sexta-feira, 1 de junho de 2018

SINDICALISMO E CAPITALISMO SÃO FACES DA MESMA MOEDA, DIZ DALTON ROSADO – 1

A ESSÊNCIA DO OBJETO TELEOLÓGICO SINDICAL

"Toda instituição tem sua estrutura natural
e inevitavelmente determinada pelo
conteúdo de sua ação" (Lênin)
Cada vez me convenço mais de que o trabalhismo sindical está contido dentro da imanência capitalista, não lhe podendo, portanto, fazer oposição de conteúdo constitutivo; afinal, nada mais é do que uma das faces da mesma moeda, literalmente. 

Pensando bem, não podia ser diferente. Os sindicatos se constituem como instituições jurídicas (ou não) verticalizadas de poder classista (laboral ou patronal) em estreita dependência, para a sua existência e manutenção, do número de associados trabalhadores ou patronais. 

Assim, pugnam pela força aglutinadora e crescente de cada categoria e, no caso dos sindicatos profissionais, têm no trabalho abstrato, fonte primária da criação do valor (substrato básico do capital), a sua razão de ser. Os sindicatos laborais querem a existência cada vez maior de trabalhadores, pois é daí que retiram a sustentação. 

Obviamente, os sindicatos de trabalhadores, ao invés de negarem o trabalho abstrato enquanto categoria capitalista, afirmam-no como um dado ontológico da vida social (o que é equivocado). Estabelecem uma confusão semântica, e também sociológica, entre a interação metabólica do ser humano com a natureza no sentido da obtenção do seu sustento e as categorias capitalistas trabalho e trabalhador, como se as duas coisas, interação com a natureza e trabalho (obviamente diferentes entre si) fossem sinônimos.

Por mais revolucionários que possam parecer os movimentos paredistas, eles se dão pelos trabalhadores enquanto tal, e aí se estabelece uma escravização do pensar ao paradigma trabalho
1917: a 1ª greve geral brasileira começou no Cotonifício Crespi

O Marx exotérico do Manifesto Comunista de 1848, que conclamava os trabalhadores do mundo inteiro à união enquanto categoria que considerava revolucionária, não é o mesmo Marx dos Grundrisse, estudo preparatório para a redação d'O Capital.

Nos Grundrisse, Marx afirma que se, com o desenvolvimento da tecnologia aplicada à produção de mercadorias (e agora, mais ainda, com a chamada inteligência artificial dos logaritmos), o trabalho abstrato produtor de valor se tornaria supérfluo e, consequentemente, faria voar pelos ares toda a lógica do capital. 

Trata-se de conceitos antagônicos, mas naturais em quem busca e amadurece o pensar a partir do estudos teóricos e empíricos científicos indispensáveis à compreensão da essência daquilo que constitui o modo de mediação social capitalista, e descobre os equívocos e contradições dos seus próprios fundamentos numa questão tão complexa, diante da qual nenhum economista burguês se atreveu (ou se atreve) ou se interessou (ou se interessa) em querer desvendar.  

Afirmei no meu artigo anterior sobre a greve/locaute do caminhoneiros, que o movimento tinha um cunho eminentemente capitalista.

É que se tratava de um movimento sindical patronal/laboral com características próprias, peculiares, que reivindica melhoras para um setor que tem expressivo poder de fogo reivindicatório. 

Tais reivindicações, contudo, se restringem à obtenção de sustentabilidade econômica corporativa diante de um quadro nacional de depressão econômica que faz água por todos os lados e que inviabiliza a indústria do transporte de cargas de mercadorias. 
"Tais greves clamam por mais capitalismo"
Isso não significa que não haja méritos na luta dos caminhoneiros autônomos por melhores condições de vida, muitos deles sofrendo fortes pressões dos bancos (com ameaça de busca e apreensão) para pagarem as prestações dos financiamentos que lhes permitiu adquirir os veículos, e sem fretes, ou com fretes sem remuneração à altura de suas necessidades.  

Mas tudo confirma que o objeto teleológico das greves sindicais, mesmo quando que têm um objeto político determinado, geralmente se circunscrevem ao universo limitado da ânsia por dinheiro. Tais greves clamam por mais capitalismo.

Talvez o único exemplo histórico de greve que transcendeu esta estreiteza de visão tenha sido o maio de 1968 francês. Mesmo num período de ascensão capitalista, segmentos mais intelectualizados, revolucionários, quando confrontados pelo sistema e pelos dirigentes sindicais sobre o que estavam reivindicando, responderam de forma enfática e desconcertante: Queremos a vida!  

