Poucos veem a árvore atrás da floresta... |
Cansei de dar respostas inteligentes a comentários inconsistentes que me atribuem ódio por Lula, então, como sempre preferi o jogo franco, vou botar os pingos nos ii.
São pitorescas as visões simplórias dos que não conseguem captar os motivos reais de um articulista, pois têm a cabeça feita pelo maniqueísmo rasteiro das telenovelas e outras banalidades.
Assim, no mesmo dia em que eu lançava um alerta dramático no sentido de que a pretendida resistência à prisão do Lula poderia ter consequências terríveis, inclusive o seu assassinato em meio à confusão (que outro motivo haveria para eu dar destaque tão excessivo ao atentado de Sarajevo?), dois aprendizes de desqualificadores, em dois espaços diferentes, entoavam a ladainha do meu ódio. Haja paciência!
Há muito tempo venho martelando que Lula, o homem, deve ficar fora das grades por ser idoso e não haver cometido crime hediondo. É uma convicção de que não abro mão de jeito nenhum: crimes do colarinho branco não têm a gravidade extrema que certos procuradores messiânicos trombeteiam, fazendo um lobby descarado pelo enrijecimento das penas.
Quanto ao Lula, o personagem histórico, considero que seu papel se esgotou e hoje ele está sendo nocivo, pois não é o líder de que os explorados carecem neste momento histórico no qual a presidência da República se evidenciou definitivamente como um poder ilusório gravitando na órbita do poder real (o econômico), o qual, quando lhe convém, despacha presidentes para casa com um mero sopapo parlamentar.
Esta é uma análise política, que não tem absolutamente nada a ver com sentimentos pessoais como amor e ódio.
...e a beleza das cores (viciaram-se ao preto e branco!). |
Sempre fui um brasileiro cordial e compassivo. Tendo acompanhado toda a trajetória do Lula desde as grandes greves no ABC, eu o vejo como o menor culpado dos erros que levaram a esquerda a estar passando por seu pior momento desde 1964. Por quê? Porque as aptidões do Lula credenciavam-no apenas para o papel de líder sindical, jamais para o de dirigente partidário.
Mas, os que queriam colocar seu nome como chamariz no cartão de visita de um partido nascente elevaram-no a uma altura desmesurada, na certeza de que, como eminências pardas, o manteriam sob controle.
Desafortunadamente, o escândalo do mensalão manietou os controladores. Lula passou então a fazer o que lhe dava na telha e a tomar decisões a partir de conclusões disparatadas como a de que, tendo escapado incólume daquela primeira devassa, nada mais poderia atingi-lo, não precisando, portanto, abrir mão das práticas que o haviam deixado à mercê da boa vontade dos inimigos. Para sua surpresa, estes adotaram no petrolão postura diametralmente oposta e o resultado é o que estamos vendo.
Tenho pena do Lula. Subiu alto demais e agora o estão empurrando demasiadamente para baixo. Lamento que seu fim de vida se prenuncie tão melancólico, mas este era um desfecho fácil de prever nos últimos anos. Só não viu quem não quis.
"Você não está entendendo quase nada do que eu digo"
E quem viu e não o advertiu, mostrou-se pouco leal a ele. talvez por priorizar os interesses do partido, que passou a depender desesperadamente do Lula como puxador de votos.
Esticando o elástico até quase arrebentar-lhe na cara, prestou um grande serviço aos que estarão fora das grades tentando manter o PT vivo, enquanto ele, ativo por natureza e tão acostumado a brilhar em público, vai mofar no xilindró como fera enjaulada (o que será deprimente ao extremo na fase da vida em que se encontra, por mais que a cela seja confortável e não o submetam à humilhação das algemas).
Esticando o elástico até quase arrebentar-lhe na cara, prestou um grande serviço aos que estarão fora das grades tentando manter o PT vivo, enquanto ele, ativo por natureza e tão acostumado a brilhar em público, vai mofar no xilindró como fera enjaulada (o que será deprimente ao extremo na fase da vida em que se encontra, por mais que a cela seja confortável e não o submetam à humilhação das algemas).
Eu, que supostamente o odeio, cansei de lhe mandar mensagens cifradas aconselhando que seguisse caminhos diferentes. Precisei embuti-las nos meus artigos, pois nunca tive acesso direto a ele. Ou não lhe chegaram ao conhecimento, ou não acreditou. É triste.
7 comentários:
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Divirjo (olha o juridiquês!)
Foi só mandarem prender o cara que a prefeitura daki começou a limpar a minha rua.
Fazia mais de mês que o caminhão de limpeza não passava.
Tem que prender, pois há uma função educativa.
Puna-se o demérito e honre-se o mérito.
A roubalheira diminui muito quando os ratos percebem que há um gato na área.
