sexta-feira, 21 de novembro de 2014

PARA GABEIRA, DEPOIS DO JUÍZO FINAL VEM O APOCALIPSE...

Cada vez que aqui reproduzo textos alheios, recebo como troco as habituais espinafrações ad hominem, pois o debate de idéias e argumentos é estranho à maioria dos internautas. Estes preferem impugnar pessoas do que refletir sobre o que elas pensam. Seguem sempre a lei do menor esforço.

O diabo é que, assim, não sobra ninguém. Todo autor que escreve coisas minimamente interessantes pode ser acusado disto ou daquilo. A burrice, penhorada, agradece.

Então, tomei a decisão de acolher neste espaço o que, na minha avaliação, for inteligente e/ou consistente e/ou criativo e/ou relevante, pouco me importando os pecados e pecadilhos outrora cometidos ou atribuídos ao autor.

P. ex., vêm de longe minhas discordâncias e dissonâncias em relação ao Fernando Gabeira, mas seu artigo desta 6ª feira, 21, em O Estado de S. Paulo -Apocalipse, agora (acesse a íntegra aqui)- pegou no breu em vários trechos, os quais  reproduzo em seguida. 

Não estou endossando tudo que ele já escreveu, nem todas as decisões que tomou na vida. Mas, como o bom jornalista e perspicaz analista que ele é, hoje acertou várias vezes na mosca. E é isto o que importa, hoje. Quem fica escarafunchando o passado é arqueólogo.

Eis os trechos em questão:

"Passada uma semana do juízo final, ainda me pergunto: cadê a Dilma? Ela disse que as contas públicas estavam sob controle e elas aparecem com imenso rombo. Como superar essa traição da aritmética? Uma lei que altere as regras. A partir de hoje, dois e dois são cinco, revogam-se as disposições em contrário.

...Cadê você, Dilma? Disse que o desmatamento na Amazônia estava sob controle e desaba sobre nós o aumento de 122% no mês de outubro. Por mais cética que possa ser, você vai acabar encontrando um elo entre o desmatamento na Amazônia e a seca no Sudeste.

Cadê você, Dilma? Atacou Marina porque sua colaboradora em educação era da família de banqueiros; atacou Aécio porque indicou um homem do mercado, dos mais talentosos, para ministro da Fazenda. E hoje você procura com uma lanterna alguém do mercado que assuma o ministério.

Podia parar por aqui. Mas sua declaração na Austrália sobre a prisão dos empreiteiros foi fantástica. O Brasil vai mudar, não é mais como no passado, quando se fazia vista grossa para a corrupção. Não se lembrou de que seu governo bombardeou a CPI. Nem que a Petrobrás fez um inquérito vazio sobre corrupção na compra de plataformas. A SBM holandesa confessou que gastou US$ 139 milhões em propina.

E Pasadena, companheira?

O PT está aí há 12 anos. Lula vez vista grossa para a corrupção? Se você quer definir uma diferença, não se esqueça de que o homem do PT na Petrobrás foi preso. Ele é amigo do tesoureiro do PT. A cunhada do tesoureiro do PT foi levada a depor porque recebeu grana em seu apartamento em São Paulo.

De que passado você fala, Dilma? Como acha que vai conseguir se desvencilhar dele? A grana de suas campanhas foi um maná que caiu dos céus?

Um dos traços do PT é sempre criar uma versão vitoriosa para suas trapalhadas. José Dirceu ergueu o punho cerrado, entrando na prisão, como se fosse o herói de uma nobre resistência. Se Dilma e Lula, por acaso, um dia forem presos, certamente, dirão: nunca antes neste país um presidente determinou que prendessem a si próprio.

...É muito aflitivo ver o País nessa situação, enquanto robôs pousam em cometas e EUA e China concordam em reduzir as emissões de gases de efeito estufa. O realismo precisa chegar rápido para a equação, pelo menos, de dois problemas urgentes: água e energia. Lobão é o ministro da energia e foi citado no escândalo. Com perdão da rima, paira sobre o Lobão a espada do petrolão. Como é que um homem desses pode enfrentar os desafios modernos da energia, sobretudo a autoprodução por fontes renováveis?

