O inusitado era a figura da mulher, uma idosa simpática e robusta, com ânimo invejável. Voz forte e calorosa. Gestos desinibidos, espalhafatosos. Jeitão de quem lidava ou lidara com as artes.
Simpatizei muito com ela. Mas, não tinha, nem de longe, a forma de ser e o discurso de quem apoiava a luta armada. Conseguia imaginá-la em passeatas, nunca na resistência clandestina.
Por mera curiosidade --dela não tive um pingo de suspeita-- indaguei o motivo de ter decidido nos ajudar. A resposta me deixou arrepiado, foi algo mais ou menos assim:
"Meu tempo de discutir linhas políticas já passou. Agora, tenho de acreditar nos jovens e apoiar o que eles estão fazendo. Vocês são nossa única esperança".
É como me sinto em relação às manifestações de protesto contra antigos torturadores, articulados pela internet e levadas a cabo pelo movimento Levante Popular da Juventude em sete capitais brasileiras, nesta 2ª feira (26).
Carregamos o bastão há décadas, era mais do que tempo de passá-lo às novas gerações. Devemos encarar sua entrada na luta como sopro renovador, coroamento dos nossos esforços e estímulo para perseverarmos: sabemos agora que o sacrifício dos resistentes dos anos 60 e 70 continuará servindo de inspiração para os que travam o bom combate e que nossos mortos continuarão sendo honrados quando nós mesmos já não o pudermos fazer.
Então, deploro a rabugice de Ivo Herzog, diretor do Instituto Vladimir Herzog, que fez questão de rechaçar os invasores de sua praia numa declaração, pra lá de infeliz, que deu ao jornal da ditabranda:
Então, deploro a rabugice de Ivo Herzog, diretor do Instituto Vladimir Herzog, que fez questão de rechaçar os invasores de sua praia numa declaração, pra lá de infeliz, que deu ao jornal da ditabranda:
"Sou contra esse tipo de protesto. Quem tem que dizer quem torturou é o poder público. A sociedade deve se manifestar, mas pichar a calçada das pessoas é vandalismo".
Era exatamente o que o pessoal do PCB dizia de nós em 1968, quando tudo fazia para convencer sua militância a manter a compostura, não se misturando com baderneiros.
Acontece que o poder público vem se omitindo covardemente, vergonhosamente, repulsivamente, desde 1985. Agora mesmo, é patética a demora para serem definidos os membros e empossada a Comissão da Verdade.
Então, meu coração e meu teclado estão ao lado dos jovens manifestantes.
E vou rir muito quando eles se posicionarem diante do Clube Militar do RJ em pijamas, debochando desses golpistas de outrora que insistem em enaltecer até hoje o despotismo.
Também aí o poder público está sendo extremamente omisso. Nos países civilizados, quem exalta o nazismo e nega o Holocausto é merecidamente processado e chega a cumprir pena de prisão.
Aqui se permite que glorifiquem quarteladas, façam apologia do terrorismo de estado e achincalhem heróicos resistentes com a maior sem cerimônia.
2 comentários:
Meu querido camarada e amigo combatente sempre, Faço minhas suas palavras. Ontem no meu Blog noticiei quase em primeira mão os protestos destes jovens destemidos em São Paulo e Belo Horizonte. Tivesse eu condições fisicas, com certeza estaria lá ao lado deles. Este governo de uma ex-guerrilheira precisa urgentemente criar CORAGEM e enfrentar estas e outras questões que estão na ORDEM DO DIA e o governo vacila ou ignora. CORAGEM PRESIDENTE DILMA!! Vamos a luta que sempre é tempo!!
Senti a mesma emoção e confiança, Celso. Enquanto governos, mídia, clubes militares et caterva ficam num trololó sem fim e amedrontado, os jovens tomaram a História nas mãos, sem ódio e sem medo.
Só mesmo a Juventude pode chacoalhar o panorama, fazer a sociedade indagar por que os torturadores e assassinos continuam impunes, se vivemos (?) num regime dmeocrático?
Finalmente não precisamos mais nos envergonhar tanto perante nossos irmãos argentinos, uruguaios e chilenos. Os jovens brasileiros estão em pé, conscientes e corajosos. Viva!
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