Não torço para nenhum dos clubes em que Muricy Ramalho atuou como jogador ou treinador, mas sempre me pareceu um bom profissional e um homem decente.
No mundo cão que é o ambiente futebolístico, ele mostrou ser honrosa exceção em 2010, quando a CBF, dois meses antes da Copa do Mundo, o convidou para substituir o inadequado Dunga.
O encontro era para ser secreto, mas a imprensa descobriu e o entrevistou à saída. Indagado sobre se queria ser técnico da Seleção, respondeu: "Quero, lógico!". Mas, condicionou seu OK à liberação por parte do Fluminense, explicando: "Eu tenho de dar exemplo para os meus filhos". O Flu, brigado com a CBF, não facilitou as coisas e ele honrou o contrato assinado.
Enfim, eu gostaria que ele tivesse uma vida longa e gratificante ao lado dos seus entes queridos. E vejo com apreensão a insistência em continuar exercendo a profissão após duas hospitalizações bem preocupantes (crises de diverticulite, o mal que vitimou Tancredo Neves).
Após a última, em janeiro, já deveria ter encerrado a carreira. Reassumiu e, ainda por cima, teve de escutar logo de cara uma repulsiva cobrança do presidente do São Paulo, que exigiu um título em 2015.
Resultado: aparentemente, os exames médicos de rotina marcados para esta 2ª feira (9) vão se prolongar além do previsto. Isto logo depois de uma partida que deve ter mexido muito com seus nervos, a derrota diante do Corinthians no Morumbi, com o São Paulo desperdiçando um pênalti e a vantagem de ter um atleta a mais desde os 10' do 2º tempo.
O que se pode esperar de um homem propenso a uma doença grave e que vem sendo tão pressionado na sua atividade profissional? Está na hora de o Carlos Miguel Aidar refletir sobre como ficará a imagem dele se o Muricy morrer tentando dar-lhe o tal título.
Seu sentimento de dever o faz querer cumprir até o fim o contrato com o São Paulo, time no qual começou como juvenil, em que teve sua melhor fase como jogador e que está treinando pela terceira vez. Mas, é no mínimo temerário seu projeto de aguentar mais nove meses e meio antes de fazer uma parada (ele não fala em aposentadoria, apenas numa pausa para reciclar-se e curtir o lar).
Alguém precisa convencer o Muricy de que o futebol brasileiro --ainda mais o atual!-- não vale o sacrifício e o risco. E, como a família parece não o estar conseguindo, é o seu clube de coração que deve prestar-lhe tal serviço.
Se os cartolas tricolores assistirem impassíveis ao seu drama, que não venham depois discursar no enterro e colocar bandeira em cima do caixão. Isto só a torcida terá direito de fazer.
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