sábado, 17 de outubro de 2009

JACOBINOS À ESQUERDA E PIRATAS À DIREITA

Robespierre e Barba Negra ainda têm seguidores...

Segundo a Época, Hamas comemora e Israel rejeita aprovação do relatório Goldstone.

Eis a reação do Hamas:
"Taher al-Nunu, porta-voz do Hamas em Gaza, disse que o grupo agradece aos países que votaram a favor da aprovação do relatório. 'Damos as boas-vindas à arrasadora votação do relatório, que deve ser levado imediatamente ao tribunal internacional para crimes de guerra, a fim de que sejam processados os líderes da ocupação israelense por seus horrendos crimes', disse Nunu.

"O dirigente do Hamas Mahmoud Zahar disse à 'Al-Aqsa TV' – vinculada ao grupo islâmico palestino – que (...) o Hamas, inicialmente, rejeitou o relatório (...) 'porque igualava as vítimas com aos carrascos'.

"Porém, Zahar afirmou que, após a decisão desta sexta-feira (16), acredita que o relatório 'ofereça ao Hamas e à outra parte (Israel) a oportunidade de apresentar evidências e provas'. 'Pedimos a criação de um comitê independente que prepare a defesa de nossa posição', disse.
Eis a reação de Israel:
"...afirma um comunicado divulgado pelo Ministério de Assuntos Exteriores israelense... [tratar-se de uma] 'resolução injusta, que ignora os ataques assassinos cometidos pelo Hamas e por outras organizações terroristas contra civis israelenses'.

"'Esta resolução dá ânimo às organizações terroristas no mundo todo e menospreza a paz global', diz o documento israelense.

"Além disso, Israel adverte que 'continuará exercitando seu direito à defesa própria e de tomar ações para proteger as vidas de seus cidadãos'.
A última afirmação é a mais significativa: Israel hasteia a bandeira pirata e, arrogantemente, proclama que continuará ignorando a ONU, os tribunais internacionais e quaisquer instituições que se oponham ao primado da lei do mais forte.

Já não é nem mais o "olho por olho, dente por dente" dos tempos bíblicos que inspira o estado judeu, mas sim as práticas do homem de Neanderthal. Israel regrediu à mais primitiva barbárie.

FILHOS DE ROBESPIERRE

E este episódio é emblemático também para aferirmos quão miope e inconsequente é o posicionamento de uma pseudo-esquerda virtual, cuja inspiração nem de longe é o humanista Marx, que sonhou com um mundo no qual cada trabalhador pudesse desenvolver livremente suas potencialidades, tornando-se até grande pensador ou artista maior, pois estaria liberto dos grilhões da necessidade.

Não, eles são filhos de Robespierre, o cortador de cabeças. Trocam também a política, que pressupõe diálogo e concessões mútuas, pelas soluções de força. Exatamente como Israel, só que com o sinal trocado.

Então, tomando conhecimento da aprovação do relatório Goldstone, de imediato a avaliei como emblemática da rejeição cada vez maior da comunidade das nações aos genocídios e atrocidades israelenses.

E fiz um artigo para repercuti-lo, pois sabia que a imprensa subserviente a Israel lançaria fogo pesado contra o relatório, a ONU e a verdade histórica.

No Centro de Mídia Independente, entretanto, houve comentários ao meu artigo que ignoraram tudo que esse fato político trazia de positivo e só atentaram para o aspecto secundário de que a ação do Hamas também era recriminada. P. ex.:
"...a condenação ao partido do HAMAS, diga-se de passagem, eleito pelo POVO palestino só podia partir de uma organização que outrora se chamou 'liga das nações'.

"Digo e reafirmo, o Hamas Foi eleito e reeleito pelo nobre povo palestino!

"Aqueles que dizem que o Hamas é o culpado, ou provocador das mazelas do povo palestino, só repetem o discurso do opressor [grifo meu]".
Num apelo à racionalidade inexistente nesses (parafraseando Marcuse) homens unidimensionais de esquerda , expliquei:
"...o Relatório Goldstone não poderia omitir que as insensatas provocações do Hamas forneceram pretexto para o banho de sangue que Israel desencadeou. Caso contrário, ficaria exposto a acusações de parcialidade.

"Mas, o documento deixa bem claro que a culpa de cada lado é inversamente proporcional ao número de mortes: para cada israelense, 100 palestinos".
Em português tão tortuoso quanto a linha de raciocínio, veio a resposta:
"Quando se denuncia (sic) os crimes do Estado terrorista de Israel logo vêm (sic) a desculpa da existência do Hamas, ora, o Hamas só existe devido ao roubo das terras de seus legítimos donos, ou seja, os palestinos. Portanto, estes têm todo o direito de lutar contra os invasores sionistas, que com o apoio [grifo meu] da subserviente ONU, vêm ao longo do tempo cometendo todos os tipos de atrocidades e crimes de guerra... "
Cansado de tanta obtusidade, desabafei:
"O que está em causa não é o Hamas, É ISRAEL!

"O puxão de orelhas no Hamas era obrigatório, até porque não lhe cabia mesmo ficar disparando aqueles foguetes de baixo poder destrutivo mas muito dano político adverso (verdadeiros bumerangues!).

"Brincou com a vida dos palestinos e criou a situação que deu a Israel pretexto para massacrar os cidadãos do seu povo, incluindo velhos, mulheres e crianças.

"Mas o documento coloca muito mais peso nas acusações contra Israel, por ter retaliado de forma genocida, com uma reação exageradíssima em relação à ação.

"Temos mais é de aproveitar o principal dessa condenação para esclarecer as pessoas desinformadas, divulgando-a o máximo possível, ao invés de nos preocuparmos com o que foi secundário e sem verdadeira importância política.

"A direita sabe o que faz: tenta minimizá-la e colocá-la sob suspeição.

"Nós, não. Ficamos obcecados com uma única árvore e não percebemos a floresta por trás dela".
É, agora está oficialmente expresso, a avaliação que o próprio Hamas faz do relatório: de início o repudiou, mas depois caiu em si e percebeu que lhe proporcionava um enorme ganho moral e político.

Tanto que tudo fez para que fosse colocado o quanto antes em votação e agora agradece efusivamente aos países que garantiram sua aprovação.

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