Passei 1968 inteiro fazendo movimento estudantil. Distribuía panfletos, participava de assembléias e passeatas, parei meu colégio, estive na primeira ocupação de faculdade em SP, tive de correr da polícia algumas vezes, fazia reuniões com os novos recrutas, dava-lhes cursos de marxismo e os levava para assistirem a filmes educativos tipo Os Companheiros do Mario Monicelli, etc.
Foi, no mínimo, pitoresco unir as pontas da vida, voltando a fazer aos 61 anos o que fazia no comecinho da jornada. Volver a los 17 después de vivir un siglo...
Nesta 6ª feira (11), ajudei a companheirada do PSOL a distribuír folhetos e discursar com megafone na esquina da avenida Paulista com a rua Augusta.
Foi um protesto contra o caos no transporte público da cidade --"O metrô é de lata, mas o povo não é sardinha"--, daí ter sido realizado próximo a uma entrada do Metrô Consolação, do meio-dia em diante.
Não gostei do mastro flexível em demasia da bandeira, verga com o vento, tornando difícil o manejo.
Já a idade me favorecia na panfletagem: muitos transeuntes apressados,
depois de esquivarem-se dos companheiros mais jovens, ficavam sem graça
de dizer não a um senhor grisalho. Dei boa contribuição para que o
estoque de folhetos zerasse em pouco mais de uma hora.
Fiquei um tanto desacorçoado ao falar para um público que não queria me ouvir. Desacostumei-me a isto. Mas, macacos velhos, eu e os outros oradores nos desincumbimos razoavelmente da tarefa.
O deputado Carlos Giannazi, escolhido na pré-convenção do PSOL para ser o candidato a prefeito da capital, também enfrentou dignamente a indiferença da grande maioria dos que passavam.
Lembrei-me de um trecho marcante da obra-prima de Sergio Leone, Era uma vez na América: o gângster que almeja ser chefão do crime organizado (James Woods) recrimina seu sócio (Robert De Niro) por continuar sendo pouco ambicioso, um "bandidinho de rua". Ao que este responde: "É assim que quero ser, as ruas me dão tesão".
Era como me sentia no jornalismo. Ao contrário dos colegas que tudo faziam para ascenderem à posição de editores, chefes de reportagem, articulistas, editorialistas, críticos, etc., eu nunca deixei totalmente de ser repórter. Mesmo exercendo as ditas funções mais elevadas, dava um jeito de, vez por outra, ir buscar a notícia onde ela brota. Não me conformava em ser tão somente um burocrata de redação, processando a informação que outros colhiam.
Mais estranho no ninho ainda me sentia nos gabinetes do poder, o financeiro e o político. Adotava postura seca e profissional, fechando a porta a qualquer aproximação dos poderosos. E, olhando para trás, não lamento nenhuma das chances que descartei. Tinha talento suficiente para que quisessem me cooptar, mas preferiria virar mendigo a tornar-me igual a eles.
As ruas me dão tesão. Até hoje.
Foi, no mínimo, pitoresco unir as pontas da vida, voltando a fazer aos 61 anos o que fazia no comecinho da jornada. Volver a los 17 después de vivir un siglo...
Nesta 6ª feira (11), ajudei a companheirada do PSOL a distribuír folhetos e discursar com megafone na esquina da avenida Paulista com a rua Augusta.
Foi um protesto contra o caos no transporte público da cidade --"O metrô é de lata, mas o povo não é sardinha"--, daí ter sido realizado próximo a uma entrada do Metrô Consolação, do meio-dia em diante.
Não gostei do mastro flexível em demasia da bandeira, verga com o vento, tornando difícil o manejo.
Fiquei um tanto desacorçoado ao falar para um público que não queria me ouvir. Desacostumei-me a isto. Mas, macacos velhos, eu e os outros oradores nos desincumbimos razoavelmente da tarefa.
O deputado Carlos Giannazi, escolhido na pré-convenção do PSOL para ser o candidato a prefeito da capital, também enfrentou dignamente a indiferença da grande maioria dos que passavam.
Lembrei-me de um trecho marcante da obra-prima de Sergio Leone, Era uma vez na América: o gângster que almeja ser chefão do crime organizado (James Woods) recrimina seu sócio (Robert De Niro) por continuar sendo pouco ambicioso, um "bandidinho de rua". Ao que este responde: "É assim que quero ser, as ruas me dão tesão".
Era como me sentia no jornalismo. Ao contrário dos colegas que tudo faziam para ascenderem à posição de editores, chefes de reportagem, articulistas, editorialistas, críticos, etc., eu nunca deixei totalmente de ser repórter. Mesmo exercendo as ditas funções mais elevadas, dava um jeito de, vez por outra, ir buscar a notícia onde ela brota. Não me conformava em ser tão somente um burocrata de redação, processando a informação que outros colhiam.
Mais estranho no ninho ainda me sentia nos gabinetes do poder, o financeiro e o político. Adotava postura seca e profissional, fechando a porta a qualquer aproximação dos poderosos. E, olhando para trás, não lamento nenhuma das chances que descartei. Tinha talento suficiente para que quisessem me cooptar, mas preferiria virar mendigo a tornar-me igual a eles.
As ruas me dão tesão. Até hoje.
Um comentário:
Apenas o seguinte:
A MIM, TAMBÉM!
Parabéns por mais este artigo.
Maria do Rocio - Curitiba/Pr.
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