Golpistas abrindo o jogo: muitos preferiram ignorar |
Começam a inundar o noticiário evidências e mais evidências de que, como eu advertia já no domingo passado (27), o pandemônio criado no país não se devia apenas aos motivos alegados, pois havia mais no quadro do que os olhos estavam vendo. Foi nesta 5ª feira (31) que, como se percebe aqui, finalmente os olhos começaram a enxergar o quadro todo.
O que tivemos foi uma tentativa de golpe daqueles anticomunistas primários incrustados nos órgãos repressivos e, do lado civil, influentes nas periferias e nos grotões mas não nos grandes centros do poder econômico e político.
Eles tentaram fazer seu golpe pegar no tranco (como agíamos com os veículos quando o motor não dava sinais de vida), produzindo uma situação de fato que lhes permitisse impor sua agenda aos donos do PIB, aos altos escalões das Forças Armadas, ao grande irmão do Norte, etc. Quanta pretensão!
Como os que realmente mandam não queriam golpe neste instante por julgá-lo desnecessário e inoportuno, o golpe não rolou. Fez-me lembrar 1961, quando os conspiradores não tinham seu dispositivo pronto, não dispunham ainda de apoios essenciais, mas tentaram dar o golpe assim mesmo, para pegar carona na renúncia do Jânio Quadros. Quebraram a cara. Aí, prepararam-se bem melhor para a tentativa seguinte, 19 meses depois.
Arrepia-me pensar no que aconteceria se a moeda tivesse caído em pé e gente tão tosca e destrambelhada houvesse assumido o poder (os golpistas de 1964 estavam aptos para governar, esses aí nem de longe!). Haveria caos e, provavelmente, banhos de sangue. Foi o que eu escrevi na 3ª feira (29):
Bloqueios selvagens evidenciavam segundas intenções |
"...certamente existem um ou mais esquemas golpistas de extrema-direita atuando na caserna, mas todos os indícios são de que esteja(m) numa fase bem embrionária. Mesmo assim, o locaute dos caminhoneiros pode gerar situações de descontrole muito perigosas.
...Se, por um milagre, gente tão despreparada (pelo que se depreende de suas ações e de sua retórica) obtivesse êxito, teríamos obtusos irascíveis no poder. Seus principais quadros são vira-latas mesmo para os pouco exigentes padrões da direita brasileira.
Não devemos, contudo, subestimar a possibilidade de que a situação, por força de uma ocorrência impactante como a morte de um caminhoneiro, escape do controle, com o desafio à autoridade constituída, os confrontos violentos e o desabastecimento se generalizando pelo país. Algo assim jamais deve ser descartado quando um governo é fraco como o do Temer.
Aí o golpe poderia ganhar dinâmica própria..."
Caminhoneiros chilenos ajudando a derrubar Allende. Bis? |
Caso sucedesse o pior, o PT teria mais uma culpa gravíssima no seu currículo: o de estar desde o impeachment da Dilma atuando num clima de quanto pior, melhor e depois de mim, o dilúvio. Hoje empenha-se unicamente em libertar Lula e conseguir que ele participe da eleição, mandando todo o resto às urtigas.
Sendo ainda a força mais influente da esquerda, o PT não advertiu em momento algum que estávamos diante de uma tentativa de implantar nova ditadura, nem conclamou a esquerda a resistir à investida fascista. Só parece ter considerado o proveito que poderia tirar de uma nova fragilização do Governo Temer. Se dependesse do PT, estaríamos de novo debaixo das botas militares num país em ordem unida.
Ou reconstruímos a esquerda ou continuaremos dependendo da sorte e do acaso nos momentos importantes. A dura verdade é que o Temer, aos trancos e barrancos, salvou-nos desses fascistas descerebrados, enquanto parte dos petistas se omitia e outros tantos apoiavam os caminhoneiros, mesmo quando o objetivo econômico deles foi alcançado e se evidenciou de forma gritante que a insistência nos bloqueios selvagens se devia a outros e suspeitíssimos motivos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário