quarta-feira, 8 de julho de 2015

A TAÇA DO MUNDO NÃO É MAIS NOSSA/ DO BRASILEIRO, SÓ FAZEM TROÇA/ Ê-ÊTA TIMINHO CALOURO/ É RUIM NO SAMBA, É RUIM NO COURO...

"Dá a chupeta/ Dá a chupeta/ Dá a chupeta pro bebê não chorar"
Há exatamente um ano, o Brasil perdeu a honra futebolística: seus homens viraram meninos, assistindo sem reação, como se estivessem hipnotizados, aos sucessivos tentos da Alemanha no Mineirão. O 7x1 saiu barato.

E, se em 90 minutos foram sete gols, quatro deles ocorreram apenas entre os 22' e os 28' da etapa inicial, sem que os dois técnicos presentes (?), o campeão de 2002 e o campeão de 1994, esboçassem a mínima reação.

Jogadores aparvalhados no campo, treinadores petrificados no banco. Nunca a Seleção Brasileira fora tão humilhada: pior placar adverso em mais de 100 anos de história e mais de mil partidas disputadas, além de uma postura complacente como jamais se vira. Fez-me lembrar o conselho de Marta Suplicy para as situações nas quais o estupro é inevitável: "Relaxa e goza".

Taticamente, a melhor explicação do vexame é a de um dos destaques do tri, o craque Tostão, hoje um dos poucos comentaristas de futebol que vale a pena lermos (a íntegra do seu artigo está aqui). Ele destaca como a derrota acachapante já se desenhava nos vestiários, com um técnico sabendo exatamente o que fazer e o outro mais perdido do que cego em tiroteio:
O professô do tempo do Onça...
"Felipão começou a palestra repetindo que, em casa, é impossível o Brasil perder. Parreira acrescentou: 'Estamos com as mãos na taça. A CBF e a Seleção são coisas que deram certo no Brasil'. 
Felipão lembrou a estratégia: 'Vamos pressionar, acuar os alemães, com uma linha de três atacantes [Bernard, Fred e Hulk], Oscar perto dos três e mais o apoio dos laterais. Luiz Gustavo fica mais atrás, quase como um terceiro zagueiro, para fazer a cobertura'.
Fernandinho, preocupado, perguntou: 'Professor, não é perigoso eu ficar sozinho, no meio, contra os três alemães, que tocam muito bem a bola?' Felipão, com seu trejeito característico, respondeu: 'Eles vão tremer e não vão sair da defesa'.
No outro vestiário, o técnico alemão Joachim Löw relembrou: 'Vamos congestionar o meio-campo, com cinco jogadores [Kroos, Schweinsteiger, Khedira, além de Müller e Özil, pelos lados], ficar com a bola, trocar passes e avançar em bloco'.
A Alemanha, contra o Brasil, e o Chile, contra a Argentina, congestionaram o meio-campo, defenderam e atacaram em bloco, sem deixar espaço entre os setores.
Enquanto isso, Brasil e Argentina tinham um vazio no meio, pois jogaram com um volante, quase como um terceiro zagueiro (Luiz Gustavo e Mascherano), um meia ofensivo, próximo aos três da frente, quase um quarto atacante (Oscar e Pastore). No meio-campo, tinham apenas um jogador (Fernandinho e Biglia), ambos sem muito talento. A diferença é que a Alemanha tem muito mais qualidade individual que o Chile"
...e um técnico da modernidade.
Low estava anos-luz à frente de Felipão, mas o papo certamente teria sido outro com Pep Guardiola comandando o escrete brasileiro. Interessado em agregar mais uma grande conquista a seu currículo, ele ofereceu-se para nos levar ao hexa, com remuneração muito abaixo do seu patamar habitual caso não se sagrasse campeão. José Maria Marin recusou. Espero que os remorsos o estejam consumindo em sua cela na Suíça...

AGORA SÓ QUEREMOS SER O MAIOR 
SAPO DE UMA PEQUENA LAGOA

O complexo de vira-latas, de que nos livráramos no finzinho de junho de 1958, voltou com tudo, pior do que nunca. Esquecemos a pretensão de ombrearmo-nos aos maiores do planeta e passamos a nos enxergar de novo como competidores pela supremacia na América do Sul. Atrás da Europa, tudo bem, só não se pode ficar abaixo dos esfarrapados da vizinhança!

Cinco dias depois, a maioria dos brasileiros torcia pateticamente pelos algozes alemães contra os hermanos argentinos, preferindo os abastados  filhos da Merkel, destruidora de nações, a outros coitadezas como nós, semelhantes a nós em tudo e sofredores como sempre fomos e jamais deixaremos de ser enquanto nos prostrarmos aos desígnios das grandes nações capitalistas.

