sexta-feira, 11 de maio de 2012

COMISSÃO DA VERDADE: PALAVRA FINAL

Provocado por comentaristas do Centro de Mídia Independente, acabei respondendo com um balanço de meus esforços para evitar que a Comissão da Verdade fosse constituída como foi,
segundo parâmetros negociados com a direita ideológica e a bancada evangélica no Congresso. Não tendo vontade nenhuma de voltar a este assunto,  reproduzo aqui o texto que redigi para o CMI, como forma de dar uma satisfação (ou prestar contas) para os amigos e leitores.



Na verdade, nunca tive a Dilma em grande conta.

Conhecemo-nos no Congresso da VAR-Palmares de outubro de 1969: eu alinhado à tendência dita  militarista  e iniciador (juntamente com o José Raimundo da Costa, o  Moisés) do  racha  que acabou se concretizando no final daquele encontro, quando recriamos a VPR; e ela como coadjuvante da tendência contrária, que apelidávamos de  massista, daí ter permanecido na VAR-P.

Nessas condições, vimo-nos desde o primeiro tempo como adversários. É difícil surgir simpatia desta forma.

Apoiei-a no 2º turno presidencial não por ser antiga companheira da luta armada, mas para brecar o Serra. Quando ele se compôs com a extrema-direita, inclusive aceitando um vice troglodita como o Índio da Costa, não dava para eu cruzar os braços.

Sei como é difícil sair das ditaduras, então considero absolutamente prioritário evitarmos que elas se estabeleçam. Já pensaram o Serra tendo um piripaque e o Índio virando presidente do Brasil? Seria receita certa de turbulência.

Mas, sinceramente não esperava que a Dilma viesse a ser uma  companheira presidente. Tudo me levara a crer que ela se tornara apenas uma tecnoburocrata do capitalismo, sem a mais remota aspiração atual de dar um fim à exploração do homem pelo homem.

Agora está confirmado: é mais uma política que joga o jogo segundo as regra do sistema, não uma militante que entra no sistema para alavancar a revolução.

Apesar das minhas intuições, fiz tudo que podia para empurrá-la na direção dos ideais de outrora. É assim que sempre ajo. Não desisto enquanto a batalha não estiver definitivamente perdida.

Da mesma forma, quando a Comissão da Verdade foi aprovada mediante barganha com a bancada direitista no Congresso --exigiram que, não havendo representantes dos militares, também não fossem admitidos ex-resistentes--, lutei até o fim contra este ACORDO PODRE, INDIGNO E ALTAMENTE INSULTUOSO PARA NÓS, OS ANTIGOS RESISTENTES.

Foi este o motivo de me haver proposto como anticandidato. Tratou-se apenas de uma tentativa de fazer com que a esquerda se unisse em torno da exigência de um representante das vítimas.

Os algozes não poderiam mesmo estar representados, mas a igualação no veto só seria cabível em se tratando de grandezas equivalentes (aberração que só as viúvas da ditadura defendem, tentando encontrar uma atenuante para as atrocidades perpetradas). Ademais, aplicar a um processo de resgate histórico as regras de um tribunal é rematada tolice.

Sempre achei que o mais adequado para o papel fosse o Ivan Seixas, tanto que constantemente o indicava como uma ótima possibilidade.

Infelizmente, uma parte da esquerda preferiu desqualificar de fora a comissão, enquanto a outra parte, ou queria emplacar suas candidaturas (compatíveis com tal limitação), ou se alinha automaticamente com tudo que o governo faz.

Eu lutei como pude, por menores que fossem as chances de mudar o que já estava acordado; e, quando a infamia se consumou, bati pesado, como sempre faço.

É travando todas as lutas até o último cartucho que conseguimos vencer alguma, mesmo se todas as condições são desfavoráveis, como no Caso Battisti.

2 comentários:

Apelido disponível: Sala Fério disse...

Me diz então como se aprovaria a Comissão, que só poderia ser criada por lei, sem transigir de algum modo. O discurso radical é legal, mas esbarra no real. Entre o real e o radical não temos muita opção, já que o real é o que é, o que não pode ser superado de modo imediato só com a vontade ou desejo. Sonho é tornar o imaginário real - mas há uma diferença, um hiato entre os dois, que deve ser percebido, sob pena de se cair da cama ou dar de cara no muro (é força de expressão, pra tentar te explicar que nem tudo o que deixa de ser feito é por falta de vontade ou por se ter 'amolecido'.

celsolungaretti disse...

Simples: pegando pesado com a escória direitista. Pois poucos têm real consistência ideológica. A maioria (leia-se bancada evangélica) está lá para conseguir as benesses do poder e, secundariamente, fazer um marketingzinho para mostrar serviço ao rebanho.

Então, ameaçando cortar algumas dessas benesses, daria, sim, para aprovar a Lei da Comissão da Verdade sem incluir aquele vergonhoso artigo 2º.

O que faltou mesmo foi vontade política. Até porque a Dilma há muito tempo deixou de se identificar conosco. Identifica-se mesmo é com os schoolars e a esquerda chique à qual entregou as sete cadeiras.

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