quinta-feira, 10 de abril de 2014

SOBRE O ALFREDO SIRKIS, A AUTOANISTIA DOS OGROS, A "FOLHA" E AS LISTAS NEGRAS DO MACARTISMO

Certa vez, o teatro Oficina abriu suas portas para a plenária de um candidato à reeleição e, como ele me convidara e não havia nenhum orador inscrito para dizer algumas palavras sobre o papel desempenhado pelo dito cujo durante a ditadura militar, julguei que fosse isto que ele esperava de mim.

Houve, no entanto, uma manobra de bastidores para que a sessão fosse encerrada antes da minha fala. Contra a qual insurgiu-se o grande Zé Celso Martinez Correa. Ele fez questão de que meu discurso fosse ouvido no teatro que, afinal, a ele pertencia.


Quando saíamos, explicou-me que certos patrulheiros do autoritarismo mais tacanho haviam tentado me calar e aconselhou: "Jamais deixe cassarem sua palavra, em circunstância nenhuma!".


Desde então, já lá se vão quase oito anos, tenho seguido sua recomendação. 


Em todos os sentidos: quando a grande imprensa publica artigos que eu teria o direito de rebater, reivindico sempre o espaço, embora esteja careca de saber que não será concedido.


Quero deixar bem caracterizado o absoluto desprezo dos barões da mídia pelas boas práticas jornalísticas.

Assim, quando o outrora e nunca mais carbonário Alfredo Sirkis obteve (vide 
aqui) enorme espaço na Ilustrada para defender a falácia de que ditadores, em plena ditadura, tenham o direito de anistiarem a si próprios e a seus esbirros, enviei esta mensagem à ombudsman Suzana Singer:
Prezada,
como ex-resistente e personagem histórico com as mesmíssimas credenciais do Alfredo Sirkis, inclusive veterano do mesmo agrupamento revolucionário, solicito à Folha que me conceda espaço para, na Ilustrada do próximo domingo, com espaço e destaque equivalentes, contestar a visão por ele apresentada sobre a revisão ou não da Lei da Anistia.
Vale ressaltar que, desde 2008 (vide aqui), eu sustento posição contrária, tendo-a difundido em mais de uma dezena de artigos que escrevi ao longo destes quase seis anos. Os últimos deles, na semana que passou: este e este.
Espero que a decisão da Folha seja, desta vez, baseada nas boas práticas jornalísticas, não na antipatia que, há décadas, demonstra ter por mim...
Quando era carbonário, ele rugia. Hoje mia...
A resposta foi uma repetição da desconversa que sucessivos ombudsmans já me enviaram pelo menos uma dúzia de vezes:
Prezado Celso 
a coordenadora de artigos de Tendências/Debates diz que acabou de encerrar uma série grande artigos sobre 1964 e deve dar um tempo antes de voltar ao assunto.
Sua sugestão ficou com ela.
Atenciosamente...
Deixo aqui este registro. 

E sugiro a meus leitores uma pesquisa histórica, sobre o macartismo e suas listas negras. Houve um tempo, na década de 1950, em que certas pessoas não podiam ser empregadas nem citadas na imprensa estadunidense.

Qualquer semelhança com o Brasil atual não é mera coincidência.

Um comentário:

ismar disse...

Com um ex-guerrilheiro como este Alfredo Sirkis, a esquerda nem precisa de inimigos.

Parece até o Brilhante Ustra escrevendo.

Outra cousa: em nenhum outro livro da esquerda consta que o Siris tenha convencido Lamarca a não executar o embaixador Suíço, apenas ele sustenta esta versão fantasiosa. em Lamarca, o Capitão da Guerrilha, o livro mais importante sobre o capitão, está bem claro que o próprio Lamarca tomou a iniciativa de não permitir a execução do embaixador, como líder daquela ação.

"Porque consegui convencer nosso Comandante, Lamarca, aceitar a recusa de alguns dos presos estratégicos...."

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