sábado, 1 de abril de 2017

AMÉRICA DO SUL EM TRANSE

Congresso em chamas no Paraguai...
Revolucionários que seguem as tradições marxista e/ou anarquista são unânimes em considerar a democracia de uma sociedade de classes como parte da superestrutura ideológica por meio da qual os exploradores martelam os seus valores na cabeça dos explorados, de forma a deles obterem consentimento para a dominação que exercem. 

Mas, as opções que lhe têm sido antepostas nestes tristes trópicos não conseguiram ser melhores, salvo exceções de praxe, como o bravo socialismo chileno de Allende, extirpado a ferro e fogo pelos gorilas do Pinochet, com descarado patrocínio estadunidense.

Ora são regimes meramente populistas e reformistas como o brasileiro de Lula e Dilma, que a burguesia achou conveniente usar durante certo tempo e, depois que perdeu a utilidade, jogou fora com um peteleco.

Ora são caudilhismos perdidos no tempo e no espaço, que desabam tão logo o caudilho morre ou sai de cena, sem que nada de consistente reste como herança, pois não era o povo organizado que estava no poder, mas sim um homem providencial que substituía o povo.
...e protestos contra o golpe judicial na Venezuela.
E, no extremo oposto, ditaduras sanguinárias e repulsivas de direita, que fizeram do nosso continente uma terra arrasada nas décadas de 1960 e 1970.

Nada indica que, neste ano da graça de 2017, a democracia burguesa dos países hermanos possa dar lugar a uma verdadeira democracia, que não servisse apenas para eternizar a exploração do homem pelo homem, mas respaldasse a priorização do bem comum, com igualdade econômica e liberdade política.

Então, ao contrário do bordão do nobre deputado Tiririca, pior do que está pode ficar, sim.

Na Venezuela, um governo catastrófico não quer largar o osso e adota medidas escrachadamente autoritárias,  sendo, contudo, obrigado a recuar quando o mundo inteiro clama ditadura!. Como o que se prenuncia é um banho de sangue, melhor seria Nicolas Maduro reconhecer que seus pés não cabem nos coturnos de Chavez e permitir a alternância no poder. 
Afinal, a Venezuela já chegou ao que deveria ser o fundo do poço, mas continua indo para baixo, sabe-se lá até quando. Como resumiu Clóvis Rossi:
"O problema da Venezuela (...) é também o de um monumental fracasso administrativo, que jogou na miséria um dos países mais ricos do subcontinente.
...a economia declinou quase 26% nos últimos três anos, índice que nem países em guerra conseguem registrar.
A inflação passa de 500% e os níveis de pobreza crescem sem parar: pesquisa apresentada em fevereiro por três universidades mostrou que, pela primeira vez na história, 82% dos lares venezuelanos vivem em situação de pobreza".
Enquanto isto, os direitistas paraguaios disputam encarniçadamente o poder, depois de terem se livrado do presidente esquerdista Fernando Lugo com um impeachment relâmpago em 2012.
O mandatário atual, Horacio Cartes, orquestrou uma virada de mesa parlamentar para poder candidatar-se à releição em 2018, o que era vedado pela Constituição paraguaia. Em protesto, centenas de pessoas saquearam e incendiaram o Congresso, daí resultando a morte do presidente da Juventude Liberal, baleado na cabeça por um policial.

Lembro a sábia advertência do Geraldo Vandré na canção Réquiem para Matraga: "Se alguém tem que morrer/ Que seja pra melhorar/ Tanta vida pra viver/ Tanta vida a se acabar/ Com tanto pra se fazer/ Com tanto pra se salvar".

Iniciativas como essas últimas do Maduro e do Cartes não produzirão nenhuma melhora, muito pelo contrário.

3 comentários:

axel_terceiro disse...

Celso, por essas e outras que eu gosto do teu blog. Além de inteligente, tu é HONESTO! Foda ver gente como Emir Sader fazendo malabarismos retóricos pra justificar o indefensável! Goveno da Venezuela tem que ser execrado por qualquer um que tenha compromisso com a democracia e ponto final! Parabéns e vida longa, Celso!

celsolungaretti disse...

Companheiro, essa história vem de longe. No século passado, grandes revolucionários temeram denunciar os crimes do Stalin, achando que isto desiludiria os trabalhadores. Foi pior a emenda do que o soneto. A máquina de comunicação burguesa os trombeteou a mais não poder e os comunistas eminentes que com eles compactuaram ficaram desacreditados.

O pior de todos os sapos que eles tiveram de engolir foi o de aprovarem o pacto de não-agressão entre a URSS e a Alemanha em 1939, que deixou Hitler com as mãos livres para conquistar a Bélgica, Holanda, Luxemburgo e França, o que acabou sendo o estopim da 2ª Guerra Mundial.

Você tem ideia do descrédito em que caíram os comunistas da Europa Ocidental que defenderam essa iniciativa do Stalin? Foram vistos como lacaios de Moscou, em detrimento do povo de seus próprios países.

Alguma coisa temos de aprender com o passado. Uma delas é que transigirmos em termos de princípios sempre traz péssimos resultados.

O regime venezuelano, sob Maduro, se tornou simplesmente indefensável. Negarmos o óbvio não o salvará, mas vai deixar o nosso prestígio em frangalhos. A imagem de fanáticos empedernidos é tudo de que não precisamos.

Não podemos nos comportar como os zumbis da Igreja Universal, quando os podres da seita estavam sendo investigados pela Justiça e escancarados pela imprensa, mas eles de nada queriam saber, dizendo que tudo não passava de maquinações do demônio.

axel_terceiro disse...

Exato, Celso. Olha o comportamento da militância petista que ainda considera o partido a melhor coisa que já aconteceu ao Brasil; o Lula, o maior brasileiro de todos os tempos e a Dilma uma guerreira no combate a corrupção... Quando é coisa de militante de cabeça oca eu ainda tolero. Chato é quando vejo que a coisa parte mais do mau-caratismo que da burrice(como no caso do Sader).

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