sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

2015 PROMETE SER O ANO MAIS QUENTE NA POLÍTICA BRASILEIRA DESDE 1968

Até no visual esta parece à deriva...
Não trouxe esperança nenhuma a posse de Dilma Rousseff para o novo mandato conquistado aos trancos e barrancos, com a satanização dos adversários, o estelionato eleitoral e o abuso clamoroso da máquina governamental. 

Assumiu admitindo que fará mesmo um ajuste recessivo da economia, embora tenha sido este um dos principais espantalhos utilizados por sua campanha contra os adversários. 

Eles, os neoliberais empedernidos, estariam preparando medidas duras para tirarem o pão da mesa dos pobres. Ela, a heroína do bem, jamais abriria o saco das maldades. 

Agora, dá o dito por não dito e anuncia que vai aplicar fielmente tal receituário, fazendo-nos suspeitar que o vulto feminino com o qual acabará historicamente identificada vá ser o de Margaret Thatcher (já tinham em comum a rispidez e o mandonismo). Um péssimo ponto de chegada para quem um dia deve ter-se espelhado em Rosa Luxemburgo, La Pasionaria e Anita Garibaldi...

Para dourar a pílula, fez a ressalva meramente retórica de que submeterá o País ao "menor sacrifício possível".

O que isto refresca? Nada. Porque se trata de uma admissão de que as possibilidades ditarão a escala do ajuste. Se concluir que é imprescindível um ajuste dos mais rigorosos, Dilma não faltará com a palavra ao implementá-lo, portanto... me engana que eu gosto!

Quanto ao maior escândalo brasileiro de todos os tempos, o da Petrobrás, Dilma continua com a cabeça enfiada na areia, qual avestruz. Diz que é tudo culpa de funcionários subalternos e de um complô internacional. 

Não teria, portanto, nada a ver com o loteamento de cargos e a transformação do governo num balcão de negócios, marca registrada da política podre que nós, ingenuamente, supúnhamos que o PT extirparia do poder, se e quando a ele chegasse. Faz 12 anos que esperamos em vão.

...enquanto estes sabem o que querem e têm de fazer...
Declarações beirando o autismo e a posse de um Ministério super inflado e de quinta categoria só fizeram aumentar nossos receios de que o pior dos mundos possíveis nos espera ao longo de 2015: a certeza de recessão (que talvez evolua para depressão), a ser administrada por um governo fraco e com pouquíssima credibilidade, torpedeado pela direita e pela esquerda.

A primeira, obviamente, tentará o impedimento de Dilma, usando a munição fornecida pelas investigações do petrolão ou outras que surjam. Parece que a única dúvida restante é qual o motivo a ser alegado no pedido de impeachment.

Quanto à esquerda, vale notarmos uma notícia do Estadão do último dia 26, que passou meio despercebida em meio ao clima natalino (a íntegra está aqui):
"Cerca de 40 líderes de movimentos sociais, centrais sindicais e partidos como PT, PSOL, PC do B e PSTU começaram a articular a criação de uma frente nacional de esquerda e já preparam uma série de atos e manifestações para 2015. O objetivo dessa mobilização é o de se contrapor ao avanço de grupos conservadores e de direita não só nas ruas, mas no Congresso e no governo federal.
...A iniciativa partiu de Guilherme Boulos, do MTST, que (...) havia feito elogios ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na inauguração de um conjunto habitacional gerido pelo movimento, na Grande São Paulo.
Dias depois, Lula (...) divulgou vídeo no qual diz que é preciso 'reorganizar' a relação com os movimentos e partidos de esquerda se o PT quiser 'continuar governando o Brasil'".
...e estes devem ser incorporados à luta maior que se travará.
Ou seja, o quadro que se desenha é de enfrentamento entre direita e esquerda, com um governo débil no meio, tentando apaziguar ora a uma, ora à outra. 

Este filme eu já vi e acabou mal. Foi no governo de João Goulart, que, aliás, era muito mais competente do que Dilma e mesmo assim não segurou o rojão.

Para contrabalançar, desta vez quem estará comandando a esquerda é o Lula, político dos mais argutos, que certamente vai obter de volta, na marra, os nacos de poder que lhe foram retirados na reforma ministerial, mas não vacilará um segundo quando for hora de preservar o mandato de Dilma, com todos os seus defeitos, da escalada direitista.