As lutas sindicais nos países industrialmente desenvolvidos, produtores de mercadorias com alto grau de tecnologia e saber científico nelas incorporado (p. ex., um remédio inovador, capaz de curar pacientes graves, pode ter um preço muito acima do seu valor de produção, o que altera substancialmente toda a lógica de produção de mercadorias nela baseada), no período de ascensão do capital, pode atender reivindicações sindicais importantes e o Estado melhorar as condições gerais de vida da população. 
Trabalhadores no 68 francês: "Queremos a vida!"
Mas isto sempre ocorre de modo inversamente, e negativamente, e em maior proporção nos países periféricos, uma vez que o capital jamais pode promover a riqueza linear.

No capitalismo, a cada ilha de prosperidade corresponde um mar de pobreza. Assim,  ao não levar em conta a questão da hipossuficiência macroeconômica dos trabalhadores mundiais, o sindicalismo termina por se circunscrever ao nacionalismo xenófobo e exclusivista de quem somente consegue enxergar a vida dentro dos seus próprio muros.

A emancipação humana somente pode ocorrer se for transnacional, sem as categorias capitalistas, e transformando o planeta Terra numa casa comum a todos os seres humanos, seus habitantes. 

Cada ser humano deve ser o artífice da sustentação do outro ser humano, e não seu adversário numa competição fratricida pela vida, como nos tem moldado o capitalismo nos cinco últimos séculos. 

UM COMENTÁRIO INFELIZ – Uma jornalista da GloboNews, aludindo à infiltração de radicais no movimento dos caminhoneiros (sem especificar de que orientação política), afirmou que a paralisação ainda não tinha acabado por conta desses radicais. Segundo ela, radical é radical e só quer atrapalhar...

Se ela queria dizer que os tais infiltrados (muitos dos quais desavisadamente pedem intervenção militar, que os fardados não desejam e sabem muito nem por que não desejam) são ativistas desnorteados ou ingênuos, não deveria fazer tal confusão semântica, chamando-os de radicais.

Primeiramente, é necessário que se esclareça o conceito em questão. Dá-se a tal palavra uma conotação propositadamente negativa, desqualificadora, com o objetivo de amedrontar a todos aqueles que ousem afrontar o sistema, ora em rota acelerada de colapso com o iceberg.  [O mesmo, aliás, ocorre com o termo anarquismo, que é uma doutrina revolucionária), 

Como disse Marx, ser radical é ir à raiz das coisas; e a raiz é o homem, para quem deve convergir todas as ações sociais. 

Nunca foi tão necessário compreendermos aquilo que está na raiz do caos social que atinge o Brasil e todos os países da América Latina, por se situarem na periferia do capitalismo. 

A crise do capital, mais que um fenômeno continental, é um fenômeno mundial. E o atendimento das reivindicações dos caminhoneiros não trará a solução dos problemas, que já são estruturais. (por Dalton Rosado)
(continua neste post)

3 comentários:

SF disse...

***

As regras existentes numa Teoria nos permitem fazer previsões com elevado nível de acerto.
Porém, é imprescindível que os postulados da Teoria sejam irretorquíveis, para que as previsões de eventos futuros possam ser acertadas.
No seu texto percebi duas inconsistências axiomáticas:
1- Afirmar que seja a competição entre os semelhantes algo moldado pelo capitalismo.
2- Atribuir o grau de ser humano a qualquer um.

É um fato observado na Natureza que existe competição letal pela dominância e, consequentemente, pelo direito de produzir descendentes viáveis. Logo, essa luta fraticída não é algo que o "capitalismo" criou. Existe desde sempre e é um postulado verificável.

O humano é algo construído pela nossa capacidade única de ir além da animalidade. Chegar à Humanidade, pressupõe a vontade de agir contrariando os instintos.
Os gregos nos legaram dois símbolos poderosos.
O minotauro: um monstro com corpo humano e cabeça de animal. E o Centauro um ser humano com o corpo de animal.
Eles nos apontam que a dita humanidade é composta por animais em corpos humanos, atendendo aos imperativos egoístas da Natureza, os minotauros. Mas que existe a possibilidade de que alguns tenham domínio sobre o animal, os Centauros.

Quando você afirma que um ser humano pode ser cooperativo, logicamente, não está falando aos animais em corpos humanos que obedecem as severas leis da Natureza, denominados de "capitalistas" no seu texto.

A maneira de se superar o egoismo sábio da Natureza terrestre é ensinado de maneira esotérica, pois exige volição do postulante para dar os primeiros passos no sentido de ser um Ser Humano.
Mas, é tão raro alguém querer isso, e ainda mais difícil encontrar quem o ensine, que raramente um Ser Humano silencioso, compassivo e humilde é encontrado.

