quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

CUBA NUMA SINUCA DE BICO: ITAMARATY AUTORIZA ENTRADA DA BLOGUEIRA

Para sair de uma sinuca dessas, só o
  lendário  Carne Frita (ver vídeo abaixo)...
Como eu venho dizendo desde o primeiro momento, fez-se uma tempestade em copo d'água acerca da viagem da blogueira Yoani Sánchez ao Brasil. Se as autoridades cubanas houvessem tido o bom senso de não atrapalharem um mero evento cultural (a estréia do documentário Conexão Cuba-Honduras, no próximo dia 10), seria apenas e tão somente uma noticia de pequena relevância, como tantas outras.

No entanto, negaram a Yoani Sánchez autorização para sair do país, esta apelou à presidente Dilma Rousseff, o senador Eduardo Suplicy acionou a Comissão de Relações Exteriores e o caso acabou assumindo proporções que não deveria nem precisava ter.

Agora o Itamaraty acaba de anunciar a concessão do visto de entrada a Yoani.

O ônus da intransigência foi esta sinuca de bico na qual Cuba se colocou: ou cede e dá o braço a torcer, ou não cede e cria um atrito totalmente desnecessário com um governo que lhe tem sido simpático.

Cuba causa muito mais mal a si mesma
do que Yoani seria capaz de lhe causar
Alguns criticarão a decisão da presidente Dilma Rousseff, sem atentarem para o fato de que era pra lá de previsível: depois de repudiar enfaticamente o apedrejamento de Sakineh Ashtiani e prometer que não relativizaria o respeito aos direitos humanos, o que mais ela poderia fazer? Desmoralizar-se na primeira  prova dos nove  a que seu discurso é submetido?

Falharam, isto sim, os diplomatas cubanos, que não souberam passar aos dirigentes do seu país um quadro mais realista do lado brasileiro do  imbroglio, deixando que perseverassem no erro.

O Carlos Lungarzo e eu temos sido atacados por assumirmos posição diferente da dos que se colocam incondicionalmente ao lado dos governos que lhes são simpáticos, mesmo quando estes estão viajando na maionese.

No criticado artigo Minha posição sobre a blogueira cubana (ver aqui), eu tentava justamente evitar que um episódio menor se tornasse um pomo da discórdia entre os dois países. Vale lembrar:
"...eu prefiro que a pressão [para autorizarem a viagem de Yoani] seja de esquerdistas autênticos (sem vezo autoritário) sobre o governo cubano. Não da presidente Dilma, do Senado, nem mesmo de parlamentares bem (Suplicy) ou mal intencionados.

Não é uma questão entre nações, mas sim de visões diferentes sobre como deve ser exercido o poder popular".
Moral da história: nem sempre os capachos, os bajuladores e os fanáticos são os que prestam o melhor serviço a quem tem de posicionar-se em situações delicadas. Foi o que os reis aprenderam da pior maneira possível, às vezes perdendo a coroa e até a cabeça no curso do aprendizado...

 Se você acha que a foto foi só um pretexto para eu
colocar este vídeo do Carne Frita... acertou em cheio!

5 comentários:

ismar disse...

eu adorava Cuba até este caso da Yoni. Para mim a Ilha está se tornando um país de M......com direito a ditadura militar troglodita (General Raul Castro) e tudo o mais. Estãos parecendo as ditaduras/militarizadas sul-americanas dos anos 60/70.

celsolungaretti disse...

O problema é que a dialética marxista parece ter saído de moda. Todo mundo está fazendo análises maniqueístas: ou Cuba é ótima, ou é péssima.

Nem uma coisa, nem outra. Temos de entender suas contradições e influir positivamente sobre ela, estimulando-a a respeitar o direito à divergência, até para tirar esta arma dos propagandistas burgueses.

Na minha opinião, personagens como Zapata, Wilman e Yoani passariam despercebidos se não fossem injustiçados. É Cuba quem lhes fornece os holofotes.

Se as autoridades fizessem o teste de simplesmente ignorarem a existência da Yoani por uns tempos, perceberiam que seu potencial de lhes criar problemas reais é infinitamente menor do que supõem.

Anônimo disse...

Celso, discordo de você. A presidenta Dilma errou ao não levar em consideração as implicações que a saída desta jovem poerá acarretar ao governo cubano e ao povo daquele país. O Brasil não tem o direito de se envolver em questões internas e, nesta caso, mais me parece uma atitude até demagógica do que propriamente um gesto merecedor de uma reflexão mais ampla.
Paulo Ribeiro

celsolungaretti disse...

Paulo,

figuras públicas são obrigadas a manter a coerência, caso contrário a incoerência lhes é atirada na cara por todos os adversários e inimigos, deixando-as numa posição indefensável.

Depois de tudo que falou sobre a Sakineh Ashtiane, a Dilma JAMAIS poderia omitir-se quando outra mulher sofre uma FLAGRANTE ARBITRARIEDADE e lhe endereça um apelo.

Uma frase que já virou meu bordão e poucos até hoje entenderam: A RUA É SEMPRE DE DUAS MÃOS.

Se eu não houvesse me posicionado contra a forma como os pugilistas cubanos foram sumariamente devolvidos a seu país, os reacionários teriam feito picadinho de mim nos debates sobre o Caso Battisti.

Alguns desinformados tentaram, e perderam o rebolado quando informei que eu e o Suplicy fomos os primeiros a criticar aqueles trâmites de afogadilho, sem respeitar a sistemática desses casos.

A embaixada cubana não fez o dever de casa, repito.

De resto, o "assunto interno" a que você se refere, se o foi alguma vez, deixou de sê-lo quando Cuba se opôs a que a Yoani comparecesse a um evento no Brasil e ela recorreu publicamente à Dilma.

Você supunha que a Dilma aceitaria ficar numa saia justa só para não criar um constrangimento para Cuba? EU TINHA CERTEZA ABSOLUTA QUE ELA NÃO O FARIA.

Ter trabalhado na imprensa governamental me ensinou a antecipar as reações dos políticos. Dificilmente erro.

Anônimo disse...

Penso que Cuba deve exportar a blogueira para o Brasil. E não permitir seu retorno à Ilha...
Ela certamente encontrará apoio entre os gusanos de Miami. Nos EUA, será apenas mais uma a esgoelar contra a revolução. Logo cairá no esquecimento.
Até Juanita Castro, por exemplo, raramente é lembrada, certo?

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