E os valorosos manifestantes que foram às ruas a partir das jornadas de junho de 2013, tão vilipendiados pela esquerda palaciana, agora terão de ser vistos de forma bem diferente: conquistar o seu apoio e engajamento será fundamental para a Frente de Esquerda.

O ano de 2015 promete ser o mais quente na política brasileira desde 1968.

6 comentários:

Anônimo disse...

A presidente Dilma disse que fará o ajuste com o " menor sacrifício POSSÍVEL". A chave está na palavra "possível".
Os trabalhadores serão os primeiros, senão os únicos, a sentirem o "sacrifício" ainda neste mês de janeiro com o início das grandes levas de demissões, com o estofo retirado do colchão do auxílio desemprego.
Não tenhamos ilusão com esse partido. Economicamente deu migalhas aos mais necessitados. Aos pobres, crédito farto entupindo-os de bugigangas.
Oprime a classe média. Sendo mais representativo a não correção do Imposto de Renda.
Quanto aos ricos, um mar de benesses; donos de supermercados, de materiais de construção, lojistas,concessionárias de veículos, usineiros,donos de frigoríficos, rentistas que alugam terras para produção de álcool.
Quem era pequeno nos ramos citados se enriqueceu. Os ricos duplicaram suas fortunas ou mais nesses 12 anos.
Nunca o capitalismo no Brasil teve uma maré tão mansa, águas tão tranquilas como no governo petista.

Joao Paulo Lourenco disse...

Ótimo texto. Mas convenhamos que as Jornadas de Junho serviram só para fortalecer a Direita, que jão não sente mais vergonha de ir às ruas e gritar seus ideais desumanos. A esquerda não ganhou nada com essas jornadas. A mídia foi esperta, e conseguiu culpar a Dilma por todos os males do país, culpa comprovada pela indignação dos manifestantes. E de que serviram? Nos pontos mais densos do país, SP e RJ, a situação se reelegeu. No plano federeal, Dilma se reelegeu.
2015 vai ser duro mesmo, mas torçamos para que não seja tão ruim assim.

Anônimo disse...

o que seria o estelionato eleitoral ao qual voce se refere,seria uma fraude em forma de eleiçao?

celsolungaretti disse...

Anônimo que comentou às 15h43, o estelionato eleitoral foi a Dilma atribuir à Marina e depois ao Aécio a intenção de fazer um ajuste recessivo que ela não faria, bem como a intenção de servir aos banqueiros.

Depois de eleita, ela convidou um homem do Bradesco para ser ministro da Fazenda (só não ficou com o cargo porque o recusou) e vai fazer o mesmíssimo ajuste que os outros fariam.

Sabe por quê? Porque, seguindo a lógica do capitalismo, tal ajuste é inevitável. Ela poderia, claro, tentar outro caminho, mas nunca foi intenção dela (nem da Marina) seguir os passos do Allende ou do Chávez.

Então, o que ela fará agora, com o Levy, vai ser o que ela sempre soube que faria. Mas, enganou o eleitorado a este respeito.

Isto se chama estelionato eleitoral.

celsolungaretti disse...

João Paulo, a massa sair às ruas em escala tão ampla é algo que não se via desde o "Fora Collor!". Isto conta muito mais do que quaisquer cálculos de perdas e ganhos.

Estamos vendo dia após dias que, no jogo de cartas marcadas da política oficial, a governabilidade depende de satisfazer as ambições dos fisiológicos, o preço acaba sendo pago com a montagem de esquemas de corrupção e com a entrega de Ministérios e presidências de empresas aos piores corruptos, depois a m. vai para o ventilador e o governo fica mais dependente ainda da base de sustentação podre. enfim, é um circulo vicioso.

Após o mensalão veio o petrolão, depois de todos os escândalos veio esse Ministério loteado entre o que há de mais nefasto na política brasileira. Nada muda.

Então, a ÚNICA esperança é aquilo que vem de fora desse sistema carcomido. Está nas ruas.

Depende de nós engajarmos de novo as massas para os embates políticos ou ficarmos patinando sem sair do lugar, como estamos nos últimos 12 anos.

Jorge Nogueira Rebolla disse...

Sacrificar os inocentes está em linha com La Pasionaria, é só adaptar para um governo em perigo:

"Si en época normal hay un adagio que dice que es preferible absolver a cien culpables a castigar a un inocente, cuando está en peligro la vida de un pueblo, es preferible condenar a cien inocentes antes que el culpable pueda ser absuelto."

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