A atual crise entre Legislativo e Judiciário equivale a um strip-tease destes Poderes, com o Executivo simulando distanciamento enquanto, evidentemente, mexe pauzinhos nos bastidores. Só que nem os viciados em pornografia apreciam a exibição: nus, são todos horrorosos e repulsivos!
A coisa começa com um político alagoano fazendo carreira inexpressiva de deputado estadual e federal, até que a eleição do também alagoano Fernando Collor para a Presidência da República o catapultasse para posição de destaque, como líder do partido governista na Câmara Federal e depois líder do governo no Congresso Nacional.
Na crise do impeachment, Renan Calheiros deu a primeira mostra de sua aptidão para sobreviver a qualquer preço e por quaisquer meios: acusou o tesoureiro PC Farias e outros integrantes do governo de corrupção, além de assegurar que Collor tinha conhecimento de tudo.
Em 2007, face à revelação de que a empreiteira Mendes Jr. pagava uma mesada a sua amante Mônica Veloso, safou-se com a renúncia à presidência do Senado, mas, incrivelmente, conservou o mandato.
Depois, apesar de ser um dos políticos brasileiros mais investigados por fundadas suspeitas de diversas ilegalidades, foi se mantendo à tona graças à lerdeza habitual da Justiça e da Polícia quando seus alvos são peixes grandes. E, embora encalacradíssimo, seus nobres colegas reconduziram-no à presidência do Senado em 2013.
Tantas fez que hoje as ruas e os cidadãos de bem clamam, uníssonos, por seu afastamento: é o político em posição mais elevada dentre todos os que são tidos como a corrupção personificada.
Mas, o timing é ruim para o governo federal, que considera imperativa a aprovação do arrocho fiscal e teme que seu substituto, o petista Jorge Viana, use de todos os artifícios regimentais para protelar a segunda e definitiva votação da chamada PEC do teto dos gastos públicos, já aprovada pela Câmara e que ganhou de goleada (61x14) na primeira votação no Senado.
Com Renan prestes a virar réu de processo por peculato e o Supremo Tribunal Federal decidindo que cidadãos respondendo a processos não poderiam permanecer na linha sucessória da Presidência da República, o ministro Dias Toffoli, do STF, interrompeu a votação com um pedido de vistas, há mais de um mês. Ou seja, qualquer que venha a ser o seu voto, os dos seis ministros favoráveis à exclusão dos processados prevalecerão.
Mas, claro, se Toffoli continuar evitando que o martelo seja batido até o STF entrar em recesso, haverá tempo para Renan garantir a aprovação da PEC 241.
Marco Aurélio Mello, exatamente o ministro que relatou a matéria e se posicionou pela exclusão dos cidadãos processados da linha sucessória, reagiu com o afastamento imediato de Renan da presidência do Senado (embora provisório, pois dependia de confirmação do pleno).
O Senado afrontou a mais alta corte do País, negando-se a cumprir uma decisão que poderia ser contestada, mas nunca ignorada.
Outra possibilidade cogitada seria o Supremo decidir que Renan está inabilitado para assumir a Presidência da República no caso de vacância, mas pode continuar presidindo o Senado.
Quando ouço falar em atitude republicana, eu rio. Ninguém verdadeiramente a mantém nos podres Poderes tupiniquins, cada vez mais nauseabundos.
Caberia até uma reação na linha da frase célebre de Goebbels: "Quando ouço falar em cultura, saco logo meu revólver". Mas, como brasileiro cordial que sou, tenho de me resignar à condição de espectador impotente de mais um espetáculo grotesco do mafuá dos Poderes.
Vomitar é permitido.
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