Grandes obras ainda são necessárias. Mas enquanto houver gente querendo abarcar o mundo a partir das estatais, empreiteiras pautando os projetos, como foi o caso da Petrobrás, vamos patinar. O mesmo vale para o saneamento, que pode ser feito também por pequenas iniciativas e técnicas, adequadas ao lugar.

Os homens das empreiteiras foram presos no dia do juízo final. Este pode ser um caminho não apenas para mudar a política no Brasil, mas mudar também o planejamento. A crise hídrica mostra como o mundo girou e a gente ficou no mesmo lugar. Existe planejamento, mas baseado em regularidades que estão indo água abaixo com as mudanças climáticas.

O dia do juízo final não foi o último dia da vida. É preciso que isso avance rápido porque um ano de dificuldades nos espera. Não adianta Dilma dizer que toda a sua política foi para manter o emprego. Em outubro, tenho 30.283 razões para desmentir sua fala de campanha: postos de trabalho perdidos no período.

Não será derrubando a aritmética, driblando os fatos que o governo conseguirá sair do seu labirinto. 

...O ministro da Justiça vê o incômodo de um terceiro turno. Não haverá terceiro turno, e, sim, terceiro ato. E ato final de uma peça de teatro é, quase sempre, aquele em que os personagens se revelam. Por que esses olhos tão grandes? Por que esse nariz tão grande, as mãos tão grandes, vovozinha?"

10 comentários:

Anônimo disse...

Conversa fiada desse Gabeira.

Tentando jogar tudo nas costas de Dilma. Dilma não é perfeita e muito menos este governo, mas não é este sujeito que tem moral para criticar.

Está querendo jogar até a crise hídrica nas costas do Gov. Federal. É um mané.

Quanto a corrupção hedionda dos tucanos ele se cala. Ele apoiou o Serra e o Aécio. Dois enrolados até o talo com desvios de verbas.

Cadê as críticas ao TRENSALÃO, METROLÃO, etc. E a incompetência dos seus tucanos aliados? Aécio e Anastasia quase destruíram Minas, deixaram um dívida de 90 bilhões. E agora ele quer jogar a corrupção da história do Brasil em cima do PT.

Quem só critica de um lado não tem moral e pra mim não passa de um vendido.

Só respeito quem bate no Chico e no Francisco, caso contrário pode ir lamber sabão.

celsolungaretti disse...

Anônimo,

na universidade se ensina a dar uma visão equilibrada das coisas. É o estilo habitual dos acadêmicos, os schoolars. Geralmente, o espaço para ficar evocando os vários lados, nuances e antecedentes de uma questão é ilimitado. Escreve-se quanto quiser.

Jornalismo é totalmente diferente. Refere-se ao MOMENTO, ao HOJE, e tem ESPAÇO LIMITADO para passar seu recado.

Então, não faz sentido você exigir que o Gabeira recapitule todos os escândalos de corrupção brasileiros desde o tempo do Cabral. Se ele está escrevendo sobre as crises política e econômica atuais, pode, sim, escrever só sobre elas, sem ficar ressalvando a toda hora: "mas os tucanos também faziam coisa parecida".

De qualquer forma, o TCU, que tem como missão saber dessas coisas, avalia que o petrolão é o maior escândalo de todos, em termos de quantias envolvidas.

Além de ser o escândalo que está no noticiário neste exato momento. Os outros ficaram para trás (infelizmente).

Resumo da opereta: tente entender as características de cada discurso. O do Gabeira é muito bom como texto de jornalista. Seria muito ruim como texto de acadêmico. Mas, você não pode exigir que ele, jornalista, escreva como acadêmico.

Abs.

celsolungaretti disse...

Vale acrescentar algo que me ocorreu depois de responder ao comentário acima.

Provavelmente, poucos sabem quão graves eram minhas citadas "discordâncias e dissonâncias" em relação ao Gabeira. Este artigo de 50 meses atrás pode dar uma ideia:
http://naufrago-da-utopia.blogspot.com.br/2010/09/ex-guerrilheiro-ex-socialista-o-ex.html

Num momento em que ele tocou neste assunto, expressei toda minha contrariedade pela forma como ele abordava um passado que era também o meu: o de antigo guerrilheiro.

Mas, se eu me puser a atirar na cara de cada personagem da política seus podres antigos, perderei a oportunidade de aproveitar alguma boa contribuição que ele possa dar na atualidade.

