domingo, 16 de agosto de 2015

O TEATRO DA POLÍTICA E A VOZ DAS RUAS

Em termos quantitativos, o protesto anti-Dilma deste domingo (16/08) superou o de abril e ficou aquém do de março.

Um instituto de pesquisa já captou bem o sentimento de impotência dos brasileiros: eles, em sua expressiva maioria, querem o impeachment da presidenta, mas não acreditam que o impeachment vá acontecer.

Então, é compreensível que, depois do grande desabafo de março, seu ânimo tenha arrefecido um pouco. Nosso povo, simplesmente, está descrente dos podres Poderes. Supõe que eles não ouvirão a voz das ruas, então acha inútil ir às ruas. "Conheço bem minha história/ Começa na lua cheia/ E termina antes do fim"...

Mas, o teatro da política não substitui a realidade da política e, principalmente, da economia. Joaquim Levy não tirará o Brasil da recessão. Pelo contrário, se não for detido, nos conduzirá à depressão.  Sai bolsa-família, entra sopa dos pobres. 

As manobras de Dilma para escapar do impeachment aprofundam a descaracterização do seu governo e a desmoralização do PT. Pensa que ganha tempo pactuando com Renan Calheiros (aquele que também fazia o serviço sujo para Collor), submetendo-se mais ainda (é possível?!) aos grandes empresários, ajudando os convênios de saúde a lesar os associados, etc.

Parece que desistiu de elevar a idade mínima para aposentadoria, de forma a fazê-la coincidir com as disponibilidades de caixa da Previdência. Isto se falou logo que a Agenda (de benesses para os exploradores e maldades para os explorados do) Brasil foi divulgada, depois ninguém mais tocou no assunto. 

O Levy deve ter deixado esta abominação para 2016, se ele e a Dilma ainda estiverem nos cargos atuais.  Eu apostaria que ou um ou outra não estará. E, para não perder a aposta,  cravaria também duplo: a saída de ambos.

O certo é que, em país pobre como o Brasil a receita neoliberal, regime imposto a quem não tem mais gordura nenhuma para queimar, nem remotamente cura o paciente. Mata. E, cedo ou tarde, pouco importando quantas se arrematem, e por quanto, das almas dos vilões da política, será a nossa triste realidade que determinará o desfecho do drama, não as traições e velhacarias da Praça dos Três Poderes.. 

Não adianta minarem-se, a golpes de caneta ou outros, os caminhos legais que levam ao impeachment, se a penúria continuar crescendo e fazendo crescer a insatisfação popular. A pressão vai aumentar até explodir a panela, fazendo um barulho tão ensurdecedor que os panelaços parecerão brincadeira de criança. 

Dilma, você jamais terminará seu mandato caso continue atirando-se nos braços dos capitalistas e dos fisiológicos. Se não há como vencer a atual parada mantendo sua dignidade, escolha a dignidade. Ela é muito mais importante do que o poder! 

O povo não é muito sofisticado, raciocina de forma linear: dize-me com quem andas... Aqueles com os quais você tem andado ultimamente são a escória moral da humanidade. Até porcos, gambás e vermes manteriam distância deles.

Mas, se teme que, guinando à esquerda, acabará martirizada como Allende, renuncie antes que a encostem na parede. Saia de cabeça erguida, e não como uma esquerdista que se tornou neoliberal tardia... a troco de nada, pois nem assim escapará da degola. Quem viver, verá.

2 comentários:

marcosomag disse...

Não sei em qual Brasil você vive. A Marcha das Margaridas tinha muito mais gente do que o protesto da extrema-direita na Avenida Paulista! Nem de longe a manifestação dos golpistas em 16 de agosto pode ser comparada com as anteriores. E creio que você citou "população" de forma totalmente equivocada. Alí estava apenas a extrema-direita golpista ("lideranças" pagas com dinheiro estadunidense, como bem mostrou uma reportagem da Agência Publica), classe média alta (sempre foi reacionária) e parte da classe média "mainstream" que ainda acredita nos hebdomadários sujos da mídia corporativa. E a Presidente da República fez muito bem em fazer acordo com o Presidente do Senado. Foi um acordo entre instituições, e não pessoas para barrar a pauta-bomba do corrupto-mor, que preside a Câmara do Deputados e evitar o "golpe paraguaio". Pelo "purismo" de certa "esquerdinha" (como bem definiu Darcy Ribeiro), Mao Tsé-Tung jamais teria feito acordo com Chiang Kai-Shek e Lênin não teria negociado com os sanguinários impérios Otomano e Austro-Húngaro. Agora, Dilma ganha tempo até a economia melhorar de vez (está em fase de transição), e depois, "escanteia" os piores pontos da "Agenda Renan". O grande perigo para a economia é o juiz "Tucanomoro", e não a política econômica de Joaquim Levy.

celsolungaretti disse...

Marcos,

a Marcha das Margaridas teve entre 35 mil e 70 mil participantes. O protesto anti-Dilma na av. Paulista, entre 135 mil e 350 mil.

"Golpista" é quem tenta dar golpe de Estado. Tirando uns gatos pingados que sonham com a volta da ditadura e, supõe-se, agiriam de acordo com suas convicções se fossem numericamente expressivos, a grande maioria quer apenas o fim de um governo desastroso. Pedem a renúncia de Dilma e tenta fazer com que o Congresso Nacional aprecie o impeachment da presidenta. A Constituição lhes garante o direito de fazerem as duas coisas.

Adjetivação e agressões retóricas nada significam quando o País inteiro protesta contra o governo, 71% o avaliam mal e menos de 10% estão contentes com ele. Até prova em contrário, quem protesta está sintonizado com o sentimento da grande maioria da população.

Quem faz acordo com Mefistofeles perde a alma. Fausto explica. Ou, numa versão mais moderna: quem dorme com Renans, acorda cheio de pulgas.

Pauta-bomba é desculpa esfarrapada; o arrocho fiscal está fracassando porque fracassaria de qualquer jeito, é receita para país europeu e não cá para o 3º mundo (do qual nunca saímos, apesar do ufanismo oficial). A bomba é a recessão do Levy, a atividade econômica devagar quase parando, a penúria, o desemprego, a inflação, as tarifas subindo sem parar.

A economia não vai melhorar de forma nenhuma atendendo-se às exigências do grande capital em termos de macroeconomia e loteando o governo entre os fisiológicos da política. Só vai piorar. Não demora muito para os miseráveis começarem a saquear supermercados. E aí, sim, a coisa ficará realmente perigosa e teremos de começar a nos precaver contra uma quartelada tradicional.

Mao e Lênin conduziam seus povos para a revolução, Dilma nos conduz para o neoliberalismo. A diferença é diametral.

O juiz Moro não teria motivo para agir se o PT houvesse se comportado, no poder, como sempre prometeu que faria: restaurando a moralidade. Ao invés disto, optou pelo "locupletemo-nos todos", seja literalmente, seja para comprar apoio parlamentar da escória política mais nauseabunda. Está pagando o preço dessa TRAIÇÃO aos seus princípios e aos valores da esquerda.

Pior foi ter desacreditado nossos ideais de uma maneira tão profunda que levaremos muito tempo, talvez décadas, para resgatarmos a credibilidade da esquerda.

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