Para quem conheceu o cinema comercial de outrora, o panorama atual sugere terra arrasada.
Épicos como os de David Lean (principalmente A ponte do rio Kwai e Lawrence da Arábia), os grandes westerns de Sergio Leone e Sam Peckinpah, os policiais de Jean-Pierre Melville e Jose Giovanni (tanto os que ele próprio roteirizou e dirigiu, quanto os que se baseiam em suas excelentes novelas), as comédias de Dino Risi e Mario Monicelli não eram sequer considerados filmes de arte; destinavam-se a públicos mais amplos e geralmente os atingiam.
No entanto, nem de longe eram desprezíveis em termos artísticos. Muito pelo contrário. Tanto que vários deles estão sendo redescobertos e aclamados, merecidamente.
Enquanto isto, a lista das maiores receitas da indústria cinematográfica na atualidade praticamente coincide com a dos abacaxis mais execráveis. Dificilmente ultrapassam a idade mental de 12 anos.
Um respiradouro acaba sendo a TV por assinatura. Produções bancadas pelos canais pagos e comercializadas também no circuíto de DVD e blu-ray tentam atender às expectativas mais sofisticadas, enquanto a TV aberta vai se distanciando vez mais da vida inteligente.
Um bom exemplar dos novos tempos é Átila, o huno (2001), disponibilizado na janelinha abaixo. Mesmo sem grandes destaques na direção (Dick Lowry), no roteiro (Roberto Cochran) e no elenco (só o eterno coadjuvante Powers Boothe impressiona), consegue mesclar bem o entretenimento, a reconstituição de época e a reflexão histórica.
Sugere que a única personalidade apta a salvar o Império Romano era o general Flavius Aetius (Boothe); que só o conquistador Átila (Gerard Butler) poderia ter mantido a centralização política e econômica após o colapso de Roma; e que a morte quase simultânea de ambos condenou o mundo civilizado à fragmentação, ruralização e retrocesso, ensejando um milênio de trevas.
É uma tese fascinante, embora me pareça exagerar o papel do indivíduo na História. Creio que a decadência de Roma já se tornara irreversível e, no máximo, Aetius a retardaria um pouco; e que o Império Huno, mesmo que substituísse o romano, não sobreviveria ao seu criador, acabando por estilhaçar-se da mesma forma.
Mas, pelo menos Átila, o Huno nos convida a pensarmos a História, ao invés de permanecermos espectadores do passado como o somos do presente. Neste sentido, cumpre muito mais a função da arte do que superproduções ambiciosas como Tróia, do Wolfgang Petersen (aquele cineasta que, quando foi para Hollywood, deixou todo seu talento na Alemanha...).
Um comentário:
Celso,tenho algumas divergências de opiniões com vc.Mas, quanto as postagens dos filmes e comentários que os acompanham confesso que me torno um fã incondicional seu.
Muito obrigado pelo banho de CULTURA que vc nos patrocina.
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