"Cada dia a natureza produz o suficiente para nossa
carência. Se cada um tomasse o que lhe fosse
necessário, não haveria pobreza no mundo
e ninguém morreria de fome." (Gandhi)
AS TESES DE MALTHUS
E A CRÍTICA DE MARX
Há quem pense que a população mundial de mais de 7 bilhões de pessoas é grande para o tamanho do Planeta. Não é. O mundo tem capacidade de prover o sustento material de uma população muito maior do que a atual, e ainda preservando de modo ecologicamente sustentável a vida planetária. Para isto é necessário que se supere o modo de produção social, e é aí onde mora o problema.
O economista burguês Thomas Robert Malthus afirmou em seu livro Definições em Economia Politica, de 1827, que os alimentos crescem em progressão aritmética (adição sob uma mesma razão matemática) enquanto a população cresce em progressão geométrica (multiplicação sob uma mesma razão matemática); tal desproporção seria a causa da fome mundial já naquela época, e com tendência de aumento em face do crescimento constante dos contingentes humanos.
A afirmação malthusiana valeria, assim, para qualquer tido de sociedade e modo de produção, concluindo que deveria haver um controle de natalidade.
Marx rechaçou tal tese como "inteiramente falsa e pueril” (Grundrisse, Editora Boitempo, 2011), demonstrando uma obviedade: os alimentos podem crescer em proporção diferenciada e a maior do que a natural reprodução humana, dependendo do modo de produção social e do avanço do conhecimento sobre as técnicas e a tecnologia aplicada à produção agrícola.
Lembramos esta velha polêmica para dizer que a escassez mundial de alimentos, que tem acarretado o aumento da fome (segundo relatório da Fundação para a Agricultura e Alimentação da ONU) decorre de hoje somente se produzirem os alimentos que o mercado pode absorver; e o mercado somente pode absorver produtos que tenham baixo custo de produção.
Assim, a produção de alimentos em determinadas regiões de terras pouco férteis e sem recursos tecnológicos (domínio das técnicas agrícolas e inexistência de equipamentos como tratores, etc.), como em grande parte da África, se inviabiliza, eliminando a pequena produção e a produção de subsistência.
Somente as grandes empresas agrícolas ou grupos de empresários familiares com terras férteis e capacidade de investimento podem produzir alimentos na economia de mercado. Sob o capital, tudo tem de passar pelo buraco estreito da viabilidade econômica (Robert Kurz).
O mundo sempre teve abundância de terras agricultáveis em relação à população e hoje detém conhecimento e capacidade tecnológica para a produção de alimentos para uma população muito maior do que a atual. O que o mundo não tem é um sistema de produção voltado para a satisfação das necessidades humanas, ao invés da ganância do mercado.
O DESEMPREGO ESTRUTURAL
O capitalismo se expande abrindo frentes de produção e consumo. Entretanto, como se formata a partir de uma contradição de seus próprios fundamentos (cavando a sua própria sepultura num tempo histórico que é cada vez mais célere) ao mesmo tempo em que se instala em novas fronteiras mercantis, ele cria nessas mesmas fronteiras um contingente de pessoas não absorvidas no processo de trabalho abstrato, impedindo-as de qualquer outra forma de produção.
Ou seja, forma um exército de desempregados, que cresce sempre como o rabo do cavalo: para baixo.
Ou seja, forma um exército de desempregados, que cresce sempre como o rabo do cavalo: para baixo.
Como o trabalho vivo (assalariado, criador de riqueza abstrata) é uma mercadoria, sujeita à lei da oferta e da procura, há uma concorrência entre os próprios trabalhadores para a obtenção de empregos, com farta disponibilidade de mão-de-obra, o que força a queda dos salários. Assim, tanto se forma um contingente de desempregados como de subempregados.
