quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

ASSISTA NO BLOG AO FILME QUE COLOCOU AS AUTORIDADES DOS EUA EM PÉ DE GUERRA CONTRA CHAPLIN

Nos dias em que a mesmice domina o noticiário e não encontro nenhum tema inspirador para desenvolver, ou mesmo texto alheio interessante para importar, vou, em desespero de causa, consultar as efemérides próximas, na esperança de encontrar algo aproveitável.

Hoje (1º) se completam 110 anos que o rei Carlos I de Portugal e o príncipe herdeiro Luís Filipe foram assassinados em Lisboa por militantes republicanos. 

Quando eu era bem mais jovem, não deixava de ver certa justiça poética na frase do sacerdote católico francês Jean Meslier (1664-1729), às vezes atribuída erroneamente a Voltaire ou a Diderot, segundo a qual "o homem só será livre quando o último rei for enforcado nas tripas do último padre". Mas, o ódio já anda transbordando nas redes sociais, para que destacar mais episódios sangrentos? Deixemos o regicídio pra lá.

O aiatolá Khomeini regressou em 01/02/1979 ao Irã, trazendo o fanatismo religioso medieval na bagagem. O que já era péssimo com o xá Reza Pahlavi ficou ainda pior, se isto é possível, com os fundamentalistas malucos. Também passo. De retrocessos chegam os do Brasil.

Também neste dia, em 2003, o ônibus espacial Columbia se desintegrou ao retornar à Terra, matando seus sete tripulantes. Sempre vi com desagrado o esforço dos seres humanos para tornarem infernal a vida também nos outros planetas. Temos mais é de resolver nossos gravíssimos problemas atuais. Outra pauta descartada.
Assim como os aniversários de nascimento de John Ford, Clark Gable e Boris Iéltsin, e também o de falecimento de Buster Keaton. Nada tenho de especial a dizer sobre nenhum dos quatro.

Fui avançando pelos dias seguintes e a luz só acendeu para mim ao tomar conhecimento de que na próxima 2ª feira (5) se completarão 82 anos desde a estreia da obra-prima de Charlie Chaplin, Tempos modernos, um clássico absoluto, sobre a alienação do trabalhador nas grandes linhas de montagem das fábricas do passado.

Sempre lhe fiz a ressalva de ser demasiadamente parecido com A nós, a liberdade, de René Clair, anterior em cinco anos. Como dizia o Chacrinha, nada se cria, tudo se copia. E, como naquele tempo havia pouquíssima difusão dos filmes franceses nos EUA, temo que Chaplin tenha suposto que, se tomasse de empréstimo uma coisinha ou outra, isto passaria despercebido. Enfim, ninguém é perfeito...

Eis trechos de uma interessante crítica que encontrei, sem assinatura, no site do Partido Comunista Brasileiro:


Tempos Modernos foi o primeiro filme na era da grande indústria cinematográfica a desenvolver uma contundente crítica aos efeitos imediatos do processo de industrialização desencadeado após a chamada 2ª Revolução Industrial, ao mesmo tempo em que pautava, através do humor, as contradições do modelo fordista de produção, então exaltado como padrão de desenvolvimento produtivo e base para a sustentação do modo de vida consumista burguês, o denominado American way of life.

A exaustão humana desencadeada pelos esforços repetitivos na linha de produção, levando ao limiar da loucura; o uso da ciência e da alta tecnologia como ferramentas para otimizar a dominação na indústria; a alienação e o aumento do desemprego estrutural foram sarcasticamente tratados nesse filme. 

Em diversas cidades estadunidenses e europeias o filme foi censurado, causando a Chaplin constrangimentos políticos e prejuízos financeiros. 

Por fazer alusão ao movimento grevista e ao comunismo, num período em que vicejava o patrulhamento ideológico no universo da arte, antes mesmo do macarthismo do pós-guerra, o Departamento de Segurança dos EUA promoveu restrições ao filme e boicote à captação de recursos para outras obras de Chaplin. Durante algum tempo, o cineasta foi alvo de investigações sob a suspeita de propaganda comunista.

Chaplin, mesmo sem ter sido marxista, destacou o fetiche da mercadoria em cenas tais como os momentos em que o personagem Carlitos e a menina órfã sonham com uma vida melhor, cujos referenciais de felicidade, conforto e luxo são os parâmetros difundidos pela burguesia, objetos de desejo inacessíveis à classe trabalhadora, imersa na realidade de trabalho desumano, miséria e violência social, tornada ainda mais insuportável em tempos de crise capitalista.

O filme é irônico até no título, pois toda a modernidade enaltecida naquele período de expansão tecnológica encobria a trágica decadência dos padrões de sociabilidade humana, com as pessoas embrutecidas por uma vida sem sentido, em que o próprio tempo se subordina ao ritmo mecânico da lógica produtivista, voltada unicamente a atender as necessidades do mercado. 

A primeira cena é um grande relógio ditando o ritmo dos trabalhadores rumo à fábrica, comparados a animais a caminho do abatedouro...

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