PETROBRÁS x PAULO FRANCIS
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Por Carlos Heitor Cony |
Durante o escândalo do mensalão, a opinião pública acreditou que, em matéria de corrupção, o poder havia atingido um limite insuperável, para não dizer inédito, na política nacional.
Ledo e ivo engano. Em poucos meses, com as sequelas que continuam e que ainda não terminaram, explode uma bomba bem maior e letal para o governo que há mais de dez anos vem sendo manipulado pelo PT.
Desde o primeiro indício de que, mesmo não sendo a Dinamarca, havia alguma coisa de podre no reino da Petrobras, meu primeiro pensamento foi o calvário de um jornalista, meu amigo Paulo Francis. No programa que então fazia, e gravado em Nova York, ele acusou os sobas que mandavam na maior estatal do Brasil.
Não chegou a citar nomes, falou que o estado maior da Petrobras, engenheiros, diretores e seus respectivos patronos formavam uma quadrilha de bandidos que roubavam descaradamente a empresa, justamente em sua cúpula administrativa e técnica.
Evidente que a suspeita do Francis foi desmoralizada pela própria Petrobras, que usando e abusando do dinheiro da fraude, processou o jornalista por calúnia, no foro de um país que tem a fama de ser o mais severo na matéria. A multa chegaria a US$ 100 milhões, mais custas e honorários.
Seus amigos e admiradores, como Fernando Henrique Cardoso, José Serra e outros do mesmo nível procuraram o presidente da empresa para explicar o absurdo do processo e da multa. A Petrobras, com o dinheiro dos outros, venceu a questão.
Paulo Francis entrou em depressão, tal e tanta, que meses depois morreu subitamente. Agora tomamos conhecimento gradativo que um jornalista culto e bem informado tenha feito as acusações que hoje são objeto de uma CPI e de um clamor que atinge não somente a honra da nação, mas a vergonha de todos nós.
Observação do editor: neste sábado em que se completam 20 anos da morte de Paulo Francis, fulminado por um enfarte num momento em que estava transtornado face à possibilidade de ter de pagar à Petrobrás uma fortuna que nem de longe possuía, vítima de uma das mais terríveis retaliações já vistas nas relações entre empresas e jornalistas, o blogue relembra, acima, um excelente artigo sobre o episódio: o do escritor Carlos Heitor Cony, publicado em 14/09/2014 pela Folha de S. Paulo, quando o mar de lama revelado pelo petrolão vinha comprovar que Francis é quem estava acerto, ao fazer as acusações que fizera à Petrobrás.
Para os interessados na vida e na obra do Francis, recomendo a leitura destes outros posts do blogue (cliquem p/ abrir):
- É hora de avaliarmos sua trajetória com um pouco de compreensão
- A tragédia da União Soviética: do sonho ao pesadelo (parte 1 e parte 2)
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