sábado, 9 de abril de 2016

PARA A ESQUERDA REVOLUCIONÁRIA, HEGEMONIA PETISTA FOI PIOR DO QUE PRAGA DE GAFANHOTOS!

Durante os intermináveis 21 anos da ditadura militar, consolava-nos tanto o pensamento de que o pesadelo terminaria um dia quanto a percepção de nossa superioridade intelectual e moral sobre aqueles que só tinham como trunfos a força bruta e o poder econômico de seus amos.

Éramos os bons, eles os maus. Éramos os civilizados, eles os incultos. Éramos os idealistas, eles os mercenários. Éramos os solidários, eles os impiedosos. Éramos os honestos, eles os podres. Éramos os brilhantes, eles os medíocres.

Estas certezas nos reconfortavam, enquanto víamos o tempo passar sem proveito, anos e anos indo para o ralo num Brasil manietado e amordaçado.

As liberdades básicas de uma democracia burguesa, eu só as conheci de verdade aos 34 anos, pois até os 13 estavam distantes das minhas preocupações e em seguida vieram as duas décadas de ordem unida e paz dos cemitérios.

Quando os horizontes maiores da vida social começaram a me interessar, o que havia era medo, restrições e enganações. Foi por se chocar com tantos bloqueios e terrenos minados que a geração 68 teve de afirmar-se pelo arrojo e inconformismo. Ou seríamos rebeldes, ou abúlicos. Escolhemos a rebeldia.

E o outro dia finalmente chegou. Saímos da ditadura ansiosos por recuperar o tempo perdido, lançando-nos de imediato à luta por um Brasil com liberdade e justiça social.

O Partido dos Trabalhadores nasceu para ser o artífice do futuro há tanto sonhado, o principal instrumento da concretização de nossos ideais. E fracassou miseravelmente.

Trocou a bandeira da justiça social pela de pequenas melhoras nas condições de vida dos coitadezas, sem que sequer fosse reduzida a escandalosa desigualdade entre explorados e exploradores, pois o momento auspicioso da economia brasileira permitia-lhe dar, simultaneamente, um tantinho a mais para os primeiros e a parte do leão para os segundos.

Os militantes abnegados, cuja influência nos rumos do partido se queria reduzir cada vez mais, sentiram-se desestimulados e foram debandando. Assim como os trabalhadores, ao invés de sujeitos da História, foram cada vez mais reduzidos a eleitores lembrados de dois em dois anos e esquecidos no restante do tempo.

O PT passou então a escorar-se nos serviçais remunerados, que fazem da causa profissão e atraem a hostilidade do povão por estarem pendurados nos cabides de empregos governamentais ou serem beneficiários de verbas públicas sob infinitos pretextos.

A moral revolucionária foi trocada pela moral de conveniência, "se os tucanos fazem, por que não podemos fazer também?". O partido que se propunha a extirpar a podridão da política oficial acabou chafurdando também na lama e na merda, a ponto de hoje ser visto pelo cidadão comum como farinha do mesmo saco.

A defesa dos direitos humanos passou a ser a última das prioridades do partido, principalmente em razão da promiscuidade com alguns ditadores psicopatas, aos quais tudo se justificava e desculpava (neste sentido, ordenou-se à rede chapa branca que satanizasse organizações sérias como a Anistia Internacional, cujos relatórios escancaravam a nudez desses tiranetes bestiais).

O internacionalismo revolucionário cedeu lugar à mais tosca e amoral geopolítica, ao apoio cínico a qualquer antagonista dos EUA, Israel ou Europa, por pior que fosse na ótica marxista. Aliás, o velho barbudo vomitaria se presenciasse a lua de mel entre ditos esquerdistas e os mais odiosos regimes teocráticos/genocidas.

Pior: o PT passou a ter como razão de ser a própria sobrevivência e a manutenção/expansão de seu quinhão de poder dentro da sociedade capitalista, relegando a plano muito inferior os interesses dos trabalhadores. Assim, chegou ao cúmulo de aderir ao neoliberalismo em 2015, encampando de um momento para outro a desumanidade das propostas de Milton Friedman, depois de passar décadas criticando-as.

E. last but not least, fez de Goebbels o guia genial de sua propaganda enganosa, mentindo descaradamente e estimulando seus seguidores a mentirem na cara dura, como quando tenta fazer impeachment passar por golpe, martelando mil vezes tal falácia até o rótulo colar.

A verdade deixa de ser revolucionária, passa a ser utilitária. E a superioridade moral dá lugar à participação, em condição de igualdade, na grande confraria brazuca dos mentirosos, manipuladores e oportunistas.

Levamos quatro anos para superar o descrédito que a rendição sem luta de 1964 nos acarretou. Quantos serão agora necessários para reconquistarmos a confiança do nosso povo, depois desta verdadeira praga de gafanhotos que devastou a esquerda brasileira?

3 comentários:

Unknown disse...

Olá! Primeira vez que comento, mas passo por aqui de vez em quando. Gosto muito das suas análises. O PT foi péssimo para a esquerda. Quando vejo petistas, principalmente militantes jovens, pedindo para Lula voltar em 2018, eu tenho até pena Eu gostaria que o Lula fosse diagnosticado com doença mental. Quem sabe assim as pessoas não parem de levar a sério o que ele diz.

celsolungaretti disse...

Juliana,

eu não quero mal ao Lula, embora considere nocivo o papel que ele hoje desempenha na política brasileira.

Sabe por quê? É que me lembro muito bem de 1979, quando os futuros petistas descartaram a ideia de uma composição com o Brizola e resolveram criar seu próprio partido.

Todos se referiam ao Lula meramente como uma figura de proa, o cartão de visitas do partido para conquistar o eleitorado e, ao mesmo tempo, um político sem capacidade para voos mais altos, que ficaria necessariamente na dependência dos dirigentes mais experientes, como o Zé Dirceu e o Genoíno.

Mas, a crise do mensalão esvaziou tais eminências pardas e o Lula emancipou-se, passando a agir como lhe dava na telha. Ora, não sendo nem de longe um revolucionário, tomou decisões meramente pragmáticas e distanciou-se cada vez mais das bandeiras históricas do PT.

Enfim, o erro está em ele haver sido colocado irresponsavelmente numa posição para a qual não estava qualificado, pelo menos numa ótica de esquerda. E a culpa é dessa maldita mania oportunista de escolherem-se pessoas para ganhar eleições, independentemente de terem ou não capacidade para governar.

Caso da Dilma. Mulher, ex-guerrilheira, "mãe do PAC", foi uma cartada eleitoral astuta e um completo desastre como presidente. Está nos saindo muito caro o preço dessa matreirice.

Abs.

Unknown disse...

Concordo com você. Disse que queria um diagnóstico de doença mental não por querer mal, mas porque noto que agora ele está realmente falando muito mais do que deveria. A impressão que tenho é que o Lula é uma espécie de arma letal para a esquerda. Escrevi isso após ter lido sobre Belo Monte.

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