sábado, 2 de junho de 2018

SINDICALISMO E CAPITALISMO SÃO FACES DA MESMA MOEDA, DIZ DALTON ROSADO – 2

(continuação deste post)
AS CENTRAIS SINDICAIS, OS PARTIDOS DE ESQUERDA E A GREVE DOS PETROLEIROS – As centrais sindicais (CUT, Força Sindical, UGT, CTB, Nova Central e CSB), em recente manifesto de apoio à greve de advertência dos petroleiros, deixam muito claro que nada têm a dizer em face do limite interno da expansão capitalista e do travamento de toda a máquina do sistema produtor de mercadorias (meios de produção, circulação, sistema financeiro, política e Estado).
"Bandeiras ultrapassadas" (nacionalismo)  
O capitalismo demonstra ser incapaz de prover com sustentabilidade, comodidade e razoável dose de humanismo, a mediação social tendo como base a forma-valor (dinheiro e mercadorias); mas as organizações de trabalhadores e até partidos de esquerda, ao invés de tentarem superar o próprio capitalismo de modo consciente e eficaz, preferem o velho discurso de defesa de medidas político-administrativas ultrapassadas e que se mantêm nos marcos da institucionalidade. 

O tal manifesto, que poderia ser assinado por todos os partidos de direita, de centro e sindicatos patronais, tem como plataforma fundamental os seguintes pontos: 
a) proteção à Petrobrás contra os interesses do capital internacional;
b) defesa das empresas estatais (Eletrobrás e bancos públicos);
c) contra o alegado desmonte do movimento sindical;
d) contra a reforma trabalhista;
e) pelo diálogo construtivo com o governo;
f) por uma agenda prioritária para o processo eleitoral;
g) pela retomada do crescimento econômico, recuperação dos empregos e da renda;
h) por políticas sociais.

Para um desavisado qualquer, que não tenha a profundidade indispensável sobre o que está acontecendo no país e no mundo, as bandeiras acimas, todas circunscritas à imanência capitalista e suas instituições privadas e públicas, podem parecer importantes, ainda sejam claramente mais do mesmo ou meramente populistas. 

As possíveis diferenças e discordâncias sobre algumas delas entre liberais capitalistas seguidores de Adam Smith e keynesianos capitalistas estatizantes se limitam às questões de encaminhamentos político-administrativos, os quais estão longe de promover a necessária transcendência capitalista, que é o que está posto como substrato social do sofrimento do povo.
"Bandeiras ultrapassadas" (estatização)

Neste sentido, o manifesto, que pretende dar um ar de vida a um sindicalismo impotente e a uma esquerda sem bandeiras e desmoralizada pelos últimos acontecimentos político-administrativos, apenas ratifica a falta de perspectivas transcendentes aos graves problemas que hoje nos afligem. 

Reflitamos: 
a) o que significa proteger a Petrobrás contra o capital internacional, como se o povo sempre tivesse auferido vantagens dessa estatal? Note-se que defender a Petrobras é também defender os grandes acionistas privados nacionais e internacionais que são proprietários das suas ações. Significa, ainda, a defesa do uso do petróleo, combustível fóssil altamente poluentes, ao invés do uso predominante de formas alternativas de energias;
b) o que significa a defesa da Eletrobrás e dos bancos públicos que nos cobram juros escorchantes, emprestam aos empresários com juros subsidiados e praticam desenfreada corrupção, como agora se tornou mais explícito ainda; 
c) como defender as centrais sindicais que têm à sua frente gente como Paulinho da Força, misto de deputado com sindicalista, que foi recentemente integrante da tropa de choque do corrupto Eduardo Cunha, e que ainda hoje frequenta as páginas do noticiário policial televisivo por fraude em registro de entidades sindicais?
d) como defender os direitos dos trabalhadores com seriedade diante da concorrência internacional de mercado que força para baixo os salários, ao invés de enfrentarmos o problema com consciência e superarmos o próprio trabalho produtor de valor, que é fonte de toda a miséria social?
"Bandeiras ultrapassadas" (defesa dos bancos públicos)
e) como obter um diálogo construtivo com os governos, se são eles a força institucional da coerção tácita do capital, a ela submissos financeiramente e economicamente?
f) por que pugnar pela retomada do desenvolvimento econômico, crescimento do nível de emprego e renda, como se se quisesse mais capitalismo como forma de remediar os males por ele causados? 
g) como sustentar políticas sociais diante do déficit fiscal e previdenciário cada vez mais acentuado por causa da depressão econômica capitalista?

As propostas contidas no manifesto das centrais sindicais em apoio aos petroleiros, analisadas com profundidade, nos mostram quão ultrapassado está o histórico corolário de bandeiras da esquerda, que (por miopia, desconhecimento teórico ou oportunismo vil) insiste em mantê-las (*), embora acabem por se constituir num grande empecilho a qualquer projeto de emancipação do povo brasileiro, condição extensiva à humanidade.

A questão não é melhorar o trabalho, mas superá-lo. (por Dalton Rosado)

* Nota do editor: segundo o jornalista e blogueiro Josias de Souza, a greve dos petroleiros foi entabulada quando dirigentes da Federação Única dos Petroleiros e de sindicatos afins visitaram Lula no início do seu encarceramento em Curitiba, tendo como um dos objetivos, segundo documento depois divulgado,  "a defesa da democracia e contra a prisão política de Lula".

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