Por Elio Gaspari |
BRASIL PRECISA DE OPOSIÇÃO
Começa amanhã o julgamento de Dilma Rousseff. Ela será condenada. Os julgamentos que decidem o destino dos presidentes são políticos. Formalmente, Dilma vai ser deposta pelo desembaraço de sua contabilidade criativa, mas sempre será repetida a frase da senadora Rose de Freitas, líder do governo de Michel Temer no Senado: "Na minha tese, não teve esse negócio de pedalada, o que teve foi um país paralisado, sem direção e sem base nenhuma para administrar".
Pura verdade, que pode ser contraposta a outro julgamento de impeachment de um presidente, o de Bill Clinton em 1999. Ele era acusado de práticas mais simples, comuns e disseminadas do que as "pedaladas fiscais". Uma pessoa pode não entender de contabilidade pública, mas entende o que a estagiária Monica Lewinsky fazia com o presidente dos Estados Unidos na Casa Branca.
Clinton foi absolvido porque o país não estava paralisado e a renda per capita dos americanos cresceu enquanto a dívida pública encolheu. Com Dilma, aconteceu o contrário. Todo mundo sabia o que Clinton fez e, apesar disso, achou-se que deveria continuar. No caso de Dilma, não se sabe direito o que eram as pedaladas, mas acha-se que ela deve ir embora.
Economia ia bem, Clinton se safou. |
Quando Dilma entregar as chaves do Palácio da Alvorada, estará encerrado um ciclo de 13 anos de poder do Partido dos Trabalhadores. Em 2003, Lula vestiu a faixa e a oposição foi para o poder. Hoje, ninguém haverá de dizer o mesmo.
Michel Temer era o vice-presidente de Dilma e seu primeiro escalão ampara-se em figuras que sustentaram o comissariado petista. Henrique Meirelles presidiu o Banco Central de Lula, Eliseu Padilha e Gilberto Kassab foram ministros de Dilma. Mudança imediata, drástica e irrecorrível, só a do garçom Catalão, do Palácio do Planalto, que hoje está no gabinete da senadora Kátia Abreu, ministra de Dilma e adversária do impeachment.
O PT foi apeado do governo e, de uma maneira geral, abriu espaço para quem nunca saiu dele. O tempo dirá quanto custou ao comissariado o inchaço de sua base de apoio e, sobretudo, a expansão de seus interesses pecuniários.
Lula e Dilma viveram o engano de um governo com o mínimo possível de oposição. Depostos, Dilma cuidará da vida, Lula tentará se reinventar, mas alguns comissários sabem que suas carreiras estão encerradas. Outros seguem a ordem de batalha do coronel Tamarindo em Canudos: "É tempo de murici, cada um cuide de si". Astro dessa categoria é Cândido Vaccarezza, líder do PT na Câmara até 2012. Dois anos depois, perdeu a eleição. Deixou o partido e aninhou-se na campanha de Celso Russomanno (PRB) pela Prefeitura de São Paulo.
Economia ia mal, Dilma não se safou. |
Cortando aqui e perdendo ali, sobra uma militância cujas raízes estão nos anos 70 do século passado. Defendiam o fim da unicidade sindical, a reforma da CLT, as negociações diretas entre empresas e trabalhadores e tinham horror a empreiteiros. (A recíproca era verdadeira.)
Esse era um tempo em que os sindicalistas do PT eram bancários. Com o acesso aos fundos estatais alguns viraram banqueiros e, como João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do partido, estão na cadeia.
Oposição, com algumas ideias na cabeça e pouco dinheiro no bolso, é tudo que o Brasil precisa.
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5 comentários:
Celso,
Sua argúcia na análise desse fato político praticamente acabado é incontestável.
E alegra-me que veja perspectivas de continuidade das oposições.
Escutei o dito "do tempo de murici" na voz de um velho serigueiro. Vendia "chips" de banana, trabalhou desde criança e morreu a míngua...
Pelo andar da carruagem parece que outros lutadores também serão massacrados.
Seria a novel oposição a voz dos excluídos?
Ou só pro forma?
Pelo sistema político atual, não vejo como haver algo parecido com paladinos desinteressados e decentes...
Não seriam todos os políticos feitos do mesmo barro?
Parece que só a aparéncia externa muda.
SF,
agradeço o elogio, mas ele é imerecido: o texto é do Elio Gaspari. Publiquei-o, claro, por considerá-lo interessante para meus leitores, mas não concordo com ele em tudo.
Esses militantes que participaram da farra dos governos petistas e agora voltarão à oposição, na verdade, não me ensejam simpatia. Atuaram nos últimos 13 anos respeitando os limites impostos pelo capitalismo e, ao que tudo indica, continuarão a fazê-lo, talvez apenas com um pouco mais de ética. Um "mais do mesmo" sem a promiscuidade degradante com Collors, Malufs e Sarneys.
O que eu espero que surja agora é uma oposição de verdade, REVOLUCIONÁRIA, pois não há avanço real possível para os explorados dentro do capitalismo, ainda mais no seu estágio de putrefação atual.
Um forte abraço!
Desculpe por não compartilhar com esse texto. Parece que só enxergam retrocessos e coisas ruins em 13 anos de governo petista. Nada houve de bom a não ser a derrubada d governo.Saibam de uma coisa, esqueçam a vida, porque não viveremos para presenciar nada melhor.Quem sabe nossos netos?!
Meu caro professor,
do ponto de vista de um revolucionário, o que houve nesses 13 anos e 4 meses foi exatamente isto: a revolução brasileira não avançou um centímetro sequer.
Desde que Eduard Bernstein acreditava numa suave evolução do capitalismo, que aos poucos iria sendo humanizado e perderia suas características selvagens, já lá se vão mais de um século. Nunca houve tal abrandamento e hoje o capitalismo está pior do que nunca, conduzindo-nos a uma depressão econômica global e a terríveis catástrofes ambientais.
Como o PT desistiu de lutar pela superação do capitalismo, foram apenas mais três governos que deixaram de fazer o que realmente precisava ser feito, iludindo os trabalhadores e os decepcionando.
Temos agora de correr atrás do tempo perdido. Depende de nós recuperá-lo adiante. E não será com o PT que faremos isto, mas sim com as novas forças que emergirão a partir do fracasso retumbante do PT.
Lamento, meu caro professor, mas todos nós apostamos num cavalo paraguaio. E só continuarmos insistindo, perderemos até as calças.
Ôps, acho que ainda não tinha acordado de todo quando escrevi o comentário acima.
No 2º parágrafo, evidentemente, o certo é: JÁ LÁ SE VAI MAIS DE UM SÉCULO.
a frase final é: SE CONTINUARMOS INSISTINDO, PERDEREMOS ATÉ AS CALÇAS.
Desculpem a nossa (zzzzzzzzzzzz) falha.
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