A presidenta Dilma Rousseff alterna períodos de mutismo com os de boquirrotismo. Alguém deveria aconselhá-la a restringir-se às falas protocolares, pois, por culpa própria ou dos assessores, sua comunicação tem sido desastrosa. Faz lembrar a frase do Romário sobre o Pelé: "Calado, ele é um poeta".
Foi patético a Dilma botar lenha na fogueira em que a querem queimar, ao colocar ela própria em discussão o seu impedimento. Agora, quem ainda sentia um certo constrangimento em falar sobre esta possibilidade, não terá mais nenhum. Liberou geral.
Pior ainda é ela o ter feito com panfletarismos como o de que o impeachment equivaleria a um terceiro turno da última eleição presidencial, ou inverdades como a de que seria uma ruptura da ordem democrática.
Quanto à tirada demagógica, pode-se argumentar que se trataria, isto sim, de uma reação ao estelionato eleitoral cometido no 2º turno. Boa parte dos que votaram conscientemente em Dilma queriam evitar o pacote econômico neoliberal que a candidata jurava estar nas intenções de Aécio Neves, mas nunca nas suas. Conseguiria o saco de maldades do tucano ser tão desequilibrado como o do Joaquim Levy, em termos de sacrificar os explorados e aliviar para os exploradores e os herdeiros de grandes fortunas?
E impeachment jamais representou ruptura da ordem democrática coisíssima nenhuma! Trata-se de uma hipótese contemplada na Constituição, cujo papel é exatamente o de prevenir as rupturas da ordem democrática (rebeliões e golpes de estado), dando aos governados uma possibilidade de, sem recurso à violência, ficarem livres de governantes que tenham incidido em práticas inaceitáveis .
Cabe ao Congresso decidir se há ou não razões suficientes para o impedimento. Collor foi expelido e a ordem democrática nada sofreu.
O MAQUIAVELISMO DOS TUCANOS DE MAU AGOURO
Dilma peca pelo primarismo e os tucanos, pelo maquiavelismo. Lideranças importantes como o ex-presidente FHC e o senador Aloysio Nunes se manifestam contrários ao impeachment por um motivo torpe: preferem deixar Dilma sangrando até o fim do seu mandato, para que a Presidência não passe às mãos do seu vice, Michel Temer.
A agonia lenta, na minha opinião, é o pior de todos os cenários. Governo fraco num período de recessão brava e desmoralização do sistema político é um convite, precisamente, à ruptura da ordem democrática. Enseja múltiplas oportunidades para os chamados pescadores em águas turvas.
A agonia lenta aumentará em muito as chances de um candidato do PSDB derrotar Lula na eleição de 2018, daí os tucanos de mau agouro estarem favorecendo o sangramento de Dilma.
O preço que o povo brasileiro pagará, no entanto, vai ser terrível. Pessoas morrem como moscas nas recessões de países pobres como o nosso.
E o risco de o tiro sair pela culatra, enorme: quem garante que agonizante não acabará ficando a nossa democracia?
Até agora, têm sido apontadas quatro linhas de ação civilizadas para sairmos da insustentável situação atual:
- impeachment de Dilma;
- renúncia de Dilma;
- articulação de um governo de união nacional;
- montagem de um gabinete de crise.
Qualquer uma é preferível à agonia lenta.
4 comentários:
È incrível o despreparo político da presidente Dilma. Ela própria, como frisa Celso, tocou no assunto do seu impedimento.
No seu primeiro governo não dava para percebermos.
De 2011 a 2014, beneficiando-se do ainda do grande motor chamado China, que tudo nos comprava e das medidas internas, já se exaurindo, do financiamento de bens á "classe média de R$ 1.091,00, de renda mensal" tocou o barco com a ajuda de medidas econômicas inconsequentes.
Tem cabimento dar desoneração na folha de pagamento sem nenhum critério, a ponto da Globo e suas empresas de comunicação economizar R$ 300 milhões por ano de impostos?
Está comprovado seu despreparo e sua falta de discernimento das medidas econômicas tomadas.
Que é o que esperávamos de alguém que saiu dos labirintos burocráticos do Estado, não tendo exercido nem mandato de vereadora ou num sindicato e foi logo direto para a presidência da República?
Lula, com a aprovação com que encerrou seu segundo mandato tinha condições de eleger seu sucessor. Tinha muitos para escolher.
Por que foi Dilma? Aqui entra o egoísmo, o caudilhismo de nossos políticos.
Jamais seria alguém com tirocínio de fazer um governo melhor que o dele.
O que explica sua febre de poder, dissimulada, ou nem tanto, de voltar em 2018.
Assim também procede a presidente no seu machiavelismo de republiqueta colocando Jacques Wagner em ministério onde fica apagado.
Jacques è apenas um exemplo, tem outros,pois foi um dos poucos políticos do PT que fez seu sucessor.
Deveria estar no lugar do inoperante Mercadante, na Casa Civil, mas aí houve o grande dedo de Lula que não quer sombra em 2018. Isto é, se até lá ainda houver sol para o PT.
Lula e Dilma estão distantes da figura de um estadista como o uruguaio Mujica que passou 12 anos preso, alguns em solitária e nem por isso se tem notícias dele tratar seus auxiliares de maneira rude, prepotente.
Mujica fez seu sucessor, renovando as esperanças de dias melhores para o povo uruguaio.
É uma tragédia que nosso tão sofrido povo tenha agora uma presidente em quem confiaram seus votos e veem-na começar a desmantelar alguns direitos duramente conquistados a fim de agradar os agentes co capitalismo.
ô Celsão meu herói...dispensa a novilíngua midiática pelamordideus: inverdade??? ruralista???? crise hidrica????? por tudo quanto é santo, até vc não...
Celso, há alguma chance de Lula ganhar uma eleição em 2018?
Claro! O povão o continuará vendo como "pai dos pobres". E, como o Getúlio Vargas, ele bem pode reposicionar-se politicamente de alguma forma, adequando-se aos novos tempos.
Foi o que fez Vargas: saiu como fascista, voltou como nacionalista. Com as bençãos do Luiz Carlos Prestes, ainda por cima...
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