"Você nunca é ganancioso demais"
(Donald Trump)
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Costuma-se considerar que a política e seus agentes representativos têm soberania de vontade sobre seus atos, dependendo apenas destes os acertos ou erros na condução dos mais variados aspectos da vida social. Tal conceito, que pode ser aceito para as questões de pequena monta (ainda que elas sejam influenciadas por uma vontade sistêmica maior), é absolutamente equivocado para questões macrossociais como a predação ecológica planetária patrocinada pelo capitalismo globalizado.
A politica e os políticos podem decidir sobre a prioridade de uma obra ou de melhorias numa determinada área dos serviços públicos (ainda que isto signifique desprestígio de outros setores, graças ao cada vez menor volume de recursos públicos), mas não podem dar ordens conflitantes com o comando abstrato da lógica mercantil da qual são meros administradores dependentes do instrumento de regulação e indução capitalista – o Estado moderno.
Ao invés de possuírem vontade soberana, os políticos e a politica são vassalos institucionais da lógica de reprodução do valor na vida social mercantil, que os elege e sustenta por meio dos impostos e das generosas contribuições empresariais de campanha. Ao invés de ter um comando soberano, a política é comandada de modo submisso por uma lógica intrinsecamente negativa instalada em todas as sociedades mercantis mundiais e que ao atingir, tal estágio limite de expansão, começa a definhar de modo acelerado.
Assim, a depressão econômica em curso, antes de apontar para soluções alternativas, provoca uma tresloucada e predatória extração dos recursos naturais, acelerando ainda mais o processo de aquecimento global e uma onda conservadora.
Cabe, então, a pergunta: como os políticos estadunidenses e chineses, maiores emissores de CO² na atmosfera, nascidos e empossados sob a lógica do capital, vão cumprir o acordo de Paris se isto provocaria uma desaceleração ainda maior nas suas economias em depressão?
A nocividade presente e as ameaças futuras causadas por estes dois fatores conjugados (depressão econômica e predação ecológica, com profunda interdependência entre si) até agora não foram suficientes para empurrar a opinião pública para frente – ou seja, para a desconstrução das formas sociais políticas e de mediação social falidas, substituindo-as por formas de organizações sociais autônomas, racionais e sustentáveis do ponto de vista da produção.
Pelo contrário, a rediviva maioria silenciosa tende a caminhar para trás, dando crédito a discursos demagógicos conservadores que apenas representam mais daquilo que é causa do seu infortúnio.
É por isto que Donad Trump, um abestado (como se diz no Ceará) e abastado ganhador de dinheiro, emblemático representante do 1% da população mundial que detém 99% de toda a riqueza abstrata do restante da população, poderá se tornar presidente dos EUA, com seu discurso retrógrado, xenófobo, racista, machista e belicista.
No atual estágio da concorrência globalizada da produção mercantil, a luta desesperada pela hegemonia de um mercado cada vez mais depressivo, como modo de sobrevivência econômico-política, não pode prescindir da submissão política dos seus agentes.
E, como o processo eleitoral é definido pelo poder econômico e pela mídia empresarial, dos quais depende também o próprio cumprimento integral dos mandatos eletivos (a Dilma que o diga!), o clamor público pelo combate ao aquecimento global tromba com os compromissos político-econômicos que os candidatos ao Executivo e Legislativo assumem para ser vitoriosos nas urnas.
Ouvi há pouco o seguinte comentário cínico de um grande capitalista: "A miséria da crise que afeta as nossas atividades empresariais, nós resolvemos com demissões na base do vão-se os anéis e fiquem os dedos; mas o aquecimento global constitui o nosso maior problema, pois ele não é seletivo, atinge-nos a todos e pode nos matar".
O impasse surgido na Conferência do Clima em Paris advém da contradição entre a necessidade de mercado e a necessidade de vida no Planeta, e esta é uma questão verdadeiramente mundial, sem distinção de países (enquanto as regiões que tradicionalmente eram atingidas agora têm seus problemas agravados, as demais também vão, cada vez mais, entrando na dança).
