sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

NÃO PODEMOS NEM DEVEMOS IGNORAR QUE A ECONOMIA BRASILEIRA COMEÇA A APRESENTAR SINAIS DE MELHORA

Por Vinícius Torres Freire
REPENSAR A VIDA NO
BRASIL PÓS-GUERRA
O DataFolha confirma [a partir de pesquisa realizada nos últimos dias 29 e 30] que os brasileiros não estavam tão otimistas com as perspectivas da economia fazia três anos. 

Nesta quinta (1º), soube-se ainda que a indústria cresceu mais do que o previsto em dezembro passado, que a venda de automóveis continuou a aumentar em janeiro, que a venda de caminhões ressuscita e que a confiança dos empresários é a maior em três anos e meio.

Dada a ruína que ainda é fácil e doloroso observar nas ruas e nas estatísticas, ainda há quem se insulte com o comentário a respeito da reanimação dos brasileiros, captada em todas as pesquisas.

Por que então interessa notar o fenômeno da confiança em alta casada com a recuperação, nanoscópica mas disseminada agora por quase toda a economia?
Taxa de desemprego aceitável? Só em 2021 ou 2022...

Porque essa consonância de ânimos e notícias melhores é novidade, coisa que não se via desde o início da década. Porque essa ainda discreta, mas provavelmente crescente, melhora de ânimos deve ter efeitos políticos. Porque a economia fora do coma muda um pouco os termos do debate do que é necessário mexer na política econômica.

Antes de mais nada, observe-se que, no caso dos números do Datafolha, o sentimento dos brasileiros quanto a desemprego, inflação e poder de compra dos salários ainda é parecido com o de meados de 2014. Trata-se de nível de confiança muito maior que o registrado durante o desastre de 2015 a 2017, mas não é lá grande coisa, embora algo se mova.

Em meados de 2014, último ano de Dilma 1, os brasileiros sentiam os efeitos do começo da recessão. A confiança no futuro da economia vinha na verdade em baixa desde o junho de 2013.
Entre 2013 e 2016, foi um arraso!

A diferença, agora, neste começo de 2018, é que a confiança vem crescendo e é corroborada pelos primeiros efeitos visíveis da recuperação econômica, evidente desde fins do ano passado. Visíveis com lupa, mas visíveis.

Sim, o crescimento da indústria, de 2,5% no ano passado, nem de longe compensa a destruição das fábricas desde 2014. A produção industrial no final de 2017 ainda era quase 15% menor do que no final de 2013. Isso é destruição de bombardeios de guerra.

A taxa de desemprego é ainda quase o dobro da registrada em 2014. Se tudo der certo, não vai chegar a um nível aceitável antes de 2021 ou 2022.

O aumento real médio dos salários neste ano não deve ser grande coisa, pois em 2017 a renda do trabalho se beneficiou especialmente da queda grande e inesperada da inflação. Neste ano, a inflação deve subir um tico, e os reajustes nominais serão menores. O aumento da renda total do trabalho vai vir do crescimento do número de pessoas empregadas. 

De resto, dificilmente o mercado de trabalho será menos precário do que em 2016, p. ex.: não deve haver criação de empregos formais suficientes para compensar os danos.

Portanto, trata-se uma recuperação em meio a ruínas. Como em filmes do pós-2ª Guerra, vê-se a vida voltar ao normal em cidades de prédios destruídos por bombas e o povo sujeito a racionamento de comida.

Dado que a situação econômica é muito frágil e o governo do Brasil está quebrado, há o risco de choques externos ou tumulto político colocarem tudo a perder. Mas, por ora, é preciso pensar a vida no pós-guerra. Tende a ser diferente.

Observações do editor: desde o afastamento de Dilma Rousseff eu vinha advertindo que, embora a recessão que despencara sobre nós fosse ocorrer de qualquer jeito, a política econômica desastrosa da ex-presidente a potencializou, portanto algum desafogo tendia a decorrer de sua queda. 
Por Celso Lungaretti

Cheguei mesmo a prever que os donos do PIB fariam tal recuperação coincidir com o calendário eleitoral; afinal, se houver um milagrezinho brasileiro no próximo semestre, ele beneficiará eleitoralmente os candidatos de centro e de direita.

Para o PT, contudo, era prioritário driblar o questionamento de suas políticas e a exigência de autocrítica que os setores mais lúcidos da esquerda lhe faziam. Então, embora fosse pra lá de previsível que a economia em médio prazo sairia do fundo do poço, a imensa rede propagandística petista continuou trabalhando com cenários catastróficos, como se a recessão fosse eternizar-se.

Obviamente, com a economia voltando a crescer, ainda que em doses homeopáticas, o quanto pior, melhor! será uma má aposta eleitoral.
Bolsa de valores de SP nos anos 70: euforia durou pouco.
Fazer política na base do ilusionismo e da manipulação dá nisto: os cenários econômicos estão mudando e a esquerda nem de longe fez a lição de casa. Deveria ter preparado seus públicos para tal mudança, explicando que teria fôlego tão curto curto quanto o milagre brasileiro dos anos 70, durando só até a crise capitalista seguinte.

Credibilidade só se obtém com análises honestas e sinceras. A demagogia, tanto quanto a mentira, tem perna curta. Não serve para os revolucionários que pretendem forjar uma sociedade emancipada, só para os populistas que apenas querem dar uma melhoradinha na degradada sociedade atual e colherem benefícios políticos e até pessoais ao desempenharem o papel de forças auxiliares do capitalismo.

2 comentários:

Anônimo disse...

.
Celso,
Veja que interessante.
Li um artigo* do professor Marco Antonio Leonel Caetano no qual ele modelou o movimento da bolsa (IBOV) com equações de Didier Sornette para previsões de terremotos e crashs no mercado financeiro.
Uma das conclusões me lembrou o que você tem dito.
De acordo com o modelo econométrico de Sornette o Bovespa estará sujeito a turbulências nas proximidades do dia 19/10/2018.
Eleições!
Mais um descrevendo o cenário futuro da economia que você tem desenhado desde o ano passado.

*A Próxima Turbulência Financeira - site Mudanças Abruptas.

celsolungaretti disse...

Fui ler, companheiro. É uma curiosidade, mas não creio que haja modelo matemático capaz de definir a data exata de um acontecimento desses com oito meses e meio de antecedência.

E a impressão que eu tenho é de que a coisa começará numa das grandes nações capitalistas e a quebradeira se espalhará pelo mundo. Algo como a crise do subprime de 2007/2008 não sendo contida nos EUA e detonando os mercados mundiais.

Um forte abraço e ótimo domingo!

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