Mas, limitemo-nos neste texto aos tormentos futebolísticos. Sobre os outros já falamos demais noutros artigos.

Primeiro ponto: a tragédia do Mineirão foi anunciada. Eu, p. ex., a vinha anunciando há cerca de um ano, por ter absoluta certeza de que o hexa jamais chegaria pelas mãos do treinador Luiz Felipe Scolari.
Mais lágrimas virão...

A Seleção Brasileira simplesmente não acompanhara a enorme evolução tática e técnica do futebol mundial a partir da revolução catalã da segunda metade da década passada, de forma que a nossa única esperança era termos no banco alguém como o corinthiano Tite, capaz de armar seu time de forma a compensar a inferioridade de forças (foi o que ele fez no Mundial de Clubes de 2012, ao dar um nó tático em Rafael Benítez e, contando com a aplicação do elenco e os milagres do goleiro Cássio, surpreender o franco favorito Chelsea).

Felipão, flagrantemente ultrapassado e taticamente medíocre, só poderia piorar o que já era ruim. E foi, claro, o que ele fez. Detalhe: a opção kamikaze de desguarnecer o meio-de-campo contra a Alemanha foi decidida à última hora e adotada... porque ele sonhara na véspera com Bernard conduzindo o Brasil à vitória (!!!). Coisa dos treinadores do tempo do Onça, como Osvaldo Brandão.

Mas, por que o jurássico Felipão, que vinha de fracasso em fracasso desde o Mundial de 2002, estava lá? Simplesmente porque a presidência da Casa Bandida do Futebol caíra no colo de José Maria Marin, após a desgraça do também corrupto Ricardo Teixeira. 
A certeza de novos vexames

Foi Marin que, contra a opinião da crônica esportiva e dos torcedores conscientes, retirou do ostracismo outro anacronismo com o qual se identificava pela índole autoritária de ambos. Deram-se as mãos e enterraram o escrete.

E o que aconteceu desde então? Nada. Como bem notou, mais uma vez, o lúcido Tostão:
"Para assimilar, conviver bem e renascer após uma tragédia, sem esquecê-la, é necessário, durante um tempo variável, refletir, vivenciar, com tristeza, a perda, o luto.
A CBF, com apoio da maioria dos treinadores brasileiros, fez o contrário, ao negar, ao não dar importância ao 7 a 1, como se fosse apenas um apagão. Um ano depois, o futebol brasileiro está no mesmo lugar, sem identidade, perdido".
Saiu Marin, entrou Del Nero. Seis por meia-dúzia.

Escolheram Gilmar Rinaldi para diretor de seleções, não ligando ou pretendendo mesmo que viceje à sombra da CBF o balcão de negócios denunciado pelo grande Zico (leia aqui).

Rinaldi imediatamente quis ter a seu lado o ex-jogador limitado e técnico fracassado Dunga, outro cujo passado o condena: pertenceu à máfia de intermediação de jogadores, convocou para a Copa de 2010 um dos clientes da empresa internacional da qual participava e mentiu à imprensa e à Justiça gaúcha a este respeito (leia aqui).

Marin foi preso a pedido do FBI e Del Nero voltou espavorido para o Brasil, não botando o pé fora desde então, pois teme ser também denunciado, preso e extraditado.
Não era o hexa chegando. Era a polícia suíça.

Armou-se uma CPI da CBF e a chamada bancada da bola, com a participação inclusive de senadores do PT, tudo faz para que ela acabe em pizza (leia aqui).

O Brasil foi expelido da Copa América pelo fraquíssimo selecionado paraguaio, aumentando os temores de que possa, pela primeira vez, ficar fora de um Mundial da Fifa. Com o futebol que acaba de exibir no Chile, mesmo não estando Neymar ausente como nos dois últimos papelões, pode, sim, não passar das eliminatórias.

Rinaldi armou uma maratona de blablablá engana-trouxa, durante a qual muito se falará e isto de nada servirá, pois o primeiro e fundamental passo para se restabelecer a moralidade e o profissionalismo na CBF e na Seleção é a saída de Del Nero, de Dunga e dele próprio, Rinaldi.

Resumindo: a situação continua exatamente a mesma um ano depois dos 7x1 e a perspectiva é de que, se nada de substancial mudar, mais humilhações virão.

Melancolicamente, a esperança que nos resta é a de que o FBI finalmente confirme ser Del Nero o tal "coconspirador 12" do esquema de roubalheira futebolística ora investigado pelos EUA, o que talvez mexa com os nossos brios o suficiente para, enfim, começarmos a desratizar a CBF.

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