E quando um bobeia e aparece é despedaçado.

Mas, voltando à questão da teoria e das previsões os postulados que podem ser observados e aceitos serão:
1 - A grande maioria da humanidade ainda está num estágio de feras fraticídas.
2 - São poucos os que tem o direito de serem chamados de Seres Humanos.

Então, o que podemos prever para os ajuntamentos de feras egoístas e inteligentes que, diligentemente, se esforçam para se destruírem uns aos outros, são mais sofrimentos e dores.
Preparemo-nos para isso, mas conservemos a minúscula chama de Humanidade que tivermos para, em tempos menos terríveis, continuarmos a nossa evolução.

Ipse dixit.

celsolungaretti disse...

Caro SF,

o que caracterizou o ser humano ao longo de sua existência, e tornou-o capaz de sobreviver num Planeta cheio de animais ferozes e muito mais potentes, foi a solidariedade e sentido gregário dos hominídeos, até chegarem ao chamado homo sapiens (que se opôs violentamente ao homo neanderthal).

Isso não significa que grupos humanos não tenham se digladiado entre si por disputas de territórios, e até mesmos em disputas entre membros de um mesmo grupo por vários interesses pessoais.

Mas a marca predominante foi a solidariedade e o espírito gregário.

Entretanto, com a racionalidade da segunda natureza humana, que o distinguiu dos outros animais, nasceu, concomitantemente, o interesse mesquinho de dominação de uns pelos outros, condição que, obviamente, antecede o capitalismo, que corresponde à fase desenvolvida da forma-valor, e que pode ser assim classificado há cerca de apenas cinco séculos.

O que eu venho dizendo é que o capitalismo é uma forma especial de dominação, abrangente, reificada, fetichista, criada pelos homens e que dela se tornaram súditos inconscientes, e que alcançou todos os poros das sociedades mundiais.

O capitalismo, tem como base a concorrência de mercado, e como os indivíduos sociais transformados em cidadãos trabalhadores, têm na força de trabalho a sua única mercadoria para vender nesse mercado, no qual a lei da oferta e da procura lhes é desfavorável graças à grande oferta (agora mais do que nunca em face do desenvolvimento tecnológico aplicado à produção, que tornou o trabalho abstrato obsoleto em maior parte), estabelece-se uma luta fratricida de todos contra todos na busca de espaço que lhes permitam sobreviver.

É nesse sentido que o capitalismo, o mais genocida de todos os modos de organização social, molda o antagonismo entre os seres humanos, ao invés de estimular a solidariedade, que foi a marca humana num passado longínquo e deve ser a nossa característica fundamental.
Todos nós somos humanos, embora ainda tenhamos muito da nossa irracionalidade animal na nossa composição orgânica, e nossa mente faz parte dela.

Assim, a fera ancestral ainda habita o nosso ser em evolução. A consciência disso é o que pode nos ajudar a contermos os nossos instintos animais irracionais e fazermos com que prepondere o lado humano da nossa racionalidade.

Um abraço, Dalton Rosado.

SF disse...

***

Moureja em erro ao afirmar que seja humana a turba que habita o planeta.
Confunde-a com os animais sociais, que são gregários, mas não solidários.
Obedecem a estrita hierarquia, caracterizada pela dominância do macho alfa.
Os animais humanos de antanho eram gregários e cooperativos no sentido que os lobos são.
Daquele tipo de estratégia de sobrevivência sempre deriva a hierarquia, o território, o estrangeiro e o ego (no sentido de pertencimento ao clã).
Se esses agrupamentos de feras cooperativas tiveram o estrondoso sucesso que tiveram na sua luta pela sobrevivência, deveu-se a rara inteligência de que são dotados.

Se esse progresso tivesse sido obtido por Seres Humanos eles teriam sabido criar beleza, harmonia, bondade e justiça.
Ao não criarem beleza, os atuais dominantes do planeta demonstram imenso desprezo de um recurso escasso no Universo: a Consciência.
Colherão o fruto do que plantam, inexoravelmente.

***
Essas e outras tantas teses comprovadas pela observação de etologistas renomados, permite-nos prever, com elevado quociente de acerto, que, depois da demagogia que vivemos, iremos descambar na tirania, aonde os mais criminosos membros da sociedade assumirão o governo.
Essa é a sombria previsão que podemos fazer e para qual devemos nos preparar.
Mas os tempos são outros e pode ser que os avanços realizados no campo da ciência e tecnologia não nos deixem cair tão baixo.
É bem capaz que estacionemos, finalmente, na demagogia (democracia), mas não há garantias que a estupidez não prevaleça.

***




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