sábado, 5 de novembro de 2016

AQUECIMENTO GLOBAL JÁ CASTIGA O BRASIL. ATÉ QUANDO O IGNORAREMOS?

Por Marcelo Coelho
ACORDO DE PARIS ENTRA EM 
VIGOR, MAS BRASILEIROS 
NÃO ESTÃO NEM AÍ...
.
Nesta 5ª feira (3), mais um temporal se abateu sobre São Paulo. A cidade entrou em estado de atenção, o túnel do Anhangabaú inundou, a rodovia Anchieta foi interditada por alagamento.

No fim de semana anterior, o litoral sul do Estado se viu castigado por uma ressaca incomum. Em Mongaguá, as ondas batiam na mureta da praia e subiam 3 metros; postes caíram, a calçada cedeu.

Em Santos, no sábado (29), o mar invadiu a avenida Bartolomeu de Gusmão, no Embaré. Na Ponta da Praia, ruíram trechos da amurada na avenida Almirante Saldanha da Gama.

A ressaca foi causada por um ciclone extratropical, nome dado a grandes bancos de nuvens de chuva em forma de espiral com ventos na periferia muito mais fortes que no centro. No Rio de Janeiro, o ciclone produziu ondas de 4 metros, inundou barracas da orla e encheu de areia a avenida Delfim Moreira, no Leblon.

O ciclone também golpeou Santa Catarina com a habitual sequência de ventos, aguaceiros e ressaca. E isso depois de o litoral catarinense já ter sofrido temporais devastadores nas duas semanas anteriores.

A meteorologia está na boca do povo, mas sua ligação com a mudança do clima provocada pelo homem, não. Boa parte da culpa por essa indiferença cabe a nós, jornalistas, acomodados com a sabedoria convencional de que é impossível atribuir eventos climáticos particulares ao aquecimento global.

Isso era o que diziam os pesquisadores do clima dez anos atrás. Mas a ciência não ficou parada e já consegue, em muitos casos, estabelecer o nexo entre uma coisa e outra, no que se chama de estudos de atribuição. Há um bom resumo desses avanços num boletim recente da Organização Meteorológica Mundial.

Ali se aprende que esses estudos empregam dois tipos de simulações de computador para a região afetada, um que leva em conta só fatores naturais e outro em que pesa também a influência humana sobre o clima. Comparando quanto as simulações se aproximam ou divergem do ocorrido, dá para estimar a probabilidade de esses eventos extremos serem artefatos criados pelo homem.

Debruçados sobre a onda de calor que matou 35 mil pessoas na Europa em 2003, pesquisadores concluíram que o aquecimento global pelo menos dobrou, e pode ter até quadruplicado, o risco desse tipo de desastre. 
Outro trabalho considerou que a estiagem e as temperaturas recordes registradas na Austrália em 2013 seriam virtualmente impossíveis sem a mudança climática.

Já uma investigação sobre a seca no Sudeste brasileiro em 2014-15, que esvaziou o sistema Cantareira e forçou o racionamento de água na Grande São Paulo, chegou à conclusão de que o elo com as loucuras do clima é tênue. Tudo indica que se trata mesmo de negligência na ampliação do abastecimento para fazer frente ao crescimento populacional e à alteração dos padrões de consumo.

No geral, a ciência da atribuição tem mais facilidade para vincular ondas de calor em grandes áreas com o aquecimento global do que consegue fazer com as tempestades (como as que ora se abatem sobre o Sudeste). Não será surpresa se a incrível sucessão de cinco anos de seca no Nordeste, que reduziu a represa de Sobradinho ao volume morto, acabar atribuída à mudança do clima, e não só ao fenômeno El Niño.

De todo modo, é crucial explicar, para que as pessoas comecem a pensar mais seriamente sobre esse novo normal, o nexo entre o que estamos fazendo como o clima e os temporais. O mecanismo, afinal, é quase intuitivo.

Uma atmosfera mais quente retém mais vapor d'água. Mais evaporação significa nuvens mais poderosas, que por sua vez originam tempestades muito mais caudalosas, mesmo que breves. Daí as enchentes. Ciclones também têm muito a ver com a temperatura do mar, e o Atlântico Sul está em aquecimento acentuado.

É como se as chamadas chuvas de verão se tornassem mais frequentes e passassem a cair também fora de época. Nada que os paulistas, os fluminenses e os catarinas já não estejam sentindo na pele, há anos, mas que por pura superstição preferem atribuir a São Pedro.

