terça-feira, 15 de setembro de 2015

NÃO PASSA DE MAIS UM PACOTE TORTO E NATIMORTO

Estes nos faziam rir...
A Folha de S. Paulo intimou, Dilma obedeceu. 

"Medidas extremas precisam ser tomadas... É imprescindível conter o aumento da dívida pública e a degradação econômica" --esbravejou Otávio Frias Filho, o boneco de ventríloquo por meio do qual os banqueiros trombetearam seu ultimato.

Dilma repassou a Diktat para os atônitos Nelson Barbosa e Joaquim Levy, o Gordo e o Magro da chanchada nacional.

Com o cansaço estampado nos rostos e barbas por fazer, ambos vieram apresentar o novo saco de maldades (que dificilmente o Congresso aprovará, começando pela volta da impopularíssima CPMF, uma lâmina de guilhotina pairando sobre a reeleição do parlamentar que cair na besteira de fazer a vontade da Dilma... quer dizer, do Trabuco do Bradesco).

Só com ela o governo pretende garfar R$ 32 bilhões da sociedade para acertar a contabilidade dos bancos, enquanto a recessão se agrava, as máquinas param, as lojas fecham e os empregos evaporam. 

...os anjos da cara suja só nos fazem chorar.
Lênin já cantara a bola em 1900 (Imperialismo, etapa superior do capitalismo): quem dá as cartas na dita fase é o setor parasitário e inútil da economia, o da agiotagem institucionalizada. A indústria e a agricultura (que produzem bens) e o comércio (que distribui os bens) se tornaram sócios menores, sem poder de fogo para confrontarem os Trabucos. Só lhes resta exercerem o jus sperniandi, conforme lemos na coluna do Vinícius Torre Freire: 
"Pelo menos parte da indústria vai fazer campanha feroz contra (Fiesp). A CNI preferiu não dizer nada além de que é 'contra aumentos da carga tributária' e quer 'reformas estruturais'. A Firjan foi dura. As associações do comércio de São Paulo criticaram em tom de enorme desalento".
Eis mais maldades do saco:
  • confisco até agosto de 2016 dos reajustes de salário dos servidores federais, lesando-os em R$ 7 bilhões (sempre desprezei menos aqueles que assaltam com armas na mão, correndo muitos riscos, do que aqueles que assaltam com a caneta na mão, não correndo risco nenhum);
  • expropriação (é um termo mais correto do que o utilizado, apropriação) de 30% das contribuições para o Sesc, Sesi, Senai, etc, totalizando R$ 6 bilhões;
  • o Minha Casa, Minha Vida terá de trocar de nome, pois, com o corte de R$ 4,8 bilhões, será melhor intitulá-lo Meu Barraco, Minha Vida;
  • o corte de R$ 3,8 bilhões em gastos com Saúde é simplesmente estarrecedor, inconcebível, inaceitável, ainda mais num país cujos sucessivos governos sucatearam a Previdência Social, afugentando o povo para a medicina privada (embora tivessem o compromisso de proporcionar aos trabalhadores, como contrapartida das contribuições previdenciárias, não apenas a aposentadoria, mas também atendimento médico com um mínimo de qualidade).
Para não me chamarem de tendencioso, há também medidas mais ou menos corretas no pacote:
  • a criação (se saísse do papel) de um imposto sobre “ganho de capital progressivo”, que seria cobrado quando dos aumentos de receita das pessoas físicas. Mas, com impacto estimado em apenas R$ 1,8 bilhão e um certo viés de desestimular empreendedores. Há muitíssimo mais grana para ser colhida e motivos muitíssimos melhores para colhê-la no nicho das heranças e grandes fortunas, como fazem as principais nações capitalistas e como o Brasil deveria estar fazendo desde 1988 (o dispositivo constitucional neste sentido não foi regulamentado até hoje!!!);
  • cancelamento de 80% do valor das emendas parlamentares, evitando que R$ 7,6 bilhões sejam desperdiçados para ajudar a reeleger os detentores de mandatos. Se conseguissem colocar o guizo no pescoço do gato seria ótimo, mas nem mesmo os autores da proposta devem acreditar que o felino consentirá, é só jogo de cena);
  • redução de R$ 2 bilhões em despesas discricionárias com DAS (cargos comissionados) e gastos administrativos;
  • economia de R$ 200 milhões com extinção de ministérios e cargos de confiança. Só?! Num país que tem 39 ministérios e só precisa de um terço disto, daria para enfiarem a faca bem mais fundo. De quebra, seriam evitadas miríades de maracutaias tramadas e/ou executadas a partir dessas Pastas.
Resumo da opereta: nem sei por que perco tempo analisando o que não acontecerá. Governo fraco, com a popularidade no fundo do poço, jamais consegue arrochar a sociedade. Os bancos podem muito, mas não podem tudo. E o fracasso anunciado desse pacote torto e natimorto debilitará ainda mais a posição da Dilma.

Quem mandou ela escutar o estrondo do Trabuco? Deste jeito, perderá a audição junto com o cargo...

Padrinho por padrinho, teria sido melhor a Dilma continuar pedindo a benção ao Lula, afinal foi ele quem a colocou lá. 

Um comentário:

Luis Venâncio disse...

De fato, as atrapalhadas desse segundo governo de Dilma e seus ministros parecem mais um pastelão de O Gordo e o Magro.

As peripécias da dupla divertia-nos inocentemente. As do governo da Dilma são trágicas, trazem desemprego, fome.

Mesmo aqueles de bom coração não tocados pela crise ficam angustiados em ver os destinos da nação em mãos tão ineptas.

Tudo isso pelo egoísmo de um homem que a escolheu como sucessora para que outro mais competente não embaçasse seu falso brilho, suas omissões com a política econômica.

Uma tragédia para o trabalhador.

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