sábado, 15 de outubro de 2016

PARTIDOS POLÍTICOS SOB O CAPITALISMO: IGUALADOS NO FUNDAMENTAL.

“Políticos e fraldas devem ser trocados de 
tempos em tempos, e pelos mesmos 
motivos” (Eça de Queiroz)
.
O mundo capitalista se divide em apenas duas correntes políticas: os liberais, que defendem a não intervenção do Estado na vida mercantil; e os estatizantes, que defendem a intervenção do Estado ou seu controle completo (estes últimos compõem as vertentes marxistas-leninistas), mas somente até certo estágio de suas economias, quando a privatização se impõe nessa mesma sociedade mercantil ou capitalista. 

Obviamente é em torno dessas duas correntes que ocorrem as variações periféricas, com acentuação de intervenção neste ou naquele ponto. Se não, vejamos:
  • os trabalhistas se fixam na pretensa defesa dos trabalhadores;
  • os ecologistas, na defesa da ecologia;
  • os socialistas, na defesa do Estado do bem-estar social;
  • os liberais, na defesa do livre comércio; 
  • os sociais-democratas, na defesa das franquias democráticas associadas à defesa dos direitos individuais;
  • os comunistas, na transferência da propriedade privada dos meios de produção para a propriedade estatal; 
  • os republicanos, na defesa dos postulados burgueses proclamados pelos princípios iluministas conservadores; e
  • os democratas, na defesa dos direitos civis.
Há, ainda, os nacionais socialistas ou fascistas; os partidos religiosos (sociais-cristãos, evangélicos, etc.); e os que se estruturam apenas em defesa de questões pontuais, como o Partido dos Aposentados Nacionais, os partidos étnicos (Poder Negro, sionista, anti-sionista), o das minorias sexuais, e por aí vai.

Na verdade, tal caldeirão de programas e ideologias partidários que atuam dentro da institucionalidade, e até mesmo os que querem destruí-la de fora, têm uma mesma base: a mediação social pela forma-valor. Este é o ponto que os une indissoluvel e irremediavelmente. 

Até mesmo os anarquistas (que sempre criticaram os partidos políticos, o Estado e a religião), por mais próximos que estivessem de uma ruptura com essa unidade, jamais questionaram a forma-valor na sua essência constitutiva e a desvendaram criticamente. 

Quem o fez foi Marx, tendo sido a única voz discordante desta base, embora exista uma contradição entre o jovem Marx (que admitiu a existência do partido do proletariado como via para sua extinção num determinado ponto futuro, juntamente com o Estado) e o Marx da maturidade (que previu o definhamento do proletariado enquanto classe trabalhadora pela obsolescência da trabalho abstrato, com o consequente colapso interno da forma-valor por seus próprios fundamentos).
     
No Brasil a coisa é pior, pois chega a ser paradoxal a questão programática e ideológica dos partidos políticos: todos eles são o contrário daquilo que sugerem os seus nomes, programas e denominações:
  • o Partido dos Trabalhadores (PT) é social democrata; 
  • o Partido da Social Democracia (PSDB) é neoliberal conservador; 
  • o Partido Trabalhista (PTB) é conservador e composto por empresários ou pelos representantes destes; 
  • o partido consentido pela ditadura militar para lhe fazer oposição de mentirinha, o PMDB, é governista, independentemente de quem esteja no governo (e, eventualmente, seus Sarneys e Temers pegam carona oportunista no trem da História); 
  • o Partido Comunista (PC do B) prega a retomada do desenvolvimento econômico empresarial privado, o que significa mais capitalismo;
  • o Partido Democrático é trabalhista (PDT); e
  • o Partido Socialista Brasileiro (PSB) é historicamente de centro-esquerda, sendo agora comandado por conservadores ligados ao mundo empresarial ou políticos do arco-íris ideológico.
De resto, os mais de duas dezenas de outros representam uma massa fisiológica destituída de força programática e ideológica, gravitando em torno do poder, qualquer que seja ele. 

O quadro acima demonstra bem o que todos eles são e o que é a política.    

Na verdade, como já dissemos, o que os unifica é a base de mediação social econômico-mercantil sobre a qual se assenta as suas existências; e o que determina suas atuações é a busca ou convivência fisiológica com o poder que serve a esta mesma lógica mercantil. 

A economia mercantil, como ciência social que é, tem regras matemáticas aplicadas à valoração numérica da riqueza abstrata (o valor), mensurada por um padrão monetário qualquer. 

Assim, qualquer governante, ao sentar-se na cadeira da administração do Estado, terá de cumprir os ditames da relação entre a receita tributária e os gastos com a manutenção da máquina; com os serviços de infra-estrutura governamental, controle monetário, e com os gastos relativos às demandas sociais (esta última incumbência vem por último, não aleatoriamente, mas por ser considerada a função menos importante). 

Resumindo: o governante não governa, mas é governado pela lógica mercantil da qual é dependente. 

Tanto os liberais como os estatistas são sempre ortodoxos no que diz respeito ao tratamento da crise econômica quando ele atinge as finanças públicas, como agora ocorre. O ministro das Finanças do Governo Temer é o mesmo do Governo Lula, o que mudou foi a situação econômica do Brasil e do mundo (com seus reflexos na nossa economia), sob as quais Henrique Meirelles administra as finanças públicas. 

A fórmula é sempre a mesma: ajustar as contas públicas de modo a compatibilizar receita e despesa à ordem de prioridades de salvação do Estado e da economia. Isto implica o corte de gastos, atingindo principalmente as demandas sociais.
Então, com a crise pioram as condições da previdência social, aumentando-se o prazo para obtenção das aposentadorias e diminuindo-se os valores para os beneficiários; reduzem-se os gastos com educação e saúde, bem como com serviços e obras públicas em benefício da comunidade, e por aí vai. 

Tal receituário é comum a qualquer governo diante da crise, independentemente de sua conotação programática e ideológica. 

As diferenças periféricas de escolha das prioridades diante da escassez, que dependendo da orientação ideológica do partido no governo são mais ou menos humanistas, não têm o condão de alterar a substância das ações governamentais. 

A questão não é, portanto, a boa ou má escolha de partidos e políticos, mas a definição do modo de produção dos bens e serviços necessários à vida social e seus mecanismos de organização, consentâneos com este mesmo modo de produção. 

O modo de mediação social atual, bem como a sua correspondente e imanente organização, está falido. A nós cabe a imensa tarefa de compreendermos isso e instituirmos um novo modo de ser social.

Que me perdoe Fernando Pessoa e sua verve brilhante e criativa, mas os políticos não devem ser trocados de tempos em tempos como as fraldas, mas sim impedidos de fazer a (di)gestão.
Por Dalton Rosado

Um comentário:

João Luiz Pereira Tavares disse...

Para você que aí fica
Vou te dar uma dica
Além de sonso e vagabundo
Sou Cineasta Diretor
A MAMÃE é pamonha
Me estimulou na maconha

Deus não dá noz nem voz
a quem não tem dentes
Se você ainda não sabe
Vivo de Festival de Tiradentes.
P’ra garantir minhas mesadas

Fixo nas mais caras pousadas
Para divulgar meu Aquarius
Sou capaz de roubar um Stradivarius
Onde há dinheiro público
Sou como o Mustela putorius
Juro por tudo que é bíblico

Mando essa antes que acabe:
Vivo da Lei Rouanet
Sou do PeTê
Não vejo empecilho
Sou Kleber Mendonça Filho.


=====
JL.




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