sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

DE ENGRAXATE A PRESIDENTE

Lula menino, na biografia cinematográfica...
A história é conhecida. Um menino de família nordestina pobre carrega nas costas uma caixa de madeira com graxa e escovas.  Quem diria, o pixote engraxate a perambular por uma praça da cidade paulista da cidade de São Bernardo do Campo viria a ser presidente da República do Brasil por dois mandatos. 

Nos meus 60 anos de exercício de jornalismo na imprensa escrita,   não me perdoo por nunca ter me interessado em perguntar o que o menino conversava com os fregueses durante o polimento  de um sapato, o que se passava em sua cabeça de criança¸ se tinha visões de que seria nada mais, nada menos do que o Lula, um dos personagens mais falados do mundo contemporâneo. 

A intenção seria amealhar lampejos de dotes messiânicos porventura alojados naquela personalidade em formação. É isto.

Longe, eu, de perpetrar uma narração sociológica do surgimento desse incrível líder operário. Nada a repetir. Os caminhos por ele percorridos estão sobejamente expostos.  

Para tornar este relato interessante, eu deveria ter capacidade de destacar, um, o seu talento de líder; dois, o inventário de decepção popular legado no ocaso da carreira desse conduttore inculto e de naturais dotes oratórios.  Do inventário é o que mais se fala. Com a palavra, os mais bem informados.
...e na vida real.

Migalhas do  talento de líder testemunhei em um ou outro encontro com Luis Inácio Lula da Silva e duas ou três entrevistas concedidas a este então jornalista da Agência Estado. Uma impressão é a de se ver o líder na TV e nos jornais.  Outra, conversando com ele olho no olho.

Em plena febre das privatizações, perguntei a ele, em seu diretório do bairro de Vila Mariana, em São Paulo, se era a favor da entrega das empresas públicas a setores privados. Empresas públicas, acentuei, a pipocar rombos e perpetuar mordomias. 

Atiçado pelos defensores das privatizações, fui até um pouco malcriado no meu questionamento. Ele não se abalou. Com sua voz grave e um poder de convencimento natural, respondeu cariciosamente: uma estatal bem administrada é viável. Opinião dele. Mas a fala e a reação fizeram a diferença. Algo de poderoso exalava daquela pessoa.

Em plena redação do Jornal da Tarde, o operário Lula se apresentou para entrevista com um terno impecável e gravata impactante. A pergunta de um jornalista afoito: o sr., um operário, vestido dessa maneira? Agilidade mental na resposta: o operário é que fabrica roupas e gravatas, por que não poderia usá-las? Resposta de quem sabe o que está fazendo na vida.

Entrevistei os candidatos antes do primeiro turno da eleição presidencial de 1989. Todos deram respostas apressadas, revelando que estavam desprevenidos com o assunto, isto é, o que fariam em seu governo em benefício das crianças brasileiras.  
"terno impecável e
gravata impactante"

É o seguinte: o Unicef previa a morte de mais de 100 milhões de crianças em todo mundo na década de 1990 simplesmente por não terem acesso a vacinas e antibióticos. 

Lula foi atencioso. Com sua voz grave e convincente, ideologia parelha, defendeu a criação de empregos e melhores salários para as famílias cuidarem bem de suas crianças. 

Repetindo, com a palavra os mais bem informados sobre o legado moral de Lula. Prefiro terminar falando das causas da popularidade do ex-presidente. Lembro de duas.

Uma, está nos gimnossofistas a resposta para a popularidade do ex-presidente. Quando Alexandre, o Grande, perguntou a um desses pensadores gregos, que andavam nus –essa palavra esquisita quer dizer isso mesmo, sofistas nus qual a maneira de um home gozar a máxima estima, a sábia resposta foi: tendo o máximo poder sem ser temido. Temido é o que Lula não era.

Não seria essa a explicação para a aversão, desconfiança e medo que o povo tem dos políticos petulantes, soberbos, malcriados, prepotentes? 

Seria este o segredo da estima do povo por um Lula, um Montoro, um Vargas, até mesmo da estima da esposa para o marido?

Duas, é a explicação de um sociólogo, Fernando Henrique Cardoso, para a popularidade de Lula. Em países pobres, como o Brasil, disse, os cidadãos têm várias carências e quando surge um líder que suaviza essas carências, ele é venerado. É o chamado populismo, disse o sociólogo. 
Esperar dias melhores de um Congresso como o nosso?!

Assim como Lula, cada um dos 37 presidentes da República que o Brasil já teve representou uma esperança em dias melhores. Abatidas foram todas essas esperanças, uma a uma. 

Numa democracia é o Congresso que tem nas mãos as rédeas de um país. 

Neste caso, deixai toda esperança, vós que esperais dias melhores de um Congresso como o nosso, com três centenas de seus integrantes fortemente suspeitos de corrupção. (por Apollo Natali)

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