Quando, aos 18 anos, eu chefiava o setor de Inteligência da Vanguarda Popular Revolucionária, meus informes ao Comando Nacional eram curtos e grossos, porque não tínhamos tempo para divagações e elucubrações. Havia decisões urgentes a tomar, o tempo todo.
Se, naquele tempo, eu tivesse de transmitir uma avaliação sobre a possibilidade de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, produziria algo deste tipo:
- há uma direita menos influente que está insatisfeita com a longa permanência do PT no Palácio do Planalto, mas, para os realmente poderosos, EUA inclusos, afastar Dilma não é prioritário, pelo menos do ponto de vista de interesses contrariados ou ameaçados (até porque o fantasma bolivariano já não os assusta mais, com a morte de Chávez, o derretimento da Venezuela e a situação cada vez mais deteriorada da Argentina);
- cá no Brasil, o aprofundamento das crises econômica e política pode, contudo, fazer a balança pender para o outro lado, se o governo parecer estar se desmilinguindo, o que afetaria os L.U.C.R.O.S. (como diria o Eugênio Gudin) dessa corja;
- é nisto que apostam os defensores do impeachment, eles querem é colocar o bloco na rua, acreditando que, no caminho, receberão as adesões necessárias;
- daí o balão de ensaio que acabam de lançar, por intermédio do Ives Opus Gandra Dei Martins, com má receptividade;
- de qualquer forma, agora que Eduardo Cunha preside a Câmara, o mais provável é que o processo de impeachment acabe, mais dia, menos dia, sendo aberto;
- a nova fase da Operação Lava-Jato parece vir ao encontro da necessidade de acharem um motivo, ou pretexto, mais forte para o impedimento;
- eu arriscaria o chute de que acabará sendo a alegação de que dinheiro sujo do esquema de corrupção da Petrobrás irrigou alguma das campanhas presidenciais de Dilma, ou ambas;
- o governo, sem imaginação, parece disposto a lutar com todas as suas forças para que o impeachment não seja discutido. Esquece que tende a perder mais e mais sustentação com a conjugação das medidas recessivas que tomou, os protestos de rua e os excessos repressivos, os desdobramentos do petrolão e o agravamento das crises hídrica e energética. Poderá ser obrigado a travar a batalha decisiva quando estiver debilitado ao extremo;
- a concretização do impeachment ou sua rejeição pelos votos dos parlamentares deverá trazer alguma calmaria ao ambiente político, seja com a constituição de um novo governo, seja com o governo atual recebendo um voto de confiança que dificultará quaisquer outras tentativas de dar-lhe fim prematuro;
- já se o PT conseguir evitar que o impeachment seja discutido e votado, aí haverá motivos para temermos um golpe de estado, pois ficará e será devidamente explorada a impressão de que o Congresso, cedendo aos estímulo$ fi$iológico$, se tornou incapaz de cumprir sua missão (as pregações insidiosas da extrema-direita já batem muito nesta tecla).
5 comentários:
O povo já atendeu; Dilma pode ter sido uma gerente mediana mas falta-lhe estatura de uma estadista para encaminhar os problemas complexos do Brasil.
No seu primeiro governo já vazava, de auxiliares diretos, ser ela "insuportável no trato" devido sua arrogância, o que muito dificultava o andamento da administração.
Nomeou um ministério que supera em mediocridade o do seu primeiro governo.
Enfiou-se num atoleiro quando nomeia Mercadante chefe da Casa Civil e coordenador político. Um homem que não empolga nem os petistas.
"A natureza não dá saltos", continuará cometendo seus erros políticos primários.
Seu governo terá dias tumultuados, muito pior que o primeiro.
O que tem a direita para tentar um impeachment? O apoio muito profissional do "soft power" de Barack Obama (criou o Instituto Millenium (novo IBAD), treinou lideranças Black Bloc (você pensa que são esquerda? Sabe de nada, inocente! Já foram totalmente infiltrados pela CIA (como foram a Brigadas Vermelhas, nos anos 70)), comprou o PSB (intelectuais como Paul Craig Roberts e Mike Whitney demonstraram este fato quando houve o "acidente" de Campos para que a "Lady Washington" Marina assumisse o seu lugar na ribalta) e o desejo de controlar o Pré-Sal a qualquer preço (você não dá importância ao petróleo, mas os EUA dão). Nada mal.
O grande problema para a direita é que eles já conquistaram quem poderiam conquistar na sociedade brasileira: a classe média reacionária e os agregados pelo discurso doentio da mídia contra o PT.