No passado havia grandes centros produtores de mercadorias absorvendo contingentes expressivos de trabalhadores; agora, com a transferência da produção para zonas de oferta de mão-de-obra barata (globalização), estes enfrentam o desemprego massivo. O discurso populista, nacionalista, sem base científica, oportunista, falso, apresentando-se como suposta alternativa a tal regra capitalista perante um público que vê seus empregos fugirem, é que dá credibilidade ao capitalista-mor Donald Trump.
O pleno emprego não pode ocorrer de modo equânime em todas as regiões; podemos constatar este desequilíbrio nos dados de oferta de empregos de modo global, ou seja, entre todas as sociedades mercantis presentes em todas as partes do planeta. O lençol capitalista é curto.
Mas, tal realidade trágica se complica ainda mais à medida que se substitui o trabalho vivo dos homens pelo trabalho morto das máquinas; no estágio atual do capitalismo, a dispensa do trabalho vivo já supera a abertura de novos postos de trabalho. Esta, claro, é uma equação que não se sustenta em pé de jeito nenhum!
Trata-se do momento do desemprego estrutural e do limite interno absoluto da capacidade da expansão do capitalismo, sem a qual ele não sobrevive. É nele nos encontramos atualmente.
Como já dissemos noutros artigos, o capital se funda no trabalho necessário (que é pago ao trabalhador para a sua subsistência) e no trabalho excedente do qual se apropria indebitamente (executado pelo trabalhador numa faina diária, mas que não é remunerado pelo capital), como forma de viabilização de sua exigência autotélica: precisa de velocidade continua de aumento para sobreviver, o que impede qualquer tentativa de sua distribuição, incompreensão na qual caíram os marxistas tradicionais, que se trumbicaram).
Segundo Marx, “a capacidade de trabalho só pode executar o seu trabalho necessário se o seu trabalho excedente tem valor para o capital, e for utilizável por ele” (Grundrisse). Ou seja, o trabalho só existe como forma de fornecer ganhos para o capital, sem nenhuma preocupação com qualquer função social.
Ele se dissocia do interesse social para cumprir o seu desiderato tautológico de reprodução aumentada, vazia de sentido virtuoso; e quando isto não é possível, aumenta o contingente dos desesperados supérfluos do capitalismo, como agora ocorre de modo irreversível e socialmente patológico. O processo migratório mundial é resultante desta lógica capitalista insensível ao drama humano.
Mas, com o desenvolvimento da tecnologia aplicada à produção, o capitalismo mata a sua galinha dos ovos de ouro – os trabalhadores e o próprio trabalho abstrato.
É o que se constata nos dias de hoje, ratificando a tese da contradição capitalista em processo que aponta para a destruição social e para a sua autodestruição como modo de produção.
O capital é uma eterna tensão de morte, na qual ele é o potencial assassino.
É o que se constata nos dias de hoje, ratificando a tese da contradição capitalista em processo que aponta para a destruição social e para a sua autodestruição como modo de produção.
O capital é uma eterna tensão de morte, na qual ele é o potencial assassino.
UMA NOTÍCIA DE JORNAL E
A TRAGÉDIA DO DESEMPREGO
O pai da professora de biologia, Aline Alves, é parte dessa população desempregada. E, devido às dificuldades financeiras da família, Deysenaldo Nobre, de 54 anos, precisa urgentemente de um emprego.
Pensando nisto, Aline fez uma publicação pedindo às pessoas que comprassem sapatos numa loja de Fortaleza, na qual o seu pai está trabalhando como vendedor por tempo determinado, para que ele seja efetivado.
Explicou que Deysenaldo estava há quase dois anos sem trabalho e, no fim de novembro, conseguiu tal emprego temporário; contudo, só será efetivado no próximo ano, Deseynaldo se bater a meta da loja.
Em entrevista ao jornal O Povo Online, a professora conta que a renda de sua família é constituída pela sua remuneração, que não chega ao valor do salário mínimo, e pelos bicos que o seu pai e a sua mãe conseguem ao longo do mês. Ademais, a família está precisando conseguir dinheiro para a cirurgia oftalmológica de um filho. (por Dalton Rosado)
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