terça-feira, 23 de maio de 2017

NÃO CLAME PELO VOTO! NÃO SEJA CÚMPLICE (E VÍTIMA) DA ENGRENAGEM QUE TRITURA AS ESPERANÇAS DO POVO BRASILEIRO!

"Hoje é sempre o dia certo, de fazer as coisas
certas, da maneira certa. Depois será
tarde" (Martin Luther King)
.
Acentua-se a derrocada da economia brasileira por suas próprias contradições, em contraponto ao gigantismo das funções do Estado no sentido da manutenção, intervenção e indução da ordem capitalista decadente. Para tanto também contribuem os desvios históricos, mas que agora se tornaram assombrosos, de dinheiro do erário estatal em todos os níveis da administração dita pública. 

A chamada corrupção estatal é fator contributivo para o aumento da negatividade sistêmica capitalista, mas como seu subproduto  ou seja, sem ser a questão principal, como se quer fazer crer.

Ainda assim, pelos valores estratosféricos que atinge, em chocante contraste com a pobreza da maioria da população brasileira, mina e corrói o tradicional discurso da participação com qualidade no processo eleitoral, fazendo-o parecer, mais do que nunca, falacioso. E isto não se dá somente no Brasil, onde as vísceras do sistema ficaram expostas a partir de um procedimento de delação premiada para livrar a própria pele de criminosos, no qual facínoras da política e delinquentes do alto empresariado se acusam mutuamente, num aviltamento moral que dá nojo. 

O mar de lama ultimamente escancarado faz cair, para número cada vez maior de cidadãos, a ficha de que as eleições são dominadas pelo capital. O que ainda não está claro para a maioria, embora seja sensível, é que o capital domina de modo segregacionista e destrutivo toda a sociedade. Quer-se que o pé da laranja dê manga.

O processo eleitoral é a extensão legitimadora, do ponto de vista jurídico-institucional, da dominação e opressão capitalista. Votando, o cidadão com é, ao mesmo tempo, cúmplice e vítima da dominação que lhe impõem e da opressão sob a qual padece. 

As sociedades capitalistas se decompõem economica e institucionalmente pela falta do elemento vital no seu organismo: a reprodução contínua e aumentada do valor (dinheiro e mercadorias). É esta evidência, tornada cada vez mais explícita, o que mais atemoriza os donos do capital e seus submissos títeres políticos do estado. 

Mas, contra isto eles podem fazer, pois é a própria essência do móvel da dominação sem sujeito – a forma valor – que está na base da decomposição institucional. Os defensores do capital não podem mais resolver o problema tacando porradas em pretensos terroristas e subversivos. O impasse evidencia a premente necessidade de superação do atual modelo social.  

É importante sabermos o que está por trás da indução institucional (sob pena de multa e de subtração de alguns direitos) ao voto, que em muitos países se constitui numa obrigação disfarçada em direito, sendo no Brasil tida como falaciosa liberdade de escolha, pois ao indivíduo social transformado em cidadão cumpre tão somente chancelar aquilo que já foi previamente escolhido e enquadrado. 

O voto apenas dá legitimidade jurídico-institucional à opressão contida na apropriação indébita do tempo de trabalho, roubado do trabalhador pelo capitalista, que dele se apropria como único modo de acumulação do próprio capital.

Tal roubo agora está sendo cada vez mais dificultado pela própria contradição da dinâmica da concorrência de mercado, que coloca as máquinas como elementos dominantes e torna o trabalhador mero vigia destas, eclipsando-se face a elas e tornando-se supérfluo para a vida social, pois deixa de ser produtor de valor e pode ser descartado como um objeto qualquer. Um absurdo que denuncia e coloca em xeque toda a ordem capitalista. 

Assim, o voto é a chancela legal para este crime perpetrado contra o próprio eleitor transformado em trabalhador assalariado, a grande maioria da população, uma vez que é o trabalho abstrato a fonte de todo o roubo capitalista.
Mas, votar é também: 
a) passar uma procuração, com poderes de representação parlamentar irrevogável por quatro anos, a um político, para que elabore leis dentro de um compromisso e juramento constitucional, cujos limites de atuação estão expressos nessa mesma constituição que expressa a ordem capitalista e todas as suas contradições e opressão intrínsecas;  
b) outorgar um mandato para o exercício de um mandatário do poder executivo de Estado, cuja função precípua é a regulamentação, indução e manutenção da ordem econômica capitalista, a qual é financiada pelos impostos pagos pelo cidadão, cujos benefícios sob a forma de suprimento de demandas sociais, embora pífios, servem para dourar a pílula que lhe fazem engolir, qual seja o discurso sobre a essencialidade do Estado, como se este fosse um mero e isento síndico defensor dos interesses coletivos; 
c) submeter-se ao pagamento de uma dívida pública crescente e seus juros, a qual, embora não seja sua, é paga com os impostos que lhe são cobrados coercitivamente, sob pena de lhe cassarem a cidadania (ademais, tal dívida não para de crescer, pois os custo da sustentação do Estado excedem cada vez mais o total auferido com a arrecadação de impostos);   
d) custear os exorbitantes gastos eleitorais da chamada democracia, uma vez que cada candidato e partido se veem obrigados a financiar toda a propaganda eleitoral, compra de políticos e seus currais eleitorais, etc. É você quem paga tudo isso, pois tais custos são financiados por empresas que retirarão do governo os benefícios financeiros que deveriam ser usados em benefício do eleitor e que, obviamente, vão para os bolsos dos empresários;   
e) é ser inocente útil ou cúmplice consciente da opressão sistêmica, legitimando-a. 
O OPRIMIDO PAGA A CONTA DE SUA OPRESSÃO
.
Por tudo que se pode inferir, após mais de um século do exercício do voto, é que ele não representa a livre manifestação da vontade do povo, mas sim a manipulação dessa vontade. Assim, quanto mais se aprimoram os mecanismos eleitorais, mais se tornam sofisticados os elementos subliminares ou diretos de tal manipulação. 