Daí ter resolvido deixar isso para trás, a menos que se esteja discutindo o passado, como o Gabeira fez ao desmerecer a luta armada. Aí, sim, cabia eu questionar o comportamento dele na luta armada.

Mas, quando ele escreve um artigo como o de hoje, não faria sentido nenhum eu evocar episódios de quatro décadas atrás.

A vida continuou e, mais do que tudo, importam o hoje e o amanhã.

Eduardo Rodrigues Vianna disse...

Rapaz, li lá o texto do Gabeira, no blog do Gilvan.

Enquanto o texto dele é lido e discutido (Gabeira é bom escritor além de ser bom jornalista), tamos aí com a Kátia Abreu pra ser posta como ministra da agricultura.

Se for pra falar de passado, que seja de um passado mais recente, em que ela ameaçou o Sakamoto após ele associá-la com muito acerto à exploração do TRABALHO ESCRAVO no Brasil atual. E é ministra do governo Dilma!

Este governo não apenas se abstém de tomar postura diante do gravíssimo momento político, como apontou o Gabeira. O governo regride em suas posições, ainda que isto pudesse parecer impossível.

E o MST dizendo por aí que tem a esperança de ver o novo governo Dilma ser mais progressista e mais democrático que o anterior, ao mesmo tempo em que avisa estar pronto para enfrentar a Kátia Abreu, como se a presidente e a nova ministra pertencessem a governos diferentes e estivessem em lados opostos.

E o pessoal aí defendendo a Dilma de um Golpe, urdido a canetadas por Gilmar e seus miquinhos, na sombra, em nome das forças do mal. Como se a direita não estivesse no poder.

celsolungaretti disse...

Seria cômico se não fosse trágico, Eduardo.

Os grãos petistas me perseguem de forma vergonhosa, embaçando o recebimento do que é meu por legítimo direito; tratam-me como inimigo e nem sequer têm coragem de me enfrentar cara a cara, ficam escondidos nas sombras da burocracia.

Mas, se houver uma ameaça real de golpe de estado, eu serei um dos que arriscarão a vida para evitar uma nova ditadura, ao contrário da quase totalidade dessa escória que eles COMPRAM com boquinhas e migalhas de poder.

Enquanto isto, confiam cegamente nos Toffolis e Fux da vida, que lhes prometem mundos e fundos mas, na primeira oportunidade, bandeiam-se para o outro lado.

O golpe a que vc se refere, uma manobra para reprovar as contas da Dilma, foi obra e graça do Toffoli, um sujeito cujo currículo jurídico jamais justificou a condição de ministro do STF.

Mas, o Lula o indicou para ter mais um aliado lá dentro. Aí, o Gilmar Mendes soltou os cachorros em cima dele e a grande imprensa apoiou caninamente. Até editoriais produziram, questionando sua competência legal.

De repente, Mendes e Toffoli mantiveram uma reunião a portas fechadas. A partir daí, o Mendes mudou diametralmente de opinião e passando a defender a confirmação do Toffoli como ministro.

O Caso Battisti estava no momento mais dramático e todos sabíamos que a votação seria apertada. O Toffoli, que teoricamente deveria votar contra a extradição, de repente se declarou impedido. Já em casos posteriores, nos quais havia muito mais motivos para ele se abster, a consciência dele não doeu...

Nem preciso dizer que, no Comitê de Solidariedade ao Battisti, todos ficamos com a pulga atrás da orelha assim que soubemos da reunião dele com o Mendes. O que aconteceu depois foi exatamente aquilo que adivinhávamos.

Agora, parece que o Toffoli forçou a barra para que Mendes pudesse assumir a relatoria das contas da Dilma.

Dá a impressão que se trata de uma tabelinha igual à que existiu no Caso Battisti: primeiramente, o Mendes era o presidente do Supremo e indicou o carolão reaça Cezar Peluso para relator; depois o Peluso assumiu a presidência e a relatoria foi para o Mendes. Mantiveram as duas posições-chave durante o processo inteiro. E, mesmo assim, derrotamos ambos!!!

Agora, se o Mendes conseguir fazer o estrago que os petistas tanto temem, será o caso de se lembrarem da velho provérbio: quem pariu Mateus, que o embale.

Pois, se o Toffoli não estivesse onde não deveria estar, não poderia agora ter delegado tal incumbência ao Mendes...