E não é questão de ódio.
É profilaxia.
Lula sucedeu Fernando Henrique Cardoso que fez um governo desastroso. Além de desastroso um governo insensível ao sofrimento do povo.
Lula assumindo governa numa situação econômica internacional muito favorável. Consegue equalizar a dívida externa com reservas provenientes do boom da exportação e tende com migalhas o povo sofrido e com fartura o grande capital financeiro/industrial.
Em seu governo houve cooptação dos movimentos sociais combativos e como consequência o amolecimento dos mesmos para a emancipação, mobilização, luta politica do povo.
Excluem-se desse marasmo, pela governabilidade do PT, o MST- Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e MTST - Movimento dos Movimentos Sem Teto.
O partido foi dirigido por burocratas, sem carisma, homens obedientes a Lula. A CUT mesmo está sendo dirigida por homem de confiança de Lula, vindo do Sindicato dos Bancários.
Na era Lula era fácil ser sindicalista de esquerda nos sindicatos que o apoiaram desde o início de sua carreira política.
Era muito fácil ser ministro da Fazenda, das Comunicações ou de outro qualquer ministério. É era só dar aos capitalistas. Tirar nunca.
Não havia confrontação com os grandes os exploradores do povo. Usineiros e plantadores de soja eram considerados heróis. Os bancos ficaram intocáveis na suas desmedidas taxas de juros.
Os mais obedientes, personalidades medíocres, fazendo o jogo do capital, ficavam à frente de Ministérios importantes;
Mantega na Fazenda, Paulo Bernardo na Comunicação, Helena Chagas na Secretaria de Comunicação e outros do PT.
Onde estão esses personagens, entre eles Gabrielli que inviabilizou a Petrobras, empresa símbolo do Brasil?
A única coisa que Lula não fez foi a privatizar as estatais restantes que o PSDB não teve tempo de privatizar.
Que enfrentamento contra as elites a era Lula/Dilma fez? Nenhum.
Quanto as verbas do mensalão e petrolão, principalmente do petrolão [corrupções que aconteciam ao mesmo tempo] Lula e os dirigentes do PT fizeram uma ditadura branca dentro do partido: aquele que fizesse crítica não tinha verba para a campanha política ou abandonasse o partido. Foi o que muitos fizeram.
Acredito que achariam qualquer motivo para processarem e julgarem Lula tantas vistas grossas que fez com a corrupção. Somente a vergonhosa compra da refinaria de Pasadena, nos EUA, era motivo para processo e condenação, de pelo menos Dilma.
Foi um incauto, não deveria nem ter passado em frente do prédio Solaris, no Guarujá, onde fica o triplex.
O prédio foi construído pela BANCOOP, do Sindicato dos Bancários de São Paulo. Não deveria passar nem em frente devido:
1o.] não é função de sindicato fazer prédio de luxo mas sim instrumento de luta;
2o. ] O MAIS GRAVE: o pessoal do sindicato estava sendo investigado, processado pelo desvio de R$ 40 milhões. Devido essa roubalheira, muitos cotistas não receberam ou tiveram de pagar mais para receberem o apartamento. O processo não seguiu, não teve prisões, devido o presidente da Cooperativa ter morrido em acidente de carro no curso do mesmo.
Como Celso disse Lula não merece ser preso pela idade e por não oferecer perigo. Mas julgou-se inatingível e o melhor e insubstituível gerente que o capitalismo teve na presidência da república. Os exploradores do povo ganharam dinheiro, se enriqueceram na tranquilidade, os latifundiários concentraram mais terras e mataram lideranças rurais na quase impunidade.
Que as novas lideranças, que já surgiram, combativas, não conciliatórias com o capital, que não iludem o povo, nos tragam esperanças e organização das massas populares para a luta.
Vitorio,
um problema é que nós o medimos com a escala de valores de revolucionários, mas o Lula nunca foi um revolucionário.
Na comparação com os políticos convencionais, seus pecados não são piores. Mas, como as pessoas comuns passaram a crer que ele era de esquerda e representava a esquerda, irritava-nos profundamente a imagem projetada pelo Lula.
Por mais que fôssemos rigorosamente honestos com relação aos recursos públicos, passamos a ser confundidos com esquerdistas chapa branca que levavam vidas de nababos graças à roubalheira ampla, geral e irrestrita que rolou nos governos petistas.
Tento ser justo com ele: o exemplo de político que sempre se lhe ofereceu, nos anos em que formou sua personalidade e seus valores, não foi o de estoicos e abnegados defensores das causas justas, mas sim o de predadores cheios de lábia tentando levar vantagem em tudo por quaisquer meios, lícitos ou ilícitos. Suponho que, se ele porventura já pensou nisso com seus botões, terá concluído que, afinal, não era tão ruim como esses trastes...
