Antes como jornalista e agora como blogueiro sempre evitei o sensacionalismo, daí não ter entrado no clima do quando é que o Lula vai ser preso?, ao contrário dos colegas afoitos que corriam a trombetear boatos de bastidores como se fossem a tábua dos dez mandamentos, a ponto de o Sérgio Moro, fazendo pilhéria, ter colocado no seu gabinete a placa Lula preso só amanhã...
Bem, como já escrevi várias vezes, não tenho fontes de bastidores me dando dicas, então procuro apenas fazer uma avaliação correta dos indícios que capto na própria imprensa. Assim, por mera dedução, concluo que nunca foram tão grandes as possibilidades de, ao contrário dos botecos em que o fiado nunca chegava, o Lula preso chegar amanhã, 4ª feira, dia 13.
Por quê? Porque se nota claramente que está em curso uma contra-ofensiva da Polícia Federal e dos promotores da Lava-Jato no sentido de resgatarem a imagem da operação, após as trapalhadas de Rodrigo Janot terem produzido o maior abalo na sua credibilidade em três anos e meio de existência.
Num ponto os petistas têm toda razão: a Lava-Jato teve sua bola inchada pelos poderosos como um instrumento para desmoralizar o PT.
O que eu nunca concordei foi com a tentativa de caracterizá-la como um amontoado de invencionices. É imperdoável dirigentes petistas terem incorrido nas mesmíssimas práticas dos fisiológicos direitistas, comprometendo não apenas a imagem deles próprios, como também a de toda a esquerda brasileira, da qual o partido era (e, incrivelmente, continua sendo) a força majoritária.
Infelizmente, quanto mais o cruzamento das delações com as provas ia evidenciando que a corrupção grassava solta, numa repulsiva parceria com pesos-pesados do empresariado (aqueles que deveriam ser nossos inimigos de classe e não cúmplices na roubalheira), mais o PT insistia em falar para os convertidos e nem tentar convencer o restante da população.
Como Hélio Schwartsman comentou na sua coluna desta 3ª feira, atribuir a delação do Palocci à tortura psicológica que o coitado estaria sofrendo por encontrar-se preso e as acusações contra o Lula à perseguição política desencadeada pelas elites que não querem ver a vida dos pobres melhorar tem alcance limitado:
"Isso basta para que os petistas convictos, determinados a absolver o ex-presidente de qualquer pecado, continuem a crer na inocência de seu líder. A ideologia não precisa de mais do que um fiapinho de verossimilhança para nele agarrar-se até o fim.
A questão é que nem todo o mundo é igualmente ideológico. O grau com que as pessoas se prendem ao discurso de partidos (e religiões) segue uma distribuição normal, sendo que só uma minoria se mostra invulnerável a evidências empíricas contrárias a suas inclinações".
Quando o PT alega que o mesmo rigor nunca foi utilizado contra os políticos convencionais, acerta... mas também erra!
Acerta na constatação do óbvio ululante. Erra ao não extrair conclusões obrigatórias, como a de que a Justiça não trata igualmente os revolucionários e/ou reformistas e os conservadores e/ou reacionários. Os pecados do primeiro bloco tendem a ser encarados como mortais; do segundo, como pecadilhos venais.
Mais: por conta das pedaladas fiscais, que foram punidas com o rigor da lei no caso do PT e certamente seriam relevadas se o ciclista fosse peemedebista ou tucano, Dilma Rousseff foi privada do mandato.
Daí outra conclusão que se impõe: não adianta elegerem-se presidentes que podem ser derrubados tanto pelos tanques quanto por um mero piparote parlamentar quando estiverem incomodando os donos do PIB, seja por sua ideologia (Jango), seja por sua incompetência (Dilma).
Mas, falta honestidade política ao PT para reconhecer que cometeu um erro fatal ao esvaziar cada vez mais a organização popular, trocando-a pelos afagos paternalistas nos eleitores.
Agora, com Janot fora da jogada (e convertido em pária), os verdadeiros condutores da Operação Lava-Jato perceberam que de nada lhes adiantaria continuarem dando murros em ponta de faca. Daí terem recolocado o PT como alvo principal.
Faz sentido: trata-se de um conjunto de autoridades que obteve notoriedade e prestígio graças aos contingentes anti-petistas e sempre foi visto com reprovação ou franca hostilidade pelos petistas. Então, no momento em que precisa reafirmar-se diante da opinião pública, a melhor aposta é reabilitar-se aos olhos dos apoiadores tradicionais.
E, como as armações ilimitadas de Janot, Joesley, Globo & cia. não param de vir à tona, o pessoal da Lava-Jato partiu para um tratamento de choque: colocou na mesa a carta Palocci no momento em que ela mais impacto produziria e... poderá repetir a dose com a eventual prisão do Lula. Aí a repercussão será maior ainda, ofuscando o noticiário sobre o triste fim do procurador-geral trapalhão e do alcaguete bilionário...
Finalmente, o portentoso esquema de segurança montado para a audiência em Curitiba também parece apontar no sentido de que se espera algo mais do que o ocorrido nas vezes anteriores.
Serão manifestações de protesto antes e durante a sessão... ou conflitos piores ainda depois dela, como consequência de algo contundente que se pretenda fazer?
7 comentários:
De 90% das análises que vc acerta na mosca, esta ficou no per cente dos 10%
Não foi preso E ai
Bem, eu deixei claro que era apenas uma previsão. Aparentemente, o Moro se contentou com o impacto que já obteve com o depoimento do Palocci. E podem vir mais frutos da mesma árvore quando a delação premiada dele for formalizada. Suponho que ele não vá ficar só no gogó, alguém com a importância que ele tinha no partido deve poder também apresentar provas.
Que provas!!!Vamo combinar: estão forçando a barra...A direita, você conhece, quer destruir Lula. Vai criar um Mito....Tudo isso lamentável!! Usar a Justiça, assim como usaram o militares no passado, pra foder com o Brasil..O PT e o Lula conetaram vários erros, mas tudo isso virou uma grande farça..
Houve golpe de Estado nesse Brasil.. O pessoal do PCO está dando uma aula pra quem quizer entender https://youtu.be/hCX04c-OhIc
Cezar, essas teorias conspiratórias não colam há muito tempo, só os devotos ainda acreditam nelas.
Duas décadas atrás eu já sabia da existência de algo de podre no reino da companheirada. Foi quando o imprescindível Paulo de Tarso Venceslau denunciou as maracutaias do Roberto Teixeira e a Executiva Estadual, por exigência do Lula, o expulsou do partido.
Agora não existe a mais remota dúvida de que o PT chafurdou na lama também, como sempre fizeram os partidos de direita.
Temos mais é de resgatarmos a credibilidade da esquerda, separando o joio do trigo. O PT já está além de qualquer possibilidade de salvação.
Só nos resta convencermos os companheiros honestos que ainda estão lá a saírem enquanto ainda há tempo para salvarem suas reputações.
Golpe de Estado foi o que eles deram em 1964, com os tanques na rua. Não a lengalenga de 2016, quando foram cumpridas uma por uma as etapas do impeachment definidas na Constituição. Houve jogo sujo? Houve, como sempre acontece nesses casos. Não serve como desculpa.
De que adianta ficarmos insistindo num rótulo propagandístico que não convence ninguém além dos devotos?
É História, fato consumado. E foi uma derrota vergonhosa, sem qualquer reação popular digna de nota.
Em vez de ficarmos chorando o leite derramado, temos mais é de reconstruir a esquerda, para nunca mais entregar o ouro com tanta facilidade.
Postar um comentário