domingo, 12 de abril de 2015

A BASTILHA NÃO CAIRÁ NA AVENIDA PAULISTA

A imagem é impressionante...
O DataFolha inquiriu 2.834 brasileiros sobre um eventual impeachment da presidenta Dilma Rousseff.

Não considero que, como andei lendo em espaços petistas, fosse vedado ao jornal fazê-lo por inexistirem neste momento razões jurídicas para o impedimento presidencial.

Isto não retira de qualquer cidadão ou entidade o direito de dar entrada num pedido de impeachment, desperdiçando o seu tempo, pois o processo não será aberto. Igualmente, nada existe de ilegal na realização e divulgação de pesquisas a respeito de como o homem comum encara tal questão, desde que os resultados não sejam fraudulentos.

Foi melancólico constatarmos, mais uma vez, o sentimento de impotência do nosso povo diante do sistema, que continuam encarado como algo inacessível, inatingível e impermeável à pressão popular: 83% acreditam que Dilma estava ciente da roubalheira na Petrobrás (57% a veem como conivente e 26% como impotente diante da corrupção) e 63% responderam sim à indagação sobre se o Congresso deveria abrir um processo de impeachment para afastá-la da Presidência. No entanto, 64% duvidam de que ela venha a ser efetivamente afastada. A gente somos inútil...

A opinião é coerente com a atitude: de uma população que já ultrapassa a casa de 200 milhões, só cerca de 1,5% (uns 3 milhões) estão saindo às ruas para defender o que 63% consideram justificável. 

Novidade? Não. A mesma desproporção vem se evidenciando ao longo de toda nossa História, desde o trágico abandono a que foram relegados os inconfidentes, passando pelos acordos de elites que culminaram na independência, na abolição da escravidão, na proclamação da República e no fim das ditaduras getulista e dos generais. 
...mas ainda estamos muito longe disto.

Nosso hino deveria mencionar de um povo abúlico, o resmungo resignado, não de um povo heroico, o brado retumbante...

A triste verdade é que o homem comum brasileiro, quanto muito, secundou tais processos, mas não foi sujeito de nenhum deles. Produzimos, sim, nossos aspirantes a Simon Bolivar e Giuseppe Garibaldi, mas eles morreram no patíbulo (Tiradentes), sob o fogo cruzado de tocaieiros (Marighella) ou executado depois de rendido (Lamarca), sem multidões ao seu lado, pois foram bem poucos os que se dispuseram a correr os mesmos riscos.

Então, Dilma pode dormir tranquila quanto a este aspecto: não serão os manifestantes da avenida Paulista que a vão derrubar, muito menos por causa do petrolão

Só mesmo o agravamento da recessão (que, seguindo à risca a ortodoxia neoliberal, Joaquim Levy nos está enfiando goela adentro) poderá fazer os carneiros rugirem. E isto é coisa que, se vier a suceder, só ocorrerá do segundo semestre em diante, quando a penúria atingir o auge.

Curtam sem restrições a nova atração dominical, mas também sem ilusões: por enquanto, ninguém está tomando nenhuma Bastilha.

8 comentários:

Unknown disse...

Não estão, e nem estarão tomando a bastilha mesmo porque a analogia é um tanto quanto exagerada, não terão exito com esses protestos burgueses porque são protestos burgueses, e assim sendo não há a efetiva participação popular, cade os sindicatos dos trabalhadores? cade os organizações populares , negros indigenas e excluidos em geral??Não não havera derrubada de um governo democraticamente eleito por que simplesmente não há motivos , causas juridicas ,politicas eticas e sociais para legitimar esta histeria psco-social que agora esta vindo a tona ,sentimento revanchista da nossa podre elite Brasileira

Unknown disse...

Lendo revista como o cruzeiro, Manchete, fatos e fotos do ano de 1964 pré golpe militar , me sinto como se estivesse vivendo aqueles dias de efervescencia reacionaria e conservadora, como pode 50 anos depois e a mentalidade doentia anti-comunista ainda esta a todo vapor em pleno sec XXl ?? em plena era Fidel Raul castro-Obama?

Eduardo Rodrigues Vianna disse...