No Ceará, após cinco anos de seca, os reservatórios estão exauridos. A cidade de Fortaleza e região metropolitana, com mais de 3 milhões de habitantes, vive uma situação limite e está ameaçada de colapso de abastecimento d’água. Os municípios do interior têm a mesma expectativa, caso não venham as chuvas previstas para janeiro/maio de 2017.
Como se não bastasse o aquecimento global (causado pela emissão de gás carbônico, metano e óxido nitroso na atmosfera, que causam o efeito estufa que aquece a temperatura do Planeta), temos de acréscimo:
- a contaminação dos alimentos por pesticidas (que aumentam o nível de produtividade dos produtos agrícolas, mas causam câncer); e
- a poluição dos mares, rios, lagoas, represas, pelo escoamento incontrolável de dejetos humanos, resíduos sólidos e produtos químicos.
São as mazelas decorrentes de uma mesma fonte de irracionalidade: o sistema produtor de mercadorias.
Vivemos sob uma forma social doentia, destrutiva e autodestrutiva, da qual somos meros agentes inconscientes e reprodutores insanos. Trata-se do fetichismo da mercadoria que nos domina, invertendo a realidade ao transformar o abstrato (a forma-valor) em algo real, concreto e fundamental, que não satisfaz necessidades humanas mas que delas faz uso, tendo como primeiro pressuposto existencial a satisfação do desiderato vazio de sentido virtuoso estabelecido pela sua lógica autotélica segregacionista e assassina.
Está mais do que na hora de fazermos a revolução social da emancipação humana, que somente será possível com a superação do sistema produtor de mercadorias e a entourage politico-institucional que o sustenta! (por Dalton Rosado)
3 comentários:
pq o obvio é sempre o mais difícil de ser visto?????
somos quase 8 bilhões..os brasileiros doidivanas e desmiolados dobraram em seu numero nos últimos 30 anos..como a inteligencia total existente no mundo é um valor fixo cada idiota que nasce...nasce um pouco mais idiota..e todos sem exceção querem bifes, carros, geladeiras, televisão, internet e tudo o mais que os miolo mole da esquerda chamam de consumismo...mas vai falar em controle populacional pra ver???? igrejas de todas a confissões, esquerda e direita saltam de cada moita com sete pedras na mão...pobreza e miséria é a matéria prima básica de todos eles e a ultima coisa QUE querem ver é sua fonte secar...
Dalton,
Vc só escreveu verdades.
O incremento da temperatura média anual lembra os juros compostos.
Cada centésimo de grau acrescido fica lá, condicionando um aumento de um centésimo e um milésimo no próximo ano.
Os caras sabem disso.
Possuem supercomputadores para simular cenários de como será o futuro próximo.
Será que é por isso que estão pensando em Marte?
Seja como for, existe um grande desafio á frente.
Minha experiência é que tudo isso passará.
Nos acomodaremos à nova realidade.
Daremos novas respostas para as velhas perguntas.
Existirão mortos e feridos, mas quando não os houve?
Qdo ouvi sobre aquecimento global, pensei: hora de comprar terras na Groenlândia.
Neste mundo velho, uns choram e outros vendem lenços.
RESPOSTA ENVIADA PELO DALTON:
Caro Valmir,
não acho que o problema da humanidade seja de superpopulação. A densidade demográfica em muitas regiões do Planeta, como na Oceania e na América do Sul, por exemplo, é bem baixa. O problema do aumento da miséria e da fome mundiais, que reproduz populações sem instrução; sem consciência da natureza dos males que a afligem; e que são por isso mesmo são mais facilmente manipuladas e marginalizadas, reside num modo de produção que se tornou anacrônico e que os donos do poder (econômico e político) insistem em manter, apesar de toda a tragédia social em curso (ecocídio aí incluído).
Um abraço, Dalton Rosado
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