Na próxima segunda (7) começa em Marrakech a 22ª Conferência Mundial do Clima, que vai debater meios de pôr em prática a meta do Acordo de Paris de impedir que o aquecimento global ultrapasse 2°C (e de preferência fique em 1,5°C). Poucos brasileiros estarão prestando atenção, embora conheçam de perto os eventos climáticos extremos cuja proliferação o tratado pretende evitar. 

3 comentários:

Valmir disse...

considerando que só existem dois tipos de problemas no Brasil:
1- os que não tem solução
2- os que se resolvem sozinhos..
não sei o que dizer de quem espera que o país resolva esse negocio de aquecimento global...
me parece um negocio como aquele de quando o Lula ia acabar com a fome no mundo...e todos os aeroportos do mundo desenvolvido estavam lotados de pessoas brigando por vistos para vir para o Brasil pq aqui tinha virado o novo Xangri lá segundo a mídia doidivanas...
enfim deve ser por isso que a America do sul é a pátria do realismo fantástico né?

Anônimo disse...

Toda vez que leio um alarmista do AGA, não sei se caio na risada ou procuro o sujeito e o mando para aquele lugar por mentir. A região metropolitana de São Paulo impermeabilizou centenas de quilômetros quadrados de solo e estrangulou as calhas de vazão, inclusive ocupando as margens dos rios. Como não querer que ocorram enchentes? A mesma precipitação que causou a última seria um pequeno fato pitoresco há cem anos, causando apenas o ronco dos ribeirões.

Todos os eventos de tempo são considerados como fatos inéditos na história. Quando Sandy tocou terra nos EUA era uma tempestade, já havia deixado de ser um furacão há um bom tempo, no entanto, foi tratado como prova da destruição do planeta pela atividade humana. Em 1954 a costa leste yankee (recuso-me a escrever americana) foi atingida por 3 verdadeiros furacões em sequência: Carol, Edna e Hezel. Todos só perderam o status para tempestade ao chegarem ao Canadá.

Criou-se um mito que antes da revolução industrial o clima era calmo e previsível, sem alterações bruscas e destrutivas. No Brasil não existem registros meteorológicos acurados por um longo período de tempo, muito menos estudos paleoclimatológicos. Onde existem são tratados como evidências contrárias às teses do juiz Moro: Não vêm ao caso. Nos últimos anos a seca na Califórnia foi tratada como consequência da alteração climática causada pelo homem, porém, por volta dos anos 1200 a 1400 a região tinha uma clima desértico.

No Brasil, em 1967, tivemos o maior desastre natural registrado. Os litorais dos estados de São Paulo é Rio de Janeiro sofreram graves destruições. As regiões mais atingidas foram Caraguatatuba-SP (março) e Piraí-RJ (janeiro), apenas nestes dois lugares estima-se quase 2.000 mortos. Neste período o planeta estava em fase de arrefecimento, tanto que os cientistas temiam uma nova era do gelo. Receio que persistiu até o final dos anos 1970. Naqueles lugares, durante o verão, há quase quarenta anos, o volume de chuva foi inimaginável. De 3 a 4 vezes mais que o verificado na última tragédia da região serrana do Rio.

O sistema climático da Terra é caótico, possui ciclos longos, médios e curtos. Como as eras glaciais. Há menos de 200 anos possuímos instrumentos capazes de aferir indicadores nessa área. Com precisão acurada menos de quarenta. Extrapolar três ou quatro décadas como a realidade perene é dogma de seita, no melhor dos casos.

SF disse...

A destruição sistemática de florestas tem, talvez, consequências mais graves que a emissão de gases do efeito estufa.
Floestas são termorreguladoes que garantem maior estabilidade no clima.
Sem florestas (elas existiam em grande quantidade aqui) os gradientes de temperatura aumentam.

O engraçado é que os caras construiram satélites para travarem guerras, promover ilusões e dominar as mentes, porém assistem a redução do gelo do ártico em tempo real. (Tem uma time-lapse de 26 anos mostrando o fenômeno)
Será que dirão que não sabiam?

Outra ameaça, derretimento do permafrost, poderá liberar imensas quantidades de metano.

Mais metano, menos florestas, clima mais quente, mais metano, menos floresta, temperatura média mais alta...
Acho que é um mecanismo que se retroalimenta.

Posso estar errado, mas destruir a mata gera o deserto, aprisionar o calor esquenta o ambiente e poluir mostra displicência para com os processos produtivos.

"A sujeira é do demonho e a limpeza é de Deus" dizia Seu Zé, meu ex-vizinho octagenário.
Limpeza mano?
Cê que escolhe...

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