Por David Emanuel Coelho |
O reformismo, originalmente, foi um movimento surgido a partir da II Internacional. Tinha por base a ideia de uma passagem gradual ao socialismo, em oposição à ideia tradicional de uma ruptura revolucionária com o capitalismo.
Em grande medida, tal visão estava lastreada no processo de acomodação do proletariado no interior do capitalismo, como consequência dos direitos cada vez maiores concedidos pela burguesia, bem como da institucionalização dos partidos operários e dos sindicatos.
Parecia estar caindo por terra a concepção marxista do proletariado enquanto classe radicalmente negadora da sociedade burguesa. Assim, pensavam os defensores do reformismo, seria possível melhorar o capitalismo até este tornar-se socialismo.
O reformismo foi representado pela chamada primeira social-democracia. A segunda social-democracia modificou ainda mais esta visão inicial. Impactada pelo stalinismo e pela falta de liberdades políticas nos países auto-proclamados comunistas, este grupo passou a defender a possibilidade da convivência entre o regime capitalista de produção e o socialismo, mantendo a democracia burguesa.
"Só restava tentar administrar os estragos do capitalismo" |
Porém, o neoliberalismo sepultou as concepções da segunda social-democracia. A maioria de seus antigos partidos migrou para a nova forma ideológica, sendo o fim da URSS um fator determinante neste movimento. As utopias estavam mortas, diziam, e só restava tentar administrar os estragos do capitalismo.
E aí que surge a terceira forma da esquerda social-democrata: a esquerda administradora, ou, de modo mais elegante, a esquerda zeladora. O filósofo brasileiro Paulo Arantes nota a característica fundamental da nova esquerda pós-URSS de ser uma esquerda bombeira, sempre buscando apagar o fogo do regime capitalista.
Paulo Arantes: uma mera esquerda bombeira. |
Assim, são lançados projetos sociais ou de transferência de renda (um engodo retórico, pois a renda é criada pelos próprios sujeitos que, de acordo com tal discurso, a receberão, ocorrendo, no fundo, uma mera mistificação do processo de expropriação capitalista), os quais deverão normalizar a situação dos indivíduos mais marginalizados.
Certamente, normalizar é a palavra de ordem, estando esta esquerda obcecada em evitar explosões sociais ou qualquer forma de distúrbio por meio da administração dos problemas sociais.
Tanto é palavra de ordem que está sempre subjacente quando ela tenta vender seu peixe à burguesia.
A burguesia, defendem, precisa apoiar tal tipo de atitude pois assim será possível não apenas ter uma lucratividade tranquila, como também inserir tais pessoas no ciclo de reprodução do capital enquanto consumidores.
No plano econômico, porém, tal esquerda aplica o receituário neoliberal, ajudando a aprofundar o processo destrutivo do mundo social. É como se a esquerda fosse, ao mesmo tempo, bombeira e copartícipe dos incêndios.
A esquerda zeladora pretende manter o regime capitalista funcionando sem maiores dissabores, normatizando as perturbações acaso surgidas.
Nesta condição, está longe não apenas da esquerda revolucionária, mas também da esquerda reformista, a qual ainda tinha o socialismo em seu horizonte.
Tampouco é possível falar de um estado de bem estar social, pois a lógica é apenas de minimizar os estragos junto aos mais pauperizados. Para a esquerda zeladora só importa o funcionamento normal do regime de acumulação.
Nesta condição, está longe não apenas da esquerda revolucionária, mas também da esquerda reformista, a qual ainda tinha o socialismo em seu horizonte.
Tampouco é possível falar de um estado de bem estar social, pois a lógica é apenas de minimizar os estragos junto aos mais pauperizados. Para a esquerda zeladora só importa o funcionamento normal do regime de acumulação.
Um comentário:
Pior que é isso mesmo...
Parecemos gado a caminho do matadouro...da JBS.
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