados ou estatais), e mesmo assim com parcimônia na relação entre consumo do capital e sua preservação, sob pena de falência.

Não há, portanto, solução política equânime dentro dos limites de uma forma de mediação social que se exaure sob seus próprios fundamentos, uma vez que, além de ter um sentido autotélico infindável e segregacionista, destrói aquilo que é o fundamento de sua existência – o trabalho abstrato. 
A grande maioria das pessoas entende, por força da educação política equivocada que lhe é introjetada na mente de modo sublinear, que somente se produz algum objeto servível ao consumo social a partir de interveniência do dinheiro; assim, torna-se quase impossível compreender que é justamente por causa dessa intromissão, no atual estágio de desenvolvimento tecnológico da produção, que já não se pode produzir nos níveis da exigência do consumo.  

A impossibilidade de reprodução do valor nos níveis socialmente exigidos agora é o que trava a produção de mercadorias. Trata-se do nefasto princípio da viabilidade econômica, segundo a qual nada se produz de não puder proporcionar lucro.

Dele decorre que:
— a água da Amazônia não pode ser canalizada para o Nordeste porque o custo disso é proibitivo; 
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— o trabalhador não pode adquirir uma casa porque o seu salário não comporta os custos de produção de uma residência (mercadoria terra, infraestrutura viária, elétrica, sanitária e outras, além de materiais de construção), daí não se construírem casas para atender à grande demanda existente;
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— não se produzem alimentos em terras de solo pobre e de pouca chuva porque somente a grande produtividade agrícola torna economicamente viável tal produção, que em grande parte é destinada à exportação (enquanto, isto, lembrando o Vandré, pelos campos há fome em grandes plantações);
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— os fenomenais recursos da medicina somente são acessíveis aos que podem pagar pelos altos custos médicos, enquanto os trabalhadores morrem nos corredores dos hospitais por não terem com que bancar seu direito à vida;
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— alimentos geneticamente modificados, os transgênicos, tornam-se economicamente viáveis graças à redução dos custos com inseticidas, mas as consequências para os seres humanos ainda são desconhecidas (ou já estão sendo questionadas). E por aí vai.

Mas, que importância têm os seres humanos se tais práticas acabam fazendo a diferença na guerra de mercado?
Por Dalton Rosado
Mas, que importância têm os seres humanos se tais práticas acabam fazendo a diferença na guerra de mercado?

Sob o capitalismo, nenhuma forma política é capaz de conter os abusos da sua lógica insensível – que jamais pode ser generalizadamente benéfica!
(continua neste post)

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