A propósito, caras, não sei se vocês tomaram conhecimento da modelo Ju Isen, hoje na manifestação das pessoas de bem em defesa da moral e dos bons costumes, com os seios de fora e usando umas calcinhas transparentes, em meio a todas aquelas famílias com Deus pela perplexidade. Ela estava lá realizando um ensaio fotográfico pornográfico, no meio da rua e à luz do dia, bem ao gosto daquela gente corretíssima que não gosta de bandalheira, nem de avacalhação, nem de putaria. Este país está parecendo um manicômio.

celsolungaretti disse...

Meu caro Eduardo, não sejamos mais realistas do que o rei: fotos de nus não são pornografia.

Antigamente, a ditadura adotava o bizarro conceito de que seios e bundas podiam ser mostrados, mas não vaginas e pênis.

Hoje eu considero melhor adotarmos o critério usual no cinema: nus de qualquer tipo, mesmo frontais, configura apenas erotismo (softcore); sexo oral e penetrações, sexo explícito (hardcore).

Com, ainda, uma ressalva: ser pornográfico ou não, depende da maneira como a coisa é mostrada e de sua função na obra (se estética ou não). Eu não considero pornô, p. ex., o filme "Aphrodite" (1982), de Robert Fuest, apesar de conter sexo explícito.

É só um aspecto à margem do que vc comentou. Aliás, segundo vi no "Metro", parece que teve também uma jovem se despindo por completo e sendo retirada por uma policial feiosa...

Eduardo Rodrigues Vianna disse...

O caso da desmiolada que se despiu por inteiro foi também na Paulista -- uma doida varrida, que apresentou-se como veio ao mundo para clamar pela justiça divina, uma vez que Dilma e o PT pertencem "ao Diabo"...

Quanto ao lance aí da cavalona pelada posando para fotos, era para a revista Sexy: se é "pornográfica" ou "erótica", cabe a cada um decidir, segundo cada um interprete esses conceitos.

Inacreditável num caso como este é a hipocrisia sem limites dessas pessoas extremamente decentes que vão se manifestar fantasiados de brasileiros (taqui a pouco esse pessoal vai pra rua de camisa listrada e pandeiro na mão), em número expressivo rezando o Pai Nosso na concentração, de braço dado com o Bolsonaro e contra tudo o que aí está!

Uma ricaça loura de salto alto, com tudo à mostra e tirando onda com os policiais, como ela fez (não por algum mitivo inteligível, mas para tirar uma onda com a cara dos praças mesmo, faz parte do cartaz dela), é realmente do arco da velha.

celsolungaretti disse...

Eduardo,

não estava discutindo o cerne do seu comentário, apenas lembrando que não devemos estimular o moralismo rançoso. Nunca se sabe se haverá recaída.

Então, é bom tomarmos muito cuidado com o que qualificamos de "pornográfico", pois os fundamentalistas e vendilhões do templo adoram botar nessa retranca o que não passa de uma atitude não preconceituosa em relação ao corpo.

Para mim, pornográficos mesmo são os bancos, o agronegócio, a política econômica do Joaquim Levy etc. (bota etcetera nisso!).

Eduardo Rodrigues Vianna disse...

Sim, Celso, entendi o que você tinha escrito antes.

Mas não se trata aqui de algum "moralismo rançoso", como você disse. Moral é coisa que se aborda em grande parte a partir das particularidades de cada um: cada indivíduo tem as suas posturas morais, que não necessariamente estão afiliadas a essa ou aquela tradição, ou a essa ou aquela simpatia.

Por outras palavras, postura moral não é necessariamente "moralismo". As minhas posturas morais, por exemplo, me levam a repudiar as CARICATURAS de uma maneira geral. Caricatura é um negócio maravilhoso impresso em papel, como peça de humor. Mas, na vida real, em meio às relações e etc., é o Cão chupando manga.

Valerius disse...

Confrontos diante do velho, do antigo, do ja viciado sistema, em qualquer instituição, sempre resultam em dolorosos traumas. Qual a saida? Criamos o novo e lançamos a opção de escolha. Sem confrontos, apenas deixamos que o antigo va se esvaziando por não resistir a verdade. Vem ai o PIB! Partido Indigo Brasileiro.

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