Eduardo Rodrigues Vianna disse...

Cômico, não. Mas é ridículo à beça.

Quanto ao "golpe", não temos nenhum motivo para crer que acontecerá. Aconteceria se o sistema financeiro e o imperialismo norte-americano quisessem, ali com o sistema financeiro e a indústria, a burguesia "nacional".

Não tenho nem sombra de dúvida de que golpes e ditaduras fazem parte do futuro do Brasil, mas não agora. Agora, temos aí os ajustes, a serviço do capital e em meio a um Congresso tão patronal e tão reaça. Por outras palavras, o que temos aí é uma estabilidade do capital, e a nomeação de senhores de escravos para a condução da Agricultura e a Indústria são o seu sinal mais evidente. Até mesmo uma pauta REBAIXADA como a redução da jornada laboral para 40 horas semanais torna-se um objetivo dificílimo nessas circunstâncias.

E, de fato, quem pariu Mateus que o embale. Fico me perguntando que diabos isto aqui vai virar quando tivermos o Mateus Abreu, da UDR, e o Mateus Monteiro, do CNI. Essas sim seriam as forças de qualquer verdadeiro golpismo, e estão com o governo, deitando, rolando e "ajustando".

Não é necessário nenhum golpe atualmente, a direita já está no poder.

PS. Quanto ao que te sacaneiam, o que mais se poderia esperar? Esse pessoal realmente não tem vergonha.

Anônimo disse...

Com as entrelinhas golpistas do texto do Gabeira Lungaretti concordou, agora falta analisar o que discordou.
Gabeira não precisa ir até Cabral, basta ir até FHC e no Escândalo da atual Quadrilha que assalta o Metrô/SP. Quanto à seca "amazônica", vinte anos de PSDB em SP não resistem a dez meses de estiagem.
Seletiva essa tabelinha Gabeira/Lungaretti. Usa-se a artimanha da seletividade do MOMENTO, do HOJE, e do ESPAÇO LIMITADO, para dar verniz a textos furados cujos alicerces são anti-petismo à extrema-direita e à extrema-esquerda.

celsolungaretti disse...

Desde quando exercer o direito de crítica a um governo medíocre equivale a "entrelinhas golpistas"?

Em nenhum trecho do seu artigo o Gabeira prega golpe de estado. Nem mesmo o impeachment, QUE NÃO DEVE SER TENDENCIOSAMENTE CONFUNDIDO COM GOLPISMO, pois é uma possibilidade prevista na Constituição.

De resto, para criticar os crimes do Hitler ninguém precisava compará-los aos do Vlad Dracul.

Se você não quer entender, não entenda, mas nenhum articulista é obrigado a relativizar a corrupção investigada no presente evocando a corrupção do passado. Se sua análise do episódio atual for consistente e fundamentada, é o que basta.

Eduardo Rodrigues Vianna disse...

O espantalho "golpista" a que esse povo anda recorrendo para justificar as suas superstições, o seu rabo preso a depender da ocasião, é a coisa mais idiota que já vi em toda minha vida.

Tomara mesmo que a Dilma não sofra um impeachment, se não a loucura dessa gente boa que não sabe discutir política sem enxergar marcianos prestes a invadir a Terra chegará, ainda mais, às raias do insuportável.

A ideologia petista - não tou falando da esquerda, tou falando da ideologia petista - é uma piada.

Ângela disse...

Sou o anônimo número um, o primeiro a comentar. Meu nome é Ângela.

Quero dizer que o PT está uma droga, rendido, não tem mais força pra reagir, mas, entretanto ainda é o melhor partido e o melhor programa.

Não adianta crucificar o PT, pois NENHUM partido ou político será capaz de continuar com a distribuição de renda e aumento da melhoria de vida do povo brasileiro.

Portanto, a gente xinga, se descabela e tenta acordar o partido, mas o PT ainda é o melhor, ou o ÚNICO a se preocupar com o povo pobre.

No dia em que o PT perder a eleição presidencial este país volta pro buraco. "Quem poderá nos salvar"? NINGUÉM!

Portanto, eu critico e tenho ódio de certas atitudes dos petistas. Mas, é aquela história: " ruim com ele, pior sem ele. Não há luz no fim do túnel sem o PT no governo. Será o fim deste país. Perderemos tudo que conquistamos.
Nem é bom pensar.

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