Mas, o que sempre me incomodou foi a insistência do Lula em negar o que todos sabemos ser verdade. Isso insulta a nossa inteligência.
Mesmo ontem, no seu discurso de despedida, ele continuou fingindo ser um virtuoso impoluto vítima de maquinações infames. Ora, quem quer que tenha conhecido os bastidores de um palácio do governo (meu caso: fui um dos jornalistas da Coordenadoria de Imprensa do governo paulista) sabe que a corrupção só rola solta daquele jeito quando o chefe do governo faz parte do esquema ou fecha os olhos à existência do esquema.
Assim, tenha ou não o Lula recebido contrapartidas, o certo é que as relações promíscuas de governos petistas com altos empresários corruptos realmente existiram, ele realmente sabia e deixou acontecer. Portanto, inocente não era.
Como pode ser tão cara de pau? Se ele apenas alegasse que errar é humano e as tentações eram muito fortes, teria minha simpatia. Mas, quando tenta me impingir lorotas, é como se estivesse me tomando por otário. E mais indignado eu fico ainda ao ver tantos esquerdistas acreditando ou fingindo acreditar nas lorotas!
Enfim, vida que segue. Torçamos para que a esquerda consiga iniciar a volta à superfície, agora que já atingiu o fundo do poço. E façamos o possível para ajudá-la a reencontrar seu rumo.
Um forte abraço!
É a primeira vez que acesso seu blog. Gostaria de tirar uma dúvida: Você realmente é contra a prisão, ou sugere penas menores para crimes do "colarinho branco" ?
Sou contra o encarceramento de qualquer idoso que não haja cometido crime hediondo nem represente perigo para a sociedade. Ou seja, no meu entender, idosos condenados por crimes do colarinho branco deveriam ficar em prisão domiciliar.
No fundo, estamos voltando à desumanidade das sentenças que não visam à regeneração do condenado, mas sim à intimidação de outras pessoas. Coisa típica da Idade Média, mais um retrocesso desta melancólica época que estamos vivendo.
Talvez eu seja o último dos brasileiros cordiais, quem sabe?
Eu acredito que talvez seja o último ser humano cordial. O Sérgio Cabral, por exemplo, não consigo imaginá-lo cumprindo prisão domiciliar naquelas mansões que mais parecem um clube. O prejuízo que ele deu à população do RJ foi inimaginável, parece que não tem fim. Gostei de seu blog, continuarei acessando, boa noite, e obrigado pela atenção.
Ivan,
procuro olhar as coisas numa perspectiva histórica. A corrupção no topo da sociedade atravessa os tempos e os países sem que nunca se consiga erradicá-la por completo. Cruzadas repressivas, como a atual no Brasil, a reduzem transitoriamente, depois ela cresce de novo.
Daí eu não ser um entusiasta das ações policiais e judiciais. Vejo-as como um enxugar gelo que não acaba nunca.
Se os seres humanos, sob o capitalismo, são tangidos a buscarem o enriquecimento pessoal como prioridade suprema de suas vidas, é inevitável que alguns mais espertos e/ou mais ousados utilizem atalhos para o obterem.
Trabalhei como jornalista no Palácio dos Bandeirantes. Era desalentador. Os que estavam no governo eram corruptos um tanto sofisticados. Quando havia cerimônias e apareciam no palácio os prefeitos e os presidentes das câmaras municipais de todo o Estado, eu percebia que os aspirantes a tomar o lugar dos corruptos um tanto sofisticados eram tão somente corruptos sem sofisticação nenhuma. Ruins os que estavam, piores os que os sucederiam.
Então, para mim como para os revolucionários da minha geração, a única solução real e duradoura é uma transformação profunda da sociedade, de forma que a prioridade máxima passe a ser o bem comum e as pessoas sejam valorizadas pela contribuição que derem para a felicidade de todos.
Foi o que eu, conheci, na prática, nas comunidades alternativas do fim da década de 1960 e início da de 1970: sentíamo-nos muito bem com muito pouco conforto, posses e geringonças na nossa vida. Tentávamos ser irmãos uns dos outros, sem egoísmo nem possessividade. Nem sempre conseguíamos, mas esforçávamo-nos para tanto.
E eu sempre pensava em algo assim numa escala bem maior, a sociedade inteira irmanada no sentimento de que os homens devem colaborar uns com os outros, ao invés de competirem canibalescamente entre si.
Quanto ao blog, sua principal característica é de reunir pessoas que são bons seres humanos e pensam um pouco diferente do ramerrão. Aqui têm total liberdade para exporem suas visões, mesmo quando não coincidem com as minhas. O pensamento crítico era um dos valores que prezávamos em 1968 e eu preservo este espírito.
Bem-vindo ao nosso círculo!
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