A grande mídia cumpre um papel primordial neste sentido, pois, além de iludir o eleitor no tocante à importância do voto e da escolha de bons políticos (condição impossível de se realizar pelo próprio enquadramento a priori de suas funções institucionais, pois quem tenta ser honesto na política acaba expelido como um ser estranho ao organismo), é ela quem viabiliza a cara propaganda oficial de chamamento do eleitor ao comparecimento às urnas também paga com o dinheiro dos impostos. 

Não há dúvida: na democracia, quem paga a opressão nela contida é o próprio oprimido. 

Há um quê de hipocrisia na surpresa da mídia e da Justiça face à corrupção eleitoral e ao volume de dinheiro nela envolvido. Acaso não se sabia que os exorbitantes gastos eleitorais eram custados por interesses empresariais sistêmicos e pela corrupção com o dinheiro público?
.
ENTRA PRESIDENTE, SAI PRESIDENTE E NADA MUDA
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Uma grave crise envolvendo os três Poderes do Estado se desenrola há algum tempo. Na base dessa crise estão a amoralidade inerente à extração de mais-valia e, principalmente, a depressão econômica que infelicita a todos, exigindo soluções que não virão dentro do sistema. E ela é potencializada pela explicitação de uma gigantesca rede de corrupção, envolvendo empresas privadas, companhias estatais e políticos. 

O povo é quem mais padece sob tal estado de coisas, sem que se apresentem soluções efetivas. As propostas de saídas são sempre as mesmas; entra presidente, sai presidente e nada verdadeiramente muda. Já se fala na realização de eleições diretas para um mandato-tampão ou na antecipação do pleito marcado para outubro de 2018, como se fossem uma panaceia; ora, sem erradicar-se a imoralidade intrínseca do sistema, isto seria apenas o eterno retorno ao ponto de partida.

A crise institucional entre Judiciário, Executivo e Legislativo é reflexo de um modelo social exaurido – o modo de vida mercantil tornado obsoleto , no qual o Estado e a política são meros subsistemas reguladores, sem soberania e capacidade de superação. 

Só a transcendência do modelo mercantil, do Estado e da política, pode liberar a imensa capacidade criativa e o saber havido e por haver pelo ser humano em seu benefício.

Negar o voto não é tudo, mas será um bom começo.

Não clame pelo voto! Não vote! Não seja cúmplice (e vítima) da engrenagem que tritura as esperanças do povo brasileiro!
Por Dalton Rosado   

2 comentários:

Veloso disse...

Dalton... Celso.
Onde acho escritos que possam indicar meios para a superação do capitalismo?
Alguém já escreveu sobre isso, um itinerário para, pelo menos em tese, começarmos a ver uma luz no fim do túnel e que não seja outro trem?
Tenho lido e passado essas informações, mas informações somente não bastam, temos que ter conhecimento para agir... Quais seriam essas ações?...
Parece-me que Marx informou-nos do assunto, mas, na época, como agiram gerou esse caos ora reinante...
Hoje as ações devem ser outras, diferentes de a cem anos atrás, concorda?...

celsolungaretti disse...

RESPOSTA ENVIADA PELO DALTON POR E-MAIL:

Caro Veloso,

não há (e não pode haver, mesmo) um caminho a ser trilhado para a superação do capitalismo como numa receita de bolo. A principal dificuldade decorre no fato de que está tão enraizada na nossa mente a ideia de que só podemos fazer alguma coisa com o dinheiro, que todas as nossas ações partem desse pressuposto equivocado, quando, na verdade, agora, a vida social justamente por ser mediada pelo dinheiro já se tornou inviável em sua maior parte.

A questão fundamental se resume a buscarmos uma forma de produção de bens e serviços de modo natural, sem o artificialismo da forma-valor, ou seja, produzirmos para satisfazer necessidades de consumo e não para encher a sacola do próprio capital, que graças às suas contradições internas, está travando a sua própria existência e a vida social. Até os capitalistas beneficiários do capital estão perplexos com a inviabilidade do sistema do qual tiram seus benefícios e vivem sob um constante estresse para se manterem vivos como tais.

A partir desse pressuposto básico - produzir para distribuir e não para vender - é que vamos construir uma organização social que seja consentânea com essa forma de produção social.

Negar o Estado e suas instituições falidas, que dão suporte à exploração capitalista e buscarmos formas alternativas de produção juntamente o grande e crescente contingente de trabalhadores desesperados tornados supérfluos pelo capitalismo (impedindo que uma parte desse contingente migre para o crime, como já ocorre), aliada a uma conscientização sobre o que está na base da barbárie em curso, é tarefa primordial (consciência é a palavra de toque).

Um abraço e obrigado pela leitura. Vocês são imprescindíveis. Dalton Rosado

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