quarta-feira, 22 de outubro de 2014

UM FILME MARCANTE, QUE NOS LEVA A REFLETIRMOS SOBRE O UTILITARISMO.

Eis um filme que tem muito a ver com o deprimente momento pelo qual passamos no Brasil: Mississippi em chamas (1988). Mostra o assassinato de três ativistas dos direitos civis dos negros por parte da Ku Klux Klan, em 1964, numa pequena cidade do Mississippi, seguindo-se as investigações a cargo do FBI.

A política do governo estadunidense era a legada por John Kennedy, de fazer respeitar os direitos civis custasse o que custasse. Então, o desaparecimento dos três ativistas leva à cidade uma verdadeira tropa de ocupação do FBI, comandada por um agente idealista (Willem Dafoe), que segue fielmente a cartilha da legalidade. Um de seus auxiliares (Gene Hackman), antigo xerife de cidade sulista como aquela, tem uma visão pragmática e cínica da missão.

Com quase todos os moradores brancos participando da KKK, sendo solidários a ela ou temendo ficar na sua mira, o trabalho não avança. Até que o agente idealista, frustrado pelos fracassos e pelas sucessivas demonstrações de força dos encapuzados, dá carta branca para o auxiliar amoral conseguir resultados por meio de abusos policiais. Assim, é cometendo crimes menores que o FBI consegue desvendar o crime maior e entregar os culpados à Justiça.

A ótica do diretor Alan Parker (O expresso da meia-noite, Pink Floyd - The Wall, Coração satânico) é totalmente utilitária: ele vilifica as autoridades locais, pertencentes ou mancomunadas com a KKK, tornando simpáticos os policiais arbitrários e fazendo com que pareça justificado o uso de métodos não ortodoxos para arrancar a verdade dos envolvidos no assassinato. O espectador acaba vendo o auxiliar amoral como aquele que sabe das coisas, enquanto seu chefe legalista não passa de um ingênuo.

O filme é impactante, prende a atenção, evoca um momento histórico importante e tem Gene Hackman em grande forma. Merece ser visto.

Mas, a tese utilitária tem de ser rechaçada firmemente, em todas as circunstâncias! Porque quem age como criminoso se torna também criminoso, o fim nobre nunca permanece o mesmo depois de se utilizarem meios espúrios para o atingir. E a experiência histórica nos ensina que, depois da primeira violação de conduta, abrem-se as porteiras para muitas e muitas outras, com a exceção logo se tornando regra. É uma viagem sem volta.

Esta discussão vem a calhar quando o PT abdica de quaisquer escrúpulos na busca de vitória eleitoral, tendo tomado a iniciativa de deturpar e apequenar a batalha política, tornando-a uma campanha de satanização, de medo, do ódio, de uso indiscriminado da mentira e do apelo para irrelevâncias que beiram os fuxicos de comadres. 

Poderá até resultar, mas o partido sairá da eleição muito menor do que entrou; de depositário das esperanças populares se terá tornado um beneficiário da credulidade dos despolitizados, dos coitadezas que se deixam enganar pelos métodos nazistas/stalinistas de manipulação das massas. 

Vitórias de Pirro preparam o terreno para derrotas acachapantes (e eu temo que as consequências acabarão recaindo sobre todos nós, não apenas sobre os dirigentes do PT responsáveis pela descida ao esgoto). 

8 comentários:

Anônimo disse...

Celso, já está com os documentos na mão?
Domingo: Dilma, 13.
Não esqueça!

celsolungaretti disse...

Nem a pau, Juvenal. Quando os dois candidatos são igualmente nulos, o jeito é votarmos nulo.

Anônimo disse...

Está bem, não vou insistir.
Mas lembre-se que o caminho para a utopia tem de ser trilhado sobre o terreno real...
É precisamente disso que se trata no momento.
Os candidatos não são nulidades.
Defendem programas.
É preciso avançar.
No caso brasileiro, só com Dilma.
Cordiais saudações do
Juvenal

celsolungaretti disse...

Defendem programas? Bom, a Dilma não apresentou nenhum e o do Aécio é de direita.

O pior é que, no fundo, no fundo, trata-se do MESMO programa: a exploração do homem pelo homem permanece intocada e o grande capital dita a política econômica. Ninguém ousa contrariá-lo no ATACADO. Seja quem for que finja ser presidente, só lhe permitirão gerenciar o varejo. É o que o PT faz há 12 anos: aumenta um tiquinho a quantidade de migalhas da mesa dos poderosos que são atiradas aos pobres. Deveria é lutar para que os pobres sentassem-se à mesa e pudessem comer quanto quisessem. Foi para isto que o criamos.

Estou um pouco velho para ficar escolhendo o MENOS PIOR. Não estando colocada uma opção revolucionária, a eleição será totalmente inútil, como todas as anteriores. Estamos há muito tempo patinando sem sairmos do lugar.

Anônimo disse...

Dilma não apresentou programa?
A meu ver, as cartas sobre a mesa dizem tudo.
Vamos ficar apenas com o fato de várias dezenas de milhões de brasileiros, com as migalhas, já não passam fome.

celsolungaretti disse...

Nem os escravos passavam, caso contrário seu trabalho renderia menos. Mas, se escravos bem alimentados é tudo que o PT nos pode dar, ele fracassou miseravelmente. Era para tornar os trabalhadores os senhores da sociedade.

Anônimo disse...

Engano seu. Os escravos passavam fome, sim. Sua vida era determinada pelo cálculo econômico. Vamos ficar com a produção açucareira: se o preço do açúcar subia, o escravo era obrigado a trabalhar mais, até a exaustão e a morte (mesmo que custasse muito). Em um de seus livros, Celso Furtado calcula que o tempo de vida médio do escravo era de 7 anos no Brasil.
Mas a fome e a desnutrição foram crônicas no país durante 500 anos.
Por fim, vamos lembrar que a libertação da classe trabalhadora será obra dela mesma.

celsolungaretti disse...

Estava falando de amos minimamente inteligentes, não de cavalgaduras.

Quanto à libertação da classe trabalhadora, não acontecerá enquanto farsantes a iludirem, desmobilizando-a e colocando-a a reboque de seus propósitos de perpetuação no poder.

Quem usa a militância como forma de se dar bem na vida nunca fará revolução nenhuma.

Related Posts with Thumbnails