O PT tem o movimento social que realmente conta: os sindicatos. Agregados a este, movimentos menores como os que lutam pela moradia e transporte público e mobilidade (setores muito beneficiados com o Minha Casa, Minha Vida (federal) e investimentos em transporte de massa e ciclovias (prefeituras petistas).
Dilma não é Collor! Quem apostar no impeachment vai colher resistência e até guerra civil!
Marcos, o pior cego é quem não quer ver.
Você acredita na discurseira do PT. Igualzinho a 1964, quando o Luiz Carlos Prestes trombeteava que o PCB já estava no poder, mas os milicos derrubaram o governo com um piparote.
Sabe o que mais me assusta? É o fato de que, desta vez, a direita não está se precipitando. Prepara calmamente sua jogada, usa os Gandras da vida para testar possibilidades como a do impeachment por dolo e não por culpa, acumula forças e espera o desgaste do governo atingir o auge.
Se o prestígio da Dilma caiu tanto antes do carnaval e antes do pacote econômico impactar mais acentuadamente sobre o cotidiano do povão, imagine quando o ano político começar de verdade.
Grave bem o que estou antecipando agora: 2015 não terminará sem uma tentativa de impeachment passar pelo Congresso.
Se será aprovado ou não, é outra história. Mas, no auge da crise econômica e do descontentamento popular, a chance é grande.
Pessoalmente não gosto da perspectiva, mas acho tolo e pueril tapar o sol com a peneira. Temos é de levar em conta o cenário que se esboça e nos prepararmos para reagir a ele.
Enfiar a cabeça na areia e escrever como se nossas palavras fossem talismãs contra os maus eventos costuma ser fatal.
O problema não o desgaste provocado pelo "ajuste" de Joaquim Levy. O "ajuste" foi suave (bem mais suave do que o de Antonio Palloci), as taxas de inflação já cedem. O caminho natural é a recuperação do emprego depois de uma rápida oscilação para cima e da popularidade da Presidente.
O grande problema é a falta de atitude do governo em relação aos golpistas. Quando o Torquemada Barbosa pisoteou a Constituição para condenar sem provas os acusados no suposto "mensalão", o PT aceitou sem reclamar. Agora, com o "TucanoMoro" (creio que você está informado que ele tem toda uma relação familiar com o PSDB, e a "patroa" ainda trabalha para a Shell) prendendo pessoas para averiguação (coisa da ditadura...) em sua Guantànamo curitibana, o "ministro" da justiça fica quietinho quando deveria ter tirado "TucanoMoro" do inquérito imediatamente após a confirmação de tais informações.
Reitero que Dilma não é Collor. A extrema-direita delirante foi adotada pela mídia corporativa no seu afã em derrubar a Presidente. Podem jogar o Brasil na guerra civil pois o movimento social não vai aceitar uma "hondurada" no Brasil.
Marcos, fala sério! Estamos em plena recessão e a única dúvida é se ela evoluirá ou não para uma depressão.
Você parece não ter a mínima noção do que seja crescimento zero num país pobre e com tantos jovens chegando ao mercado de trabalho como o Brasil. Pois é isto que teremos em 2015, crescimento zero ou negativo.
a garfada que o Levy deu nos terceirizados, aumentando-lhes escandalosamente os impostos, significará menos consumo.
O ambiente econômico repleto de incertezas fará os grandes capitalistas congelarem os investimentos, à espera de dias melhores.
Então, lá pela metade do ano, teremos diminuição de renda dos trabalhadores, retração do consumo e aumento do desemprego.
Como você acha que a massa reagirá, com a imprensa burguesa lembrando-lhe a cada instante que foi exatamente isto que a Dilma prometeu que não aconteceria?
É por isto que eu tenho alertado: seria melhor o governo enfrentar logo a batalha do impeachment do que deixar o inimigo ir acumulando força, cada vez mais.
Talvez nos próximos meses, ainda escapasse. Mas, no segundo semestre, eu prevejo que tudo estará contra Dilma.
A menos que ela comece imediatamente a acertar (nos últimos tempos, só tem errado). P. ex., convencendo o Lula a assumir a articulação política, como principal ministro do governo.
Pois, se continuar dependendo dos trapalhões que compraram a briga com o Eduardo Cunha para perderem de goleada e não conseguiram evitar que os parlamentares automatizassem a concessão de recursos reeleitoeiros, ela está frita.
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