domingo, 6 de abril de 2014

DOIS FILMES PARA RECORDAR JOSÉ WILKER (1946-2014)

Nem sempre um grande ator tem seu talento imortalizado em culminâncias da sétima arte. 

José Wilker, que faleceu neste sábado, aos 67 anos de idade, constantemente me dava (a exemplo de Richard Burton) a impressão de ser muito maior do que seus papéis, buscando um personagem à sua altura e nunca o encontrando. 

Burton hoje é lembrado mais por produtos hollywoodescos típicos como Quem tem medo de Virginia Woolf? (d. Mike Nichols, 1966) e não por sua única quase obra-prima, O espião que saiu do frio (d. Martin Ritt, 1965). 

Wilker -coitado!- era tecnicamente perfeito e carismático ao extremo, mas se desperdiçou nos medíocres projetos televisivos e cinematográficos das organizações Globo.

Ganhou muito dinheiro e suas atuações se perderão na poeira dos tempos -ao contrário, p. ex., de um Jardel Filho, que lhe era inferior como artista, mas cujo desempenho em Terra em Transe (d. Glauber Rocha, 1967) deverá indefinidamente continuar sendo um marco do melhor cinema que o Brasil já produziu.

Dos filmes que Wilker estrelou, o principal continua sendo o primeiro Os inconfidentes (d. Joaquim Pedro de Andrade, 1972), no qual compôs um Tiradentes inesquecível.

Depois que passou a jogar suas pérolas para os porcos, nada há de tão destacado. Por exclusão, opto por O homem da capa preta (d. Sérgio Rezende, 1986), num reconhecimento da dificuldade que qualquer ator teria ao se defrontar com um tipo tão bizarro como Tenório Cavalcanti, o deputado pistoleiro da Baixada Fluminense que ocultava uma submetralhadora sob a tal capa preta, foi alvo de vários atentados e responsável por inúmeras mortes.

Aliás, o fato de sair-se tão bem no desafio de personificar figuras históricas díspares como Tiradentes, Tenório Cavalcanti, Juscelino Kubitschek, Lampião e Antônio Conselheiro atesta o quanto tinha de talento e versatilidade. 


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