quarta-feira, 14 de outubro de 2009

CARAVANA ELEITOREIRA VISITA MARACUTAIA DO SÃO FRANCISCO

Quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comanda caravana eleitoreira de visita às obras de transposição do rio São Francisco, vale lembrarmos as duas greves de fome com que o bispo de Barra (BH), Luiz Flávio Cappio, tentou evitar a concretização desse projeto de incremento do agronegócio às expensas do Erário e com graves danos ecológicos.

Foram 11 dias de jejum solidário em 2005, interrompidos por promessa não-cumprida pelo Governo Federal de abrir um verdadeiro diálogo sobre a obra; e 24 dias em 2007, quando D. Cappio acabou cedendo às recomendações médicas, face aos riscos reais de vida que estava correndo, sob os olhares indiferentes dos que chegaram ao poder nos braços do povo e hoje priorizam os interesses do capital.

Fiz quatro textos sobre a cruzada de D. Cappio em dezembro/2007: Lula vai mirar-se em Cristo ou Pilatos?, Senhor Deus dos Desgraçados, Carta aberta ao presidente Lula e O rescaldo da greve de fome.

Estão entre aqueles de que mais me orgulho, nesta melancólica década em que tantos e tantos de nossos companheiros do passado trocaram os ideais pelas conveniências, postergando indefinidamente as lutas pelo estabelecimento de uma sociedade sem classes, que deveriam nortear todas as ações dos revolucionários.

Para sintetizar, podemos formar um quadro sobre o projeto a partir de trechos desses artigos que até hoje permanecem válidos:
"O governo se tornou a voz de um pequeno grupo da elite e, infelizmente, o presidente Lula se tornou refém do capital internacional" (D. Cappio)

“...essa água não é para 12 milhões de pessoas, é para pequenos grupos do capital” (D. Cappio)

"...a transposição vai ter impacto extremamente negativo sobre o rio São Francisco (que já está fragilizado e necessitando de urgente revitalização) ao levar suas águas para os grandes açudes do Nordeste, com a principal finalidade de favorecer empreendimentos privados".

"...pela metade do custo, poderia ser implementados projetos como o da Agência Nacional de Águas, para beneficiar os 32 milhões de habitantes de mais de mil municípios; e as obras da Articulação do Semi-árido Brasileiro, voltadas para outros 10 milhões".

"A arrogância com que o Governo Federal trata as vozes dissonantes é uma confissão involuntária de que seu projeto não sobreviveria a um debate franco".

"Cidadãos de reconhecida competência e credibilidade apontam falhas de todo tipo: concepção equivocada, relação custo/benefício muitíssimo pior que a de projetos alternativos, danos ecológicos que podem se tornar catastróficos. Por que tanta insistência, a ponto de tocar a obra com soldados, evocando os tempos sinistros da ditadura militar?"
E, do site da Comissão Pastoral da Terra, vale reproduzir algumas avaliações que o sociólogo Rubem Siqueira faz hoje do projeto:
"Não há nenhuma preocupação com a quantidade da água. O São Francisco está perdendo vazão... a revitalização que o governo alardeia não está acontecendo, e o rio continua em seu processo de degradação.

"...poucas estações de esgoto estão sendo projetadas, pois são caras, mas são elas que devolvem ao rio a água limpa. (...) Em alguns casos, vimos que aumentou o esgoto lançado no rio e não o esgoto tratado. Mas a grande questão é ainda a quantidade da água. Saíram agora estudos de climatologia dizendo que, entre os rios do mundo, na América do Sul, o São Francisco foi o rio que mais perdeu água. Perdeu 35% de vazão nos últimos 50 anos. (...) É um rio com todas as evidências de um quadro hídrico crítico, no entanto, o governo continua com esses projetos que privilegiam a produção de cana-de-açúcar para etanol em toda a bacia do São Francisco.

"...semiárido brasileiro (...) é uma região, entre os semiáridos do mundo, que mais concentrou água, que mais fez açudes. São 70 mil açudes. Há açudes que têm seis bilhões de metros cúbicos de água. São grandes cemitérios de água, porque essas águas estão lá e não estão sendo usadas, ou são usadas pelos grandes latifundiários. Para que, então, exportar água? Alguns falam que a transposição dará segurança hídrica às águas do nordeste. Mas nós perguntamos: aumentar a oferta hídrica para quem? Para fazer o que? A que custo? Qual o desenvolvimento que está por trás da transposição? Esse debate não está sendo feito. Essa água acumulada, por lei, deve ser acessível à população do árido, mas não é.

"Volta e meia, o Tribunal de Contas da União pública divulga relatórios, mostrando que, nas obras da transposição, têm ocorrido ilegalidades e indícios de corrupção. Na região, houve uma expectativa muito grande de empregos que não se concretizaram ainda. Há problemas de prostituição com esse pessoal que vem para o trabalho concreto, além do desmatamento nas regiões 'beneficiárias'. Algumas famílias de camponeses já foram desapropriadas e indenizadas, com isso, a produção de alimentos caiu. Isso significa fome, sede. Há uma insegurança na população. Esses são os impactos iniciais".

10 comentários:

Anônimo disse...

Que exagero! Talvez com o Serra as coisas melhorem. Ou com a Marina e seus "novos companheiros".

celsolungaretti disse...

Sou revolucionário, portanto não dou importância à escolha de quem gerirá o estado burguês.

Tivemos dois governos tucanos, em seguida sete anos de PT e a política econômica permaneceu a mesmíssima: aquela que os banqueiros e o grande capital impõem.

Então, em 2010 procederei exatamente como em 2008: não tomarei partido e só criticarei os candidatos pertencentes/originários do campo da esquerda quando negarem valores fundamentais do marxismo e/ou do anarquismo.

Do tiroteio eleitoral estarei fora, porque não perco tempo com irrelevâncias.

Anônimo disse...

Irrelevâncias. Não consegui me identificar no post anterior. Sou médico formado na Escola Paulista de Medicina em 1980. Vivi em SP em plena ditadura, embora ainda muito jovem no auge das exceções. Hoje sou um profissional bem sucedido no interior do PR e, quase aos 54 anos, trabalho em exagero. Poderia, com o que ganho, estar omisso em relação a política nacional ou optar por apoiar candidatos demo-tucanos e seus apêndices como PPS. Acompanho com interesse suas opiniões, inclusive no OI e respeito esse seu posicionamento neste post, mas, desculpa-me: fica muito cômodo discutir política no modo samba-de-uma-nota-só, quando num governo Lula, populista ou não, muitos benefícios sociais foram obtidos e teve que seguir uma política econômica mundial praticamente obrigatória em termos de governabilidade. Mesmo assim assistimos uma verdadeira guerra da mídia, principalmente a paulista, contra o governo tentando impor ideais de direita e, infelizmente, a classe média, principalmente os que não viveram (ou sofreram) os anos de chumbo, apoiam golpes de modo tão explícito como o de Honduras, fazem humor à la CQC, claramente de direita, divertem-se com falta de diploma e os erros de portugues do Lula. Não consigo ignorar tudo isso e ficar omisso. O tiroteio eleitoral será inevitável e teremos que ter estômago para encarar Agripinos, Álvaros, Virgílios. Ou ter que assistir a Marina compromissada desde já com o que há de mais sórdido na política. Talvez seja mais confortável fugir disso e, vença quem vencer, a vida continua e, no meu caso, por enquanto, com muito trabalho e conquistas materiais. Quanto à ao Rio São Francisco, somente o tempo dirá quem tem razão. Nesse caso específico, a maracutaia do São Francisco pode ser uma realidade nos próximos anos. Ou ser a salvação para os que vivem e sofrem diuturnamente com a seca. E nem tem computadores para se manifestarem. Abraço cordial. PEDRO PESSOA TARDELLI - Goioerê/ PR

Anônimo disse...

Ainda bem!

celsolungaretti disse...

Pedro, a opção continua sendo entre reforma e revolução.

O capitalismo desperdiça criminosamente o potencial hoje existente para proporcionarmos uma existência digna a cada habitante do planeta.

Os reformistas defendem os interesses do grande capital no atacado e dão algumas esmolas aos pobres no varejo, suficientes para comprar vitórias eleitorais.

Então, continuo com os valores da minha geração de revolucionários: o que define realmente os governos é sua política econômica.

A do Lula é a mesmíssima do FHC.

Enquanto não mudar, que defendam esse governo seus maiores beneficiários: Itaú, Bradesco e que tais.

Eu prefiro continuar onde sempre estive: combatendo os banqueiros.

Anônimo disse...

Você ainda está naquela "se hay gobierno soy contra". Vamos dar um tempo para ver se Lula está sendo sincero? Para quem teve uma experiência de vida como a dele, acho que merece nossa confiança. Se vc militou em guerrilha (escondido) enquanto Lula dava a cara dele para levar tapa, acho que mais coragem foi a dele.

celsolungaretti disse...

Mas, eu acredito piamente na sinceridade do Lula, principalmente quando ele renega as posturas esquerdistas do passado e diz que só desmiolados continuam revolucionários aos 60 anos...

Então, ele se coloca sinceramente como reformista, tanto nas afirmações quanto nas ações.

E eu não dou crédito de confiança nenhum a reformistas assumidos, lamento. Para mim o capitalismo é caso perdido: criminoso, perverso, nocivo à humanidade e até uma ameaça à sobrevivência da espécie humana.

Quanto a comparar tamanho de pênis, é algo que a gente só faz na infância.

Mas, como o Lula ousou hoje menosprezar D. Flávio Cappio, eu lembraria que o bispo, já sexagenário, sustentou uma greve de fome por 24 dias.

Nosso presidente, quando tinha 34 anos e estava na plenitude de suas forças, cravou o recorde negativo de seis dias.

Conseguiu ficar atrás até do patético Anthony Garotinho, que aguentou 11 dias.

Um pouco de simancol ao discursar lhe faria bem.

Anônimo disse...

Não tem como deixar de respeitar seus ideais. Continuo acompanhando com interesse seu blog. Abração. Pedro P. Tardelli.

Anônimo disse...

Parabéns Pedro Tardelli....
é isso aí!

Anônimo disse...

Desde o Império se discute a transposição de águas do São Francisco como solução para a seca do nordeste.
Governos e mais governos abordavam o temo, ficando o assunto só em palavras.
Quando um presidente transforma o discurso em ato, vêm os falsos defensores do meio ambiente, dos indígenas, dos pobres nordestinos...codenando aquilo que será a redenção de mais de 12 milhoes de pessoas, sob o falso argumento de que as águas transpostas só servirão aos interesses dos grandes produtores.
Nada mais falacioso esse falto argumento: se as águas servirão aos grandes produtores, também servirão aos pequenos. Ou está proibido os pequenos se servirem daquelas águas?
OUTRA FALÁCIA dos que são contra a transposição: o Velho Chico está morrendo e não pode perder as águas que lhe estão tirando.
Ora, só estão sendo usados 1,4% das águas que demandam diretamente ao mar, sem prejuízo algum para ninguém.
Quanto ao BISPO GREVISTA, fica aqui um registro: a Igreja Católica é sabidamente favorável à continuidade da miséria do povo, para que os miseráveis continuem fazendo procissões com pedras na cabeça pedindo chuva e, quando a chuva vem, voltando ao local para agradecer o santo milagroso, deixando ali suas parcas economias para a Igreja.
Esta é a verdade nua e crua.
EM TEMPO: sou católico e fui educado em seminário franciscano.
GILSON RASLAN - Jaru/RO

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