quarta-feira, 5 de abril de 2017

COMO JOGADOR DE FUTEBOL COM MEDO DE ENTRAR EM BOLA DIVIDIDA, O TSE CORRE PRA NÃO CHEGAR...

O julgamento do abuso de poder cometido pela chapa presidencial vencedora em 2014 começou no Tribunal Superior Eleitoral exatamente como os perspicazes cansavam de antecipar, mas os ingênuos não queriam crer: sinalizando que o andamento dos trabalhos será tão lerdo quanto necessário for para que dele nada resulte de substancial.

Aumenta-se o prazo para a defesa, reabre-se a instrução, cessam os trabalhos enquanto o ínclito ministro Gilmar Mendes estiver viajando, etc., etc., etc. Se ainda assim forem precisos, pedidos e mais pedidos de vista, que poderão durar tanto quanto o do mesmo Gilmar Mendes no caso do financiamento das campanhas eleitorais. E, claro, já não existe a mais remota chance de dois ministros dispostos a votarem contra Michel Temer conseguirem fazê-lo antes de serem substituídos compulsoriamente. 

Ou seja, é uma corrida de obstáculos, mas do tipo que, se os obstáculos forem transpostos mais rapidamente do que os organizadores pretendem, o juiz vai anular tudo e ordenará nova largada. 

Ainda que Temer fosse defenestrado (uma hipótese remotíssima), caberia a esse Congresso Nacional que todos conhecemos a indicação de seu substituto, podendo até vir a ser ele próprio, conforme conjeturou Gilmar Mendes (sempre ele!).

Resumo da opereta: o único motivo da existência do atual julgamento era afastar Dilma. Como a direita não brinca em serviço, guardou uma carta na manga para o caso de o impeachment fracassar. Agora, constata que foi excesso de zelo.

Até porque, neste momento não convém nem mesmo ao PT que Temer seja afastado. 

O partido da estrela cadente, que desistiu da via revolucionária e a ela não voltará nem que a vaca tussa, dá inequívocas mostras de que continuará seguindo obedientemente a ortodoxia capitalista; então é conveniente para ele que se façam agora as reformas impopulares que tiverem de ser feitas. Assim, se recuperar o poder na eleição de 2018, a limpeza das cavalariças do rei Augias já terá sido efetuada por outras mãos.

Temer pode preparar seus planos de governo para os próximos 20 meses. Com o Judiciário que temos, o Congresso que temos e a esquerda hegemônica que temos, nada ameaça verdadeiramente o seu mandato.

2 comentários:

Unknown disse...

É bem assim mesmo, Celso.

A única surpresa seria se o povo lutasse unido.

Modelos matemáticos econométricos projetam queda inexorável na produção industrial.

As medidas desumanas que querem (e provavelmente vão) implantar aumentarão mais a depressão.
PIB a 3¤/¤ não o veremos durante muito tempo.

celsolungaretti disse...

Sady,

algo que aprendemos nos anos de chumbo é que, quando lhe convém, o capitalismo tem poder de fogo mais do que suficiente para dar uma alavancada numa economia mixuruca como a brasileira.

Então, feitas as reformas que interessam ao grande capital, é bem capaz de retomarem os investimentos fabricarem um boom econômico de fôlego curto como o chamado "milagre", mas o suficiente para elegerem alguém do lado deles em 2018.

Em 1969 a economia estava mal e a insatisfação era enorme, embora o povão e a classe média tivessem medo de protestar. Em 1970 os investidores dos EUA despejaram aqui um montão de dólares e a ditadura se tornou simpática para os que pensam com o bolso. Éramos massacrados e ainda tínhamos de ver passarem carros com adesivos de "ame-o ou deixe-o!".

Muita coisa do passado já se repetiu. Eu temo que agora fabriquem um "milagrezinho brasileiro" e a coisa funcione como da outra vez.

É por isto que eu insisto tanto: temos é de construir uma esquerda de verdade, não ficar achando que o Temer está prestes a cair (não vai) e que o Lula é barbada para a eleição de 2018 (em último caso a Operação Lava-Jato o incapacitará para a disputa).

Quando a companheirada aprenderá a não subestimar o inimigo? Em 1970 muita gente boa do nosso lado morreu por